sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Bach via Jacques Loussier


Não posso deixar de pensar na expressão "não dá a bota com a perdigota", ao ver, neste vídeo, a música de Bach (Pequena Fuga) associada à pintura de Klimt. Ambas de grande qualidade, mas sem a mínima ligação, uma com a outra. Incoerência naïf, enfim, ou novo-riquismo estético...

Os erres na Educação


Muito provavelmente, a última grande tentativa europeia de reformulação do sistema educativo, terá sido projectada, em França, pelo primeiro-ministro Pierre Mauroy (1928-2013), durante o consulado Mittérrand. Mas o lobby do Ensino particular sempre foi poderosíssimo, em qualquer país. Quando Mauroy decidiu retirar subsídios ao Ensino privado francês, para reforçar o Ensino público, a contestação foi de tal ordem, que o seu Ministério caíu. Mitérrand perdeu a face, demitiu-o, mas manteve a Presidência, até ao fim. Florentinamente, que os políticos não podem ser ingénuos.
Em Portugal, quase ninguém demite ministros, depois de Salazar. Ou eles se demitem, ou então mantém-se até ao fim, mesmo que sejam mentirosos, desastrados nas declarações, corruptos, ou de uma mediocridade assustadora.
O Prior do Crato, ao que parece, teve uma educação esmerada, mas perdeu-se em Alcântara (onde também entra o erre). O matemático Crato (com erre, também) não é burro (mais 2 erres) e, por isso talvez, ao inverso de Mauroy, preferiu enfraquecer o Ensino público, para fortalecer o privado. Quem sabe se um reitorado (mais um erre), com mordomias muito compensadoras, não espera por ele, quando este inenarrável (mais 2 erres) governo acabar, de forma a retribuir-lhe este seu acto tão clarividente e generoso?...

com agradecimentos a AVP.

Citações CLIX


Há três espécies de ingratos: os que esquecem o benefício, os que se fazem pagar e os que se vingam dele.

Santiago Ramón y Cajal (1852-1934).

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

David e Golias


Pouco passava das 17h00, já declinava o Sol, e uma nuvem de estorninhos entrou perdidamente, em pios estouvados e alegres, para o interior da frondosa ramaria da Ficus, ficus gigantesca que é, de longe, a árvore de maior porte que existe pelo Chiado e arredores. E nunca mais os vi, embora continuasse a ouvi-los.
De rapina, por estas bandas, só de longe a longe se avista algum peneireiro-das-torres afoito, que sobrevoa do alto o casario. E, destes, os estorninhos nada têm a temer. Até porque a águia-careca, retintamente americana, que surge na espectacular fotografia de Rob Palmer, foi no Colorado que atacou o pobre e indefeso estorninho.
E, ao contrário da Bíblia, quem venceu foi o Golias...

Um cordial obrigado a A. de A. M.

Joseph Haydn (1732-1809) : da Sinfonia nº 6 ( A Manhã )

Adagiário CLXIII : ditados brasileiros


Em muitos casos, um adágio numa língua ou país tem correspondência aproximada, nos outros, com pequenas variantes ou significado idêntico. Não me parece ser o caso, porém, dos três provérbios brasileiros seguintes, de que não conheço equivalentes portugueses. Ei-los:

1. Em briga de branco, preto não entra.
2. Em capoeira de sertão não se planta maxixe.
3. Em casa de maribondo, não se mexe com vara curta.

Nota: maxixe é uma espécie de curcubitácea e maribondo um tipo de vespa.

com agradecimentos a A. de A. M.

Para os nossos leitores, em primeira mão III (epílogo)


Em sequência dos dois postes anteriores de HMJ, sobre as cerca de 1.500 pinturas descobertas na casa de Cornelius Gurlitt, perto de Munique, venho acrescentar a imagem de mais uma tela, desta vez, de Franz Marc (1880-1916), pintor influente do expressionismo alemão. Que muito aprecio.
Que uma obra, como esta, tenha sido considerada "arte degenerada", é um facto que me deixa incrédulo e pasmado, mesmo que a formatação de gosto e o mainstream dos nossos dias, nem sempre muito subtil mas disfarçado de liberal, seja uma presença obsessiva e asfixiante. A que só uma pequena e "imensa minoria" ( J. R. Jimenez) consegue escapar...

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Apontamento 28: Uma manhã, acolhedora, na Câmara Municipal de Lisboa



O programa da manhã estava decidido, ir ver a exposição dedicada a Raul Rêgo, na CML, e comprar o catálogo. Assim foi. Pelas dez da manhã apreciei as fotos, os textos e os objectos, nomeadamente os livros, sozinha, sem vivalma. Óptimo !
Estava longe de pensar que o resto seria a “apagada e vil tristeza” que determinados funcionários teimam em exibir nas suas funções públicas. Começa com uma caminhada de “sísifo” para comprar o catálogo. Não havendo ninguém na mesa à entrada da exposição, dirigi-me ao gabinete em frente. Estavam três funcionários e um agente da autoridade. Perguntei pelo catálogo e recebi a seguinte resposta, deveras esclarecedora: “Pois, a colega da exposição ainda não chegou. Temos aqui o catálogo, mas não podemos mexer. Não pode vir noutro dia ?” E o “Senhor Guarda” acrescenta, com o seu tom de autoridade: “não, não se pode mexer !” Ainda me sugeriram para deixar o contacto para enviar o catálogo “à cobrança”. A colega da exposição, ao que parece de um organismo estranho à edilidade, i.e., a Hemeroteca, chegaria às 10.30 ou 11.00 horas ?
A senhora das “Relações Públicas”, que me recebeu, tinha uns modos algo familiares para com uma estranha e o “Senhor Guarda” estaria, porventura, melhor no espaço da exposição do que encostado ao balcão a conversar com os três funcionários.
Para fazer horas, resolvi entrar num espaço, igualmente acolhedor, ou seja, o Turismo de Lisboa, mesmo ao lado. Ao entrar, estava uma menina a sair. Em vez de me deixar entrar primeiro, forçou a saída e levei um raspanete: “Então, tem que me deixar sair primeiro !” Ora toma, para quem acha já ter idade e estatuto para ser respeitado!
Pouco passava das 11.00 horas quando voltei a entrar nos Paços do Concelho para, finalmente, adquirir o Catálogo. No meio de uma conversa telefónica da funcionária, recebi o catálogo e paguei, aguardando o fim do dito telefonema particular para pedir o recibo. Não havia, tive que deixar a identificação para ser enviado pelo correio (!), porque, segundo a explicação da funcionária, apenas uma vez por semana o responsável passa recibos. 
De resto, foi uma manhã agradável. A Praça do Município, a exposição, a bela luz de Lisboa com vista para o Tejo e, finalmente, com o catálogo na mão.
De facto, não gostava de ser “chefe de turma” de semelhante gente !

Post de HMJ

Comic Relief (78)


Sem grande rigor, este vídeo poderia ter cabimento na rubrica Mercearias Finas, não fora a quantidade de peripécias menos nobres, no interior da Cozinha, que antecedem a refeição do grupo de gastrónomos.
Mas talvez valha a pena lembrar que, no Porto, uma das mais conceituadas lojas-tascas-restaurantes, onde se podem comprar magníficos enchidos de fumeiro, ou comer uma apetitosa sande de presunto, dá pelo saboroso nome de "Badalhoca"...

Bibliofilia 90


É, provavelmente, a gralha maior que atingiu os prelos portugueses, no que diz respeito a livros de poesia, este "Orbas" (sic), de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), impresso em Coimbra, no ano de 1768, na Officina de Luiz Secco Ferreira. O facto não abona, em nada, o profissionalismo e cuidado deste impressor conimbricense.
Muito pouco estudado em Portugal, embora Vitorino Nemésio lhe tenha dedicado um pequeno ensaio (Bertrand), seguido de uma antologia, este poeta, nascido no Brasil, ao que julgo, nunca mais terá sido reeditado, por cá. Diferentemente do Brasil, até porque a sua morte, na prisão, por pertencer à Inconfidência Mineira, nunca foi devidamente esclarecida (Assassinato? Suicídio?), e ainda hoje provoca controvérsia.
O exemplar da minha biblioteca foi comprado em meados dos anos 80, por Esc. 2.800$00. O preço não elevado, uma vez que o livro não é frequente, deve-se ao facto de lhe faltar o frontispício, que foi substituído por uma fotocópia (a imagem, neste poste, reproduz o frontispício do exemplar da BNP).
No recente leilão de Pedro de Azevedo, aqui anunciado, havia um exemplar (lote 215) semelhante, mas com a folha de rosto original. Tinha uma estimativa de venda entre 100 e 200 euros.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Ainda um haikai de Outono


Braços cruzados
medita a Primavera
sobre a veloz amargura das raízes.

Fuyuno Niji (1943-2002)

Para os nossos leitores, em primeira mão II


O tal "achado" de obras de arte, descoberto recentemente na Alemanha, continua a dar notícias, e também, a pouco e pouco, vão surgindo mais imagens. Ao que consta, as obras ficarão registadas num banco de dados, chamado "lost.art", que não consultei. Escolhi, entre 25, três imagens que me agradaram, por motivos diversos, e que vou partilhar.


Otto Griebel

Para além da criancinha, gostei do casal à janela.


Wilhelm Lachnit

Por fim, resolvi juntar o eléctrico, porque me fez lembrar o "nosso" 28.


Bernhard Kretzschmar

Post de HMJ

Retro (38)


Quando, folheando uma revista, deparei com este reclamo de 1933, talvez a despropósito, lembrei-me da camoniana e bela canção que começa: Vinde cá, meu tão certo secretário...
Porque, arrumadas cuidadosamente, tenho ainda duas máquinas de escrever, de boa recordação, mas que já não uso há anos. Da Remington portátil fiz-lhe uso intenso mais de 30 anos. Mas iniciei-me, laboriosamente, numa antiquíssima Smith Premier (Syracuse, U. S. A.), ainda com duplo teclado (maiúsculas e minúsculas), que, nas palavras de um conhecedor, terá sido a segunda marca de máquinas de escrever importada para Portugal. Quase uma peça de museu, portanto.
Como, aliás, serão todas as máquinas de escrever, hoje em dia...

Uma travessa VA


O último post de Maria A., datado de 4.11., sobre os "Garibaldi" da Vista Alegre, fez-me recordar uma travessa. 


Não sendo, certamente, tão antiga como o serviço de chá, reproduzido no referido post, a travessa parece ser do mesmo desenho, com selo VA a azul e o nº 30 gravado.


O desenho será de uma rosa ou de uma peónia ? Tenho dúvidas.

Post de HMJ, dedicado a maria a.

Revivalismo Ligeiro LXXIX : Aguaviva

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Quatro anos


Não fora um grande Amigo meu ter-mo lembrado, e eu teria esquecido que o Arpose faz, hoje, 4 anos.
É tarde para celebrar exuberante e condignamente a efeméride que, no ciberespaço, é um ápice e um nada.
Limitar-me-ei, por isso, a usar a primeira imagem que pus no Blogue, a 11 de Novembro de 2009, e com ela desejar: Boa noite! A quem nos visita.

Divagações 58


Por convicção inconsciente, muitas vezes e de forma quase automática, mudo, nas fruteiras, a posição dos frutos (pêssegos, morangos, maçãs, laranjas e figos, sobretudo), na secreta esperança de que não fiquem pisados ou apodreçam mais depressa, por força do peso que suportam, sempre do mesmo lado. E volto a virá-los, se ainda lá estão, passados dois ou três dias. Crenças...
Entre os milhões de apaixonados pelo futebol, transversais no Mundo, e o concentrado amor do cientista que se dedica ao estudo do Peixe-zebra (Brachydanio rerio), mesmo depois de descodificado o seu genoma, vai a diferença de um número infinito. Creio que, de momento, há cerca de 10 pessoas a investigar o comportamento e genoma do referido e pequeno peixe. Afunilamentos...
Não me posso esquecer de um tal sr. Martins, vimaranense e dono de duas florescentes cervejarias, que, sempre que o Vitória de Guimarães perdia, em casa, se encerrava no seu quarto de janelas fechadas, após a derrota, e se enfiava na cama. E lá ficava, isolado e silencioso, até se levantar para ir trabalhar, na manhã da terça-feira seguinte. Paixões...
Este hábito era bem conhecido na cidade, mas nunca comentado - respeitavam a atitude.
Qualquer dos exemplos me parece, abstractamente, uma forma de solidão. Muito embora me venha à memória uma frase, dita em 1964, por uma francesa muito jovem, para classificar uma atitude que ela achava absurda ou estranha. "Ce n'est pas amour, c'est rage!..."

A par e passo 65


Se eu sou francês, sê-lo-ei até ao ponto em que o meu pensamento se constrói e fala a si mesmo em francês, e segundo as possibilidades instrumentais da língua francesa. Este idioma tem as suas virtudes e os seus vícios (relativos): ele não dá licença de compor palavras; abunda em restrições; e é bastante pobre naquilo que diz respeito ao vocabulário psicológico. Ora, aquele que pensa numa determinada língua persegue, de expressão em expressão, uma satisfação íntima que ele espera de cada uma das expressões; mas estas, quaisquer que elas sejam, terão de estar conformes às exigências deste idioma, modificadas pelas suas singularidades, subordinadas às suas seduções.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pg. 223).

Um fado para o dia de S. Martinho


Os trabalhos de tradução


Margaret Jull Costa (1949) é justamente reconhecida, na Inglaterra, pela qualidade das suas traduções, sobretudo do português (Eça, Pessoa, Lobo Antunes, Lídia Jorge...) e do castelhano. Há pouco tempo, foi galardoada com o Oxford-Widenfeld Translation Prize, pela sua versão para a língua inglesa de "A Viagem do Elefante", de José Saramago.
Numa recente recensão crítica no TLS (nº 5770), aborda a sua própria experiência, ao longo dos últimos anos, mas também a de alguns colegas que, com acutilância, definiram as questões principais, as condições necessárias e o perfil de um tradutor rigoroso. Bernard Turle, por exemplo, refere que um tradutor terá de ser, simultâneamente: "um diplomata, actor, tradutor e espião".
Por sua vez, M. J. Costa cita e admira a perspicácia de Simon Leys, outro competente tradutor, que caracteriza a tradução desta forma: "A busca da expressão exacta e natural é a procura por aquilo (texto) que não mais pareça uma mera tradução. Por isso lhe é pedido que dê ao leitor a ilusão de que ele teve acesso ao texto original. O tradutor ideal é um homem invisível."

Adagiário CLXII


Pelo S. Martinho, prova teu vinho; ao cabo do ano, já te não faz dano.

domingo, 10 de novembro de 2013

Omar Bashir Ensemble


Refeiçoar


Dos come-em-pé, dos anos 70, e da fast-food, que nos vieram em mau costume do outro lado do Atlântico, até à frugal, mas substancial e mediterrânica, sopa da crise que, muitos, também comem de pé, vai um longo caminho anterior. Dos copos de água casamenteiros e refeições régias com pratos inúmeros e intermináveis, não falarei, mas vou falar de Ziryab (789-857), que terá nascido em Bagdad, mas morreu em Córdova, cercado de respeito e afecto.
Tinha um nome comprido, Abu al Hasan ou Ali ibn Nafi, mas era conhecido, apenas, por Ziryab, que, em árabe significa melro, devido a sua bela voz e à tez escura. Foi ele que estabeleceu, baseado em normas orientais, que uma refeição deveria ser constituída por sopa, um prato (peixe ou carne) e sobremesa. Devido a ele, também, foram sendo substituídos, no Califado de Córdova - para onde veio, do Iraque -, os pesados copos de ouro e prata, por copos de cristal.
Ziryab, além de bom cantor, era um excelente músico, tendo acrescentado uma quinta corda ao alaúde, alargando-lhe assim a sonoridade. Também formou uma escola de música, em Córdova, onde ricos e pobres podiam aprender. E era um árbitro de elegância, no vestir e no cuidar. Terá sido ele que introduziu a depilação no Ocidente.
Nos 35 anos, dado que chegou a Córdova por volta de 822, que passou na antiga Espanha, Ziryab transformou muita coisa nos hábitos europeus. Mesmo assim, hoje, é pouco conhecido.

sábado, 9 de novembro de 2013

De Luis de Camões, um soneto


Conversação doméstica afeiçoa,
ora em forma de boa e sã vontade,
ora de uma amorosa piedade,
sem olhar qualidade de pessoa.

Se depois, porventura, vos magoa
com desamor e pouca lealdade,
logo vos faz mentira da verdade
o brando Amor, que tudo, enfim, perdoa.

Não são isto que falo conjecturas,
que o pensamento julga na aparência,
por fazer delicadas escrituras.

Metida tenho a mão na consciência,
e não falo senão verdades puras
que me ensinou a viva experiência.

Para nascer um verso


"...Ah, mas que significam os versos, quando os escrevemos cedo! Devia-se esperar e acumular sentido e doçura durante toda a vida e se possível durante uma longa vida, e então, só no fim, talvez se pudessem escrever dez versos que fossem bons. Porque os versos não são, como as gentes pensam, sentimentos (esses têm-se cedo bastante), - são experiências. Por amor de um verso têm que se ver muitas cidades, homens e coisas, têm que se conhecer os animais, tem que se sentir como as aves voam e que se saber o gesto com que as flores se abrem pela manhã. É preciso poder tornar a pensar em caminhos em regiões desconhecidas, em encontros inesperados e despedidas que se viram vir de longe, - em dias de infância ainda não esclarecidos, nos pais que tivemos de magoar quando nos traziam uma alegria e nós a não compreendemos (era uma alegria para outro - ), em doenças de infância que começam de maneira tão estranha com tantas transformações profundas e graves, em dias passados em quartos calmos e recolhidos e em manhãs à beira-mar, no próprio mar, em mares, em noites de viagem que passaram sussurrando alto e voaram com todos os astros, - e ainda não é bastante poder pensar em tudo isto. É preciso ter recordações de muitas noites de amor, das quais nenhuma foi igual a outra, de gritos de mulheres no parto e de parturientes leves, brancas e adormecidas que se fecham. Mas também é preciso ter estado ao pé de moribundos, ter ficado sentado ao pé de mortos no quarto com a janela aberta e os ruídos que vinham por acessos. E também não é ainda bastante ter recordações. É preciso saber esquecê-las quando são muitas, e é preciso ter a grande paciência de esperar que elas regressem. Pois que as recordações mesmas ainda não são o que é preciso. Só quando elas se fazem sangue em nós, olhar e gesto, quando já não têm nome e já se não distinguem de nós mesmos, só então é que pode acontecer que, numa hora muito rara, do meio delas se erga a primeira palavra de um verso e saia delas. ..."

Rainer Maria Rilke (1875-1926), in Os Cadernos de Malte Laurids Brigge (pgs. 41/2) - trad. de Paulo Quintela.

Porque hoje é sábado...


Não tanto pela qualidade do Fadista, mas sobretudo pela riqueza e profusão dos regionalismos alentejanos...

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Uma fotografia, de vez em quando (20)


Heinrich Kühn (1866-1944), nascido em Dresden, iniciou tarde a sua actividade de fotógrafo, pouco antes de completar 30 anos. Mas tinha um sonho: queria que a fotografia pudesse, um dia, rivalizar com a Pintura. Não o terá conseguido, por certo, mas o movimento e a harmonia das cores dão-lhe o direito de ter criado uma nova estética, nas obras que produziu.
Na segunda fotografia, de interior, captou a Família Kühn.

Produtos nacionais 13


A globalização ajuda muito à formatização dos países. Porque a miséria extrema já por cá vai existindo, parecida a alguns países terceiromundistas, embora mais envergonhada ou dissimulada. A grande riqueza, com ambições esclavagistas, também (temos 85 milionários impolutos que, proporcionalmente, à população, não é nada mau...); tias caridosas, lídimas sucessoras da Cilinha colonial, também, na "banalização do bem" - de que António Guerreiro fala hoje, de forma abstracta, na sua crónica do jornal Público.
Qualquer dia, teremos (ou não teremos já?) a cleptocracia angolana traduzida em osmose lusa...
Mas únicas, natalícias e tradicionais, temos as broas Castelar, com base de feitura na batata doce madeirense. E também as de Espécie, ou as broas da Beira. Para não falar das de milho, e sem açúcar. Nas doces, vou pelas Castelar que, com um cafèzinho bem tirado, me confortam, um bocado, desta globalização desenfreada pelos piores motivos.

Regionalismos transmontanos (13)


1. Baranha - negócio intrincado.
2. Bardino - velhaco, vingativo. Valdevinos, vadio.
3. Barregar - berrar destemperadamente.
4. Basculho - pessoa grande e mal amanhada. Mulher badalhoca e feia.
5. Belfo - diz-se do animal que tem os dentes gastos e rombos. Que fala (pessoa) confusamente, como quem tem a boca cheia.
6. Berceiro - calaceiro, pouco trabalhador.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013