quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Um soneto de Tomás Pinto Brandão (1664-1743)


Queixam-se todos os defuntos, que houve na Epidemia, que padeceu Lisboa, no ano de 1723.

Nós abaixo assinados pela terra,
Chamamos, de quem em tanta mortandade
Não tenha entrado Médico, nem Frade;
E que só faça a morte aos pobres guerra!

Dirá a morte, que pouco, ou nada erra,
Em desviar de toda a enfermidade
A dous, que são da sua faculdade;
Porque o Médico mata, e o Frade enterra:

Replicamos; que as tumbas com frequências,
Andam cá por estreitos pecadores,
Sem subirem às largas consciências:

Dirá também, que os tais são matadores;
E é preciso, que tenha dependências
A morte com Ministros, e Senhores.

Nota: procedeu-se a pequenas actualizações ortográficas. O soneto pertence a "Pinto Renascido..."(1733), livro já aqui no blogue, anteriormente, referenciado.

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