Longe vão os tempos em que era preciso invocar Orfeu e a sua lira para poder falar, adequadamente, da poesia chamada lírica. O seu instrumento também servia para insistir na beleza das cantigas medievais, sendo criações poéticas destinadas ao canto, nada tem de monótono, mas de técnica apurada e adaptada ao seu modo de transmissão.
Infelizmente, a infantilização e a banalização do ensino da literatura, em especial da poesia, proporcionaram este caldo de mistela, entre poesia e versinhos, que Geoge Steiner explica admiravelmente nestes termos:
“Um dia, disse de mim para mim que a distância que separa os versos da poesia é de anos-luz. (...) Ora, a poesia, a verdadeira poesia, não faz parte das boas maneiras, porque fere e está muito longe dos versos. No dia em que compreendi o que separa os versos da poesia, nunca mais pratiquei o poema, a não ser às escondidas, traduzindo versos que inseria nos meus livros.”
Ora, se certos docentes deixassem de falar de poesia quando
mandam os meninos escrever versinhos, seria meio caminho andado para aqueles
que ainda não desistiram de tentar transmitir esse difícil universo de criação
chamado poesia.
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