sábado, 19 de agosto de 2023

Recuperado de um moleskine (43)



Uma das regras básicas da ficção séria é trocar o nome aos sujeitos fictícios, confundindo-os.
Os terratenentes da Quinta da Estrelinha, quase sobre o Atlântico, deixaram de abrir os portões do pátio, por onde eu via, ao passar, os pavões abrir o rabo em esplendor, talvez por que as aves sumptuosas quiseram ganhar a liberdade por inteiro. Ficou-me só para ver a nesga triangular em delta, por onde eu contemplo um bocadinho de Lisboa. Hoje, que ora se descobre, por entre a neblina, a Torre de Belém, ora o Centro Champalimaud à beira Tejo, passo ao lado do quartel abandonado por onde já não tocam os clarins. Pergunto-me por onde andará o capitão César Monteiro, que fora emprateleirado depois da rendição de Goa, e que chegou a dar aulas de informação aos cadetes? Com aquele seu ar britânico de oficial retornado, mas infeliz.
No regresso, à esquerda e à direita, só nos sobram os campos já limpos de feno e as árvores esgarçadas ou caídas por terra com falta de suporte ou de água que as segure ou prenda à vida.

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