segunda-feira, 29 de março de 2021

Figurativo ou abstracto

Retratos de personalidades institucionais implicam sempre alguma contenção, mas denunciam também a vontade avançada ou retrógrada de quem os encomendou ou realizou. Se, na galeria presidencial de Belém, os Columbanos assinalam um presença coeva de qualidade e se o retrato de Mário Soares, pintado por Júlio Pomar, inaugura uma modernidade alacre, os quadros que se seguiram, de presidentes posteriores, sublinham algum retrocesso estético ou menor ousadia criativa, na minha opinião.



Em 1958, François Mauriac, então com 72 anos, posou para o pintor Édouard Mac'Avoy (1905-1991), conceituado retratista francês. No seu Bloc-notes II, Mauriac, a propósito, tece (pg. 129) algumas considerações interessantes sobre arte figurativa e arte abstracta, que passo a traduzir: Por estes dias, sessões de pose. Mac'Avoy faz o meu retrato. Este pintor tão atento às mãos do seu modelo e a este rosto, por que, acabada a juventude, nós somos responsáveis e que conta toda uma vida - este pintor retoma uma viva tradição. Ele escapa ao nada em que os «não figurativos», um após o outro, se absorvem. Será bom para a pintura, bem como para o romance, retomar o fio à meada, na altura em que ele se rompeu...

4 comentários:

  1. Lindo retrato que eu não conhecia. E o nome do pintor também não me diz nada, mas vou ver mais na net.
    Boa semana!

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    1. Tem também retratos bons de Gide, Montherlant...
      Retribuo, com estima.

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  2. Interessantes, tanto o retrato como o texto. Bom dia!

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