sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Um jornal diário, em tirocínio para museu...



Sem palavras.

* ver canto de baixo, artigo no centro-direita. 

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Uma fotografia, de vez em quando... (163)



Raras são as obras (de arte) que identificam - quando as vemos e de imediato - o seu autor. No que diz respeito à fotografia, quem não se lembrará de Robert Doisneau (1912-1994) e do seu casal de enamorados (1950), a propósito de um beijo em Paris, no Hôtel de Ville? Ou do republicano atingido, de morte, no Cerro Muriano, fixado para sempre, em 1936, pela câmara talentosa de Robert Capa (1913-1954), durante a Guerra Civil Espanhola.



Uma fotografia bastou para celebrizar o fotógrafo norte-americano da Agência Magnum Steve McCurry (1950), pela forte expressividade do rosto e firmeza do olhar de uma jovem rapariga afegã (Sharbat Gula), que fez capa da revista National Geographic, em Junho de 1985.

Ideias fixas 70



Eugénio Lisboa, talvez perdulariamente, anda a dar-lhe caça no blogue De Rerum Natura. Embora, na minha opinião, por bons motivos e justificadas razões de falta de qualidade mental dos seus textos (dele). Referindo como razões optativas do gosto do vulgo: o "provincianismo douto, pretensiosismo parolo, infantilidade embevecida (ou) imbecilidade inconsciente".
Se a última soberana inglesa foi celebrada pelo seu mais longo reinado, este artista português do interior - logo saudado por Saramago na sua estreia em prosa, e premiado - arrisca-se a ultrapassar, em breve, o número das obras da bibliofília camiliana (já vai em cerca de 50 publicações...). É "obra"!  Quanto a quantidade.
Mas bastaria ler a última coluna na direita da contracapa do último JL, para aquilatarmos a qualidade mental da sua escrita, sobre Mariás...
Pois que os leitores pobretes nunca lhe faltem. Nem também as empáticas editoras lusitanas. Para seu sustento.

Rodrigo Leão | Aviões de Papel

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Antologia 11



A mesa do café move-se objecto
celeste cujo brilho
além da área augusta do silêncio,
leva essa mão sem sítio.
Mão de ninguém. Só membro
do sonolento ofício
de escrever arrabaldes ao silêncio
que a mesa leva para um futuro antigo.


Fernando Echevarría (1929-2021), in Poesia, 1980-1984 (pg. 316).

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

A despropósito

Quase todos nós precisamos de um arrimo. Com os anos, de um cajado firme e sólido a que nos apoiemos, se ainda formos vivos. Pode ser apenas uma fantasia virtual, um simples objecto de estimação, um lugar longínquo que nós mitificamos - para os outros, sem razão nenhuma que justifique essa paixão exagerada -, uma afeição perdida, uma ideia utópica que nos faça felizes, ainda que por engano ou simulação próprios. No fundo, basta acreditar, numa razão exterior ao nosso mundo limitado e pobre. Para crescermos um pouco no bem-estar aparente.

Citações CDXLII

 

1. A arte é uma amante ciumenta.

in Wealth.
...
2. Todos os heróis acabam por se tornar fastidiosos.

in Society and Solitude.
...
3. Nunca se deve ler um livro que não tenha saído há mais de um ano.

in Uses of Great Men.

Ralph Waldo Emerson (1803-1882).

sábado, 24 de setembro de 2022

Esquecidos (11)



Se gosto de pensar que, como poeta, Vitorino Nemésio (1901-1978) ainda é lido e apreciado, tenho grandes dúvidas que como prosador seja muito frequentado, hoje em dia. Como contista ou romancista, o autor açoriano, do ponto de vista de riqueza vocabular, está muito próximo de Camilo ou de Aquilino.
De fazer inveja aos plumitivos de agora, que são muito poupados quanto a dicionários e seu uso.
Fortuitamente, reli recentemente o segundo conto (I'm very well, thank you!) do livrinho, em imagem, da colecção Mosaico. São apenas 8,5 páginas de prosa, mas por lá encontrei 11 palavras que deconhecia. Fazendo uso de vários dicionários, consegui deslindar 7 palavras. Ficaram-me porém ainda 4 vocábulos por decifrar. 
Que aqui vão, para quem souber:
1. trancador
2. papejar
3. areúscos
4. estreloiço.
Serão regionalismos açorianos? É o que fiquei por saber...

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Mitologias...



Fenómeno curioso este em que a mistificação e a importância, de um facto ou de alguém, desaparecem ou dissolvem-se no espaço ou em nada, com a excessiva proximidade da criatura ou do objecto.
Assim, Alberto Manguel (1948) e os seus chapéus recorrentes, banalíssimos embora de gosto, que ele, nos últimos tempos, nunca tira da cabeça. Quem sabe se ostensiva ou malcriadamente...

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Razões



É no mínimo curioso constatarmos que, se aqui há 30/40 anos, os professores se queixavam do desemprego e de não arranjarem colocação nas escolas, hoje em dia  é a falta deles que é notícia. Passou-se pois ao inverso, numa espécie de mundo às avessas.
Convém lembrar, entretanto, o título de um livro de Marçal Grilo (1942), que este publicou já depois de ter deixado de ser ministro de Educação ( pudera!.. ): Difícil é sentá-los. Bem significativo! E catártico.
Do alto da minha ignorância, atrevo-me a apontar algumas razões para a escassez de docentes:
- Profissão pouco atractiva e mal remunerada, inicialmente.
- Barbarização e selvajaria de muitos alunos que chegam às escolas. Indisciplina reinante nas salas de aula.
- Dificuldade e altos preços de aluguel de casas (ou quartos), quando há necessidade de deslocação de docentes.
- Aumento exponencial de baixas entre professores por dificuldades psicológicas decorrentes.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Osmose 127

 


Olho para as mãos: entrecortadas de sulcos por onde a água já não corre, mas apenas um suor envelhecido.
Uma palavra basta, muitas vezes, para interromper o desastre, a má notícia. Ou abrir à força, irreal mas propícias, alvas novas frescas de outro ano a que chegamos, quase sem dar por isso. O eterno é sempre para adiar, realisticamente, por algum tempo. Mortal, embora.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Antologia 10



6ª lição

A nós nos lemos quando estamos lendo
na habitual penumbra desta sala.
(...)

Fernando Echevarría. in Poesia, 1980-1984.

domingo, 18 de setembro de 2022

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Isabel 3 - Saramago 2



Em dias de luto nacional, a monarca inglesa ganhou ao nosso Nobel de Literatura. E empatou com Soares, Sampaio, Amália e Eusébio.
República laica, a nossa, não se pode dizer que não é generosa e mãos-rotas com outros regimes...

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Fim de festa?


A expressão (do título deste poste), aflorou por diversas vezes, e creio que inicialmente, pela voz de H. N., numa das nossas amigáveis e frequentes tertúlias.
O ambiente condicionado, a falta de professores e médicos, entre tantas outras profissões essenciais, a aparente desorganização de empresas e serviços, públicos ou não, a substituição de políticos, em tantos países, por outros homens de estado de ainda menor qualidade profissional, evidenciam a falta de solução à vista. O que nos obriga a encarar com constante pessimismo o futuro da humanidade.

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Insólitos em miscelânea (11)



Custa a crer, mas foi como se fora um milagre: o jornal Público de hoje não dedica nem sequer uma coluna aos régios funerais ingleses - nada mesmo! Entretanto, laico que se arroga, consagra a imagem da capa e quatro abundantes páginas à morte do realizador suiço-francês Jean-Luc Godard (1930-2022). É obra!



Diz-me I. de A. M., e por ser ela a dizer eu acredito, que encontrou, a norte, junto ao contentor do papel, dois sacos de lixo com mais de duas dezenas de volumes da Enciclopédia Luso-Brasileira, abandonados à sua sorte, talvez para serem cremados ou guilhotinados. I. só não os recolheu porque tem a obra completa de 23 tomos.

Assim vai a leitura e cultura portuguesas...

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Vítor Aguiar e Silva (1939-2022)



Com Ofélia Milheiro Caldas, Vítor Aguiar e Silva completava o par de assistentes conimbricenses da cadeira de Teoria da Literatura do catedrático A. J. Costa Pimpão, no início dos anos 60 do século passado. Cedo veio a ganhar alforria e voz própria nos estudos clássicos e sobretudo camonianos. Era, creio, o melhor especialista e estudioso, ainda vivo, da literatura renascentista portuguesa. Tive a fortuna de ter sido seu aluno.
Vítor Aguiar e Silva faleceu hoje.

Villa-Lobos / Turibio Santos

sábado, 10 de setembro de 2022

Divagações 181


Qualquer acontecimento que altera o curso da História, com o tempo, normalmente, ganha uma moldura própria que lhe vai conferir um enquadramento de seriedade para lá da simplicidade ou crueza inicial dos factos. É aquilo que, em linguagem popular, se costuma denominar por: dourar a pílula...
O antropólogo australiano Patrick Wilcken (1982), autor de Império à deriva (2004), é, ao que julgo, um historiador credível e fiável, com provas dadas. É assim que ele narra, a páginas 282/3, da obra acima referida, o episódio fulcral do Grito de Ipiranga que a 7 de Setembro de 1822 deu início à independência do Brasil. Citando, pois:




"... Havia também instabilidade crescente no Brasil. Numa série de épicas jornadas a cavalo, D. Pedro penetrou nas províncias vizinhas - primeiro em Ouro Preto, em Minas Gerais e depois em S. Paulo - reunindo apoios para o seu governo. E foi no regresso a S. Paulo, depois de uma visita ao porto de Santos, que ocorreu a cena ícone do nascimento do Brasil. Sofrendo de um ataque de diarreia, D. Pedro fez uma paragem não prevista junto de uma ribeira chamada Ipiranga. Aí, enquanto abotoava as calças, recebeu um mensageiro que vinha de S. Paulo com correio urgente. Trazia-lhe uma série de cartas - uma de D. Leopoldina e outra de José Bonifácio, bem como relatórios oficiais das cortes de Lisboa. Lendo tudo, o retrato era claro. Sete ml soldados estavam a ser preparados em Lisboa para seguirem para o Brasil. Tanto D. Leopoldina que se tornara uma apoiante ardente e influente do movimento pela independência, como José Bonifácio defendiam que se tinha atingido o ponto sem retorno. A 7 de Setembro de 1822, D. Pedro arrancou as insígnias portuguesas e atirou-as ao chão. Desembainhando a espada, proclamou: «Independência ou morte! Separámo-nos de Portugal!»"

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Pinacoteca Pessoal 186


Sendo recorrente, nunca será banal uma referência aos Painéis do Infante ou Políptico de S. Vicente de Fora (1445?-1470?), de Nuno Gonçalves. Se a representação de grande parte da pintura nacional ou estrangeira acaba por entrar numa normalidade da memória visual de cada indivíduo, esta obra-prima portuguesa suscita, de cada vez que a observamos, uma nova e inevitável curiosidade. Até por alguns mistérios insolúveis que encerra. 



Eu ousaria afirmar que estes painéis, guardados no MNAA, estão, em importância cultural, para a pintura portuguesa, tal como Os Lusíadas, de Luís de Camões, estão para a literatura nacional. E com uma igual importância matricial.

Desabafo (70)

É praticamente impossível fugir à invasão. Mediática.
Por entre a comunicação social tartamuda, a maioria ingénua e repetitiva dos blogues, por entre a net e os pobrezinhos, o assunto acaba sempre por vir à tona, misturado com uma religiosidade deslocada.
Parece que voltámos ao país das fadas. Das princesas e das bruxas. À meninice, enfim.

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Citações CDXLI

 


Os homens políticos avaliam o seu poder pelo número de favores que lhes pedem. Por isso não será necessário temer importuná-los com uma cunha; eles medem por aí a sua força.

Maurice Druon (1918-2009), in Le Pouvoir.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Máxima (?) própria (25)


A autenticidade é, muitas vezes, a verdade expressa de forma simples, estóica e sem luvas de permeio. Sem recear o melindre das almas sensíveis ou a animosidade pessoal de outras criaturas...

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Do que fui (re)lendo por aí... 52



Subscrevo, integralmente:

"Vou comprar o jornal, compro-o todos os dias. Não para ler mas para ver se há alguma coisa para ler. Porque às vezes há."

Vergílio Ferreira (1916-1996), in Conta-Corrente 4 (pg. 94).

domingo, 4 de setembro de 2022

De outiva



De duas cultas irmãs solteiras de meia idade, que moravam lá para as bandas de Alcântara, trouxe, um dia, oferecidas, as obras completas de Shakespeare em dois volumes, com páginas afectadas intensamente pelo fumo que, se se manuseassem sem precaução, corriam o sério risco de quebrarem ou se pulverizarem de todo, em direcção à eternidade. Uma das manas, a mais clássica no aspecto e no trajar, fora professora no Colégio do Ramalhão; a outra, ganhara a sua vida a legendar filmes estrangeiros, com competência e rigor. Embora de apelido Fialho, eram ainda primas de Malhoa, o pintor, e tinham boas recordações dele. Que contavam com pormenor e vivacidade.
Hoje, tenho pena de não ter reparado se, naquela casa datada mas decorada com gosto, não haveria nenhum quadro do pintor caldense. O passado tem, às vezes, ignorâncias indesculpáveis e sem remédio.

sábado, 3 de setembro de 2022

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Idiotismos 50



Na zona outrabandista, a meio do caminho que costumo percorrer para ir comprar o jornal diário, há uma árvore-da-borracha enorme. O seu tronco principal parece uma pata gigantesca de um elefante adulto e a folhagem densíssima obriga-me a uma gincana de curvas no percurso, para conseguir passar. As raízes, muito longas, vêem-se na superfície do terreno, e em grande extensão.
Há dias, cruzei-me com um grupo de 3 cantoneiros que estavam a podar arbustos numa zona próxima e perguntei-lhes se não tencionavam cortar aquela árvore-de-borracha. O mais velho respondeu-me, ao que parece algo incomodado: "O pedido já foi feito e a Câmara está ao corrente. É a eles que compete fazer o trabalho. Mas não vão cortá-la, só vão espontá-la..."
Não há nada como as profissões antigas e instituídas com regras para criar e aplicar, com propriedade, um vocabulário corporativo e competente. Os barbeiros profissionais, por exemplo, no seu trabalho diário, caracterizam pessoas com calvície, dizendo que têm grandes entradas e/ou são escanteadas.* Assim como usam aquele verbo espontar, com o significado de aparar, quando procedem, a pedido do cliente, a um corte de cabelo ligeiro, apenas.

* Que Houaiss não regista no seu dicionário.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Ideias fixas 69


Do alto da minha ignorância médica, eu ousaria dizer que há, pelo menos, 2 ciências ocultas na medicina, pela sua incipiência e falta de progressos práticos e até pelos nulos resultados obtidos ou conhecidos de experiências alheias. Essas áreas são: a dermatologia e as alergias.
Ambos (HMJ e eu) já fomos tratados, à primeira das especialidades, por uma jovem médica nortenha, que já não faz parte dos quadros do SNS, agora. O acompanhamento, entretanto, prescrito por ela, não deu quaisquer resultados que se vissem. E a senhora jovem e loura foi-se para o privado...
HMJ precisou de nova consulta, 3 semanas atrás. Ficaram de lhe indicar a data. Contactaram hoje para a informar que só poderiam marcar consulta para Janeiro de 2023 - assim são as delícias e prontidão da medicina privada, neste caso: CUF saúde.
Por trás de cada ataque ao SNS há, quase sempre, um vendido; um mercenário pago pelos privados ou por seguradoras gulosas (até se lhes pode ver a cara, nas televisões generalistas). Não há que ter grandes dúvidas. A Saúde pode ser para alguns um negócio chorudo. E, neste comércio, a ética não é essencial...

Adagiário CCCXL



A mais obriga um rosto bem ensombrado, que um homem armado.