quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Citações CDLXXIII



Temos o necessário e o cómodo; o resto não passa de cupidez. Todos estes desejos de grandeza partem do vazio de um coração inquieto. 

Madame de Maintenon (1635-1719), in Lettres (1676).

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Do que fui lendo por aí... 59



A biografia é sempre uma forma de juntar espaços vazios, como num ninho, por razões que a própria obra de W. G. Sebald explora: a falibilidade da memória, a morte ou desaparição de testemunhas, o papel dúbio do narrador. E todas estas razões contribuem para estimular qualquer biógrafo. (...) 

Carole Angier, in Speak, Silence (2021).

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Uma fotografia, de vez em quando... (175)

 

Foi assim, ao nascer do dia.

domingo, 27 de agosto de 2023

Vai sempre a tempo...



Como dizia George Steiner (1929-2020) vale sempre a pena não morrer hoje, pela curiosidade de ler o jornal de amanhã (quando os jornalistas ainda tinham alguma qualidade profissional, acrescentaria eu). Pois, nessa mesma perpectiva e neste último mês, aprendi o nome e provei duas novas qualidades de frutos, que eu não conhecia de todo.




Foram eles: a pêra coche e os figos orelha mula. Estes últimos de pequena produção e originários do Algarve. A pêra, rijinha e o figo dulcíssimo. Por aqui ficam as imagens.



sábado, 26 de agosto de 2023

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Uma alta rosa



A roseira, comprada na região outrabandista pelo início do ano, tem-se multiplicado em beleza e flores. Produziu, nestes oito meses, já cerca de dez rosas, todas elas com um pé direito de cerca de um metro de altura. Nunca vi coisa assim... Talvez esta (em imagem), que HMJ cortou ainda viçosa, venha a ser a última do ano. Oxalá que em 2024 venham mais rosas vermelhas alegrarem-nos a casa e a varanda.

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Últimas aquisições (47)

Mantendo, persistentemente, a longa peregrinação pelas Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos ( vou a páginas 379, na leitura ), reiterando que é um livro de leitura difícil mas compensadora, avancei para a compra de mais dois livros que coloquei na "torre de espera". Um de Patricia Highsmith (1921-1995), editado pela Relógio D'Água, o outro de J. M. Coetzee (1940) publicado pela D. Quixote.

Mercearias Finas 192



Não será um prato propício para tempos de canícula, mas é dos portugueses um dos mais tradicionais. Dobrada, no Sul, e Tripas no Porto vieram de longe como subproduto, embora muito apreciado geralmente. Não fomos pioneiros a confeccioná-lo, mas Caen (França) já no século XI, atribuindo-se a receita original ao abade Simon Benoît. Nós ainda esperamos pela tomada de Ceuta (1415), ao que se diz. Pedidos mantimentos, pelo infante D. Henrique à Cidade Invicta, os tripeiros mandaram-lhe o melhor para a travessia, ficando só com as miudezas bovinas. A que juntaram feijão branco, cenoura e pouco mais para comer. Os franceses temperaram as tripas com cravinho e alho porro, que nós dispensámos.



As que vieram à mesa, recentemente, foram acompanhadas por um despretencioso tinto de Silgueiros de 2021 com 13º, ligeiramente refrescado no frigorífico e com quatro das castas também tradicionais do Dão: Touriga Nacional, Aragonez (Tinta Roriz), Alfrocheiro e Jaen. Vinho que se portou bem e à altura rústica da ementa.

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Certificação


É simples, de comprovar.
Se um filme sério, numa cena dramática, me faz rir, compreendo que estou frente a um exemplar tipo-Ed Wood (1924-1978). Quero eu dizer: uma película com canastrões de terceira ordem (da categoria de Schwarznegger, Seagal, Stallone, Stiller, van Damme...) no desempenho, e produzido por um relizador medíocre.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

interlúdio 94

Sinal dos tempos



Em vez do cristalino e singular cantar de galo, temos agora o rouco e antipático crocitar de múltiplas gaivotas, em volta dos contentores do lixo, para nos acordar de manhã.
Longe vai o tempo de Alexandre O'Neill (1924-1986) em que, poeticamente, uma dessas aves, hoje horrorosas, lhe "trazia o céu de Lisboa..."

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Ideias fixas 79


Quanto a rendas, sequelas e seus malefícios,  é bom lembrar uma galinha chamada Cristas de um partido quase extinto, merecidamente.

(Alguém me lembra ao lado que este PR não deixa de ser um cavaco soft, embora mais palrador e popularucho.)

domingo, 20 de agosto de 2023

Da leitura (52)



Numa realista recensão crítica ao livro The Great Crashes, da economista Linda Yueh (1977), o historiador norte-americano Eric Ranchway (1969) põe o dedo na ferida, a propósito das crises de mercado, referindo algumas das causas da depressão económica. Aqui ficam 2 pequenos excertos que traduzi livremente, do texto inglês, para português, pela sua pertinência.

"  As crises começam com a euforia. Os tempos parecem favoráveis e as pessoas acreditam que eles permanecerão bons. A inovação técnica e o vigor empresarial empreendedor parecem convidar a uma nova era que será imune aos velhos azares. "
( ...)
" Mas nas crises, os banqueiros - cuja classe contribuiu mais do que qualquer outra para criar os problemas que agora parecem ameaçar de novo a economia global - pouco sofreram. "

sábado, 19 de agosto de 2023

Recuperado de um moleskine (43)



Uma das regras básicas da ficção séria é trocar o nome aos sujeitos fictícios, confundindo-os.
Os terratenentes da Quinta da Estrelinha, quase sobre o Atlântico, deixaram de abrir os portões do pátio, por onde eu via, ao passar, os pavões abrir o rabo em esplendor, talvez por que as aves sumptuosas quiseram ganhar a liberdade por inteiro. Ficou-me só para ver a nesga triangular em delta, por onde eu contemplo um bocadinho de Lisboa. Hoje, que ora se descobre, por entre a neblina, a Torre de Belém, ora o Centro Champalimaud à beira Tejo, passo ao lado do quartel abandonado por onde já não tocam os clarins. Pergunto-me por onde andará o capitão César Monteiro, que fora emprateleirado depois da rendição de Goa, e que chegou a dar aulas de informação aos cadetes? Com aquele seu ar britânico de oficial retornado, mas infeliz.
No regresso, à esquerda e à direita, só nos sobram os campos já limpos de feno e as árvores esgarçadas ou caídas por terra com falta de suporte ou de água que as segure ou prenda à vida.

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Mais um episódio da telenovela "justiça à portuguesa"


Com o habitual aparato mediático para épater le bourgeois, os agentes cómicos da justiça à portuguesa anunciaram a acusação de 73 pessoas e empresas no caso Tempestade Perfeita (Lá títulos sabem eles arranjar... Devem ter por lá um poeta desempregado.)
Já sabemos como tudo isto vai acabar. Como a montanha que pariu um rato - lá diz o ditado nacional.
A notícia só pode deslumbrar os ingénuos, os crentes e os parvos distraídos...

Citações CDXXII

 


Eu vejo na Europa uma barbárie atentamente ordenada, onde a ideia de civilização e a da ordem são quase todos os dias confundidas.

André Malraux (1901-1976), in La Tentation de l'Occident (1926).

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Desabafo (80)


Nasce, às vezes, a conversa parva de uma observação inútil.

Nota pessoal: desabafo sugerido por um zapping pelos canais televisivos generalistas, à hora do divertimento popularucho.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Era assim ao fim do dia...

 


... tranquilo e ameno

Poema de Giuseppe Ungaretti (1888-1970), em versão portuguesa

 

Agonia

Morrer como as cotovias sequiosas
sobre a miragem próxima

Ou como a codorniz
ultrapassado o mar
e já sobre os primeiros arbustos
não deseja mais voar

Não viver mais no lamento
como um pintassilgo cego

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Arcaísmos I


Houve tempo em que algumas editoras, instituições e personalidades nacionais se preocupavam com a cultura geral da população. Nesse sentido se inseriu, por exemplo, uma colecção das Edições Cosmos no século XX e outras, bem como, nos finais do século XIX, a Companhia Nacional Editora criou a Biblioteca do Povo e das Escolas, com o filantrópico intuito de melhor ilustrar e ensinar os portugueses. Hoje, tudo isto nos parece talvez demasiado ingénuo.




Desta última colecção, tenho alguns desses modestos voluminhos, que se vendiam a 50 réis (em 1892) e eram bem feitos, abordando temas muito alargados de forma simples e útil. Resolvi seleccionar, do livrinho número 197 (Archaismos) palavras hoje em desuso, mas com algum pitoresco e interesse para o nosso idioma, hoje muito mais restrito. A temática dos postes será irregular no tempo e por ordem alfabética. E segue:

1. Abanico* - ornato do pescoço; gola de rendas.
2. Abarrisco - com abundância.
3. Abrego - vento de sudoeste. 
4. Açacal - condutor de água; aguadeiro.
5. Acó - para cá.
6. Aguça - pressa; prontidão; actividade.
7. Aguso - abaixo; para baixo.
8. Alabarar - queimar; consumir; denegrir.
9. Alarife - mestre de obras; arquitecto.


* actualmente o vocábulo significa leque; dito galante, mordaz.

domingo, 13 de agosto de 2023

Pinacoteca Pessoal 196



Falecido recentemente (30 de Julho), a obra do pintor alemão Konrad Klapheck (1935-2023) coloca, pela sua singularidade, alguns problemas de classificação, muito embora nos convoque para o magistério de Duchamp e, pelos seus sugestivos títulos de telas, para Magritte e até Chirico.





A inexistência da figura humana nos seus quadros, que só começou a aparecer nos anos 90, levou alguém a denominar a sua obra como de uma irónica crueldade técnica. O breve namoro com o surrealismo e a amizade com Breton deixaram a sua marca, também, nas suas produções.





quinta-feira, 10 de agosto de 2023

As palavras do dia (50)



Mais uma proeza da justiça à portuguesa!
(Rima e é verdade.) 

Citações CDLXXI


 
Que hipóteses tem o ignorante, mentiroso inculto contra um  perito bem educado? Que hipótese tenho eu... contra um advogado?

Mark Twain (1835-1910), in On the Decay of the Art of Lying (1882).

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Um poeta menor, bem tratado

 

Comprei há pouco tempo, e não muito barato, num alfarrabista, um volume desencadernado de Poezias - Parte I, impresso em Lisboa, no ano de 1793 e na Officina de Filippe José de França e Liz. (sic). O seu autor José Maximo Pinto da Fonseca Rangel foi um poeta menor, mas na carreira militar atingiu o posto de major, tendo sido governador do Castelo de S. João da Foz, no Porto. O vate terá nascido, por volta de 1773, em Santa Marinha do Zêzere (Baião), vindo a falecer no ano de 1832, em Lisboa.
Publicou vários livros, quase todos eles raros hoje, nomeadamente o volume de poesias referido acima; terá sido maçom, partidário e implicado na chamada conspiração de Gomes Freire de Andrade, em 1817, esteve preso por isso, e ainda foi ministro da Guerra, por breves dias, no ano de 1823.




Como poeta, alguns dos seus sonetos prenunciam sinais do pré-romantismo e alguma vivência bucólica.
Em tempos, o alfarrabista Richard C. Ramer tinha um volume igual ao meu, à venda por 217,86 euros.
Para melhor o proteger, HMJ deu-lhe um tratamento próprio em invólucro (capa) preto adequado.



terça-feira, 8 de agosto de 2023

Antonin Dvorak (1841-1904)


A ária "Canção à Lua" da ópera "Rusalka", de Dvorak, fazia parte da banda sonora do filme Driving Miss Daisy (1989), de Bruce Beresford.

Rarezas



De longe a longe, os norte-americanos -  por entre a profusão habitual de tiros, pancadaria e violência -  exportam um filme de qualidade. Ainda que seja de um realizador que nasceu no estrangeiro. Neste caso vertente, Bruce Beresford (1940), australiano de origem, mas que trabalhou principalmente na América. E o filme que congregou a minha atenção foi Driving Miss Daisy (1989). Boa película. A opção por Jessica Tandy (1909-1994) e Morgan Freeman (1937) foi uma óptima decisão de Beresford. Dois grandes actores.
Gostei muito de (re)ver o filme.

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Uma quadra (popular?)

 


A nossa língua tem coisas
que bem merecem estudo:
O que tem telha é telhado
E quem tem telha é telhudo.

sábado, 5 de agosto de 2023

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Apontamento 156: Presente e Passado


Há, de facto, coincidências felizes, no encontro do presente com o passado.

Não há melhor que o livro em imagem acima, posto à venda e adquirido na semana passada, para assinalar a importância do conhecimento do passado para interpretar, com propriedade, o presente.

Como espectador meramente exterior da presente jornada do mundo cristão apostólico, de que me afastei por opção de consciência há várias décadas, reconheço-me em olhares críticos como este, tirado do livro acima:



Raul Rêgo, Para um Diálogo com o Sr. Cardeal Patriarca, Lisboa, Edição do Autor, 1968

Recomendo, então, a leitura do livro para saber mais sobre as consequências de uma voz crítica, nos idos de 1968, ou seja, há 55 anos. Tempo de História, embora insignificante, mas de factos iniludíveis.

Post de HMJ, dedicado a MR

Da farsa para a tragédia


Eu creio que não há nada mais trágico do que ver ou ouvir um artista, que não tem piada, dizer uma graça de que ninguém se ri.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Retratos (29)

 


Nem sempre os retratos pintados sugerem inteiramente os traços do modelo reproduzido. E é quase sempre vantajoso cotejá-los com a descrição escrita da personagem. Entre as várias pinturas de Filipe II de Portugal, ou Felipe III (1578-1621) de Espanha, escolhemos dois quadros: o primeiro, de Bartolomé González (1564-1627), cujo nome é referido no texto escrito de W. T. Walsh (1891-1949); o segundo de Diego Velásquez (abaixo).



Segue-se o texto da biografia Felipe II (Espasa-Calpe, 1968), do historiador acima referido, com a descrição de Filipe II de Portugal (pg. 764), que verti para português. Segue:

"O príncipe Filipe II (III de Espanha) teria na altura quinze anos e era gorducho, de cabelo castanho arruivado, muito branco de pele, de lábios grossos, demasiado vermelhos, o inferior muito proeminente e o superior levemente sombreado por um buço que, com o tempo, se haveria de converter num largo e sedoso bigode que vemos no seu retrato pintado por González. A parte superior do seu rosto lembrava o seu pai Filipe I (II de Espanha), ainda que os seus olhos eram mais escuros e menos penetrantes; a parte inferior da face era muito menos fina, com a boca débil, amável mas falta de vontade."

Citações CDLXX



A incursão na anarquia é instrutiva,  tal como a primeira aventura amorosa ou o primeiro combate; estes primeiros contactos têm em comum a derrota, que acaba por suscitar novas forças superiores.

Ernst Jünger (1895-1998), in Afrikanische Spiele (1938).

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Giovanni Sammartini (1698-1775)

Adagiário CCCLVI



Da galinha, a preta, da pata, a parda, da mulher, a sarda.*

* Aquilino Ribeiro (1885-1963) refere este provérbio em Terras do Demo.