Quando temos ocasião de folhear catálogos antigos de leilões de livros, sobretudo realizados até meados do século XX, ficamos surpreendidos com a riqueza dos acervos de algumas bibliotecas do passado. Mas também acontece, por vezes, a partir dos anos 60/70 do século anterior a este nosso, os lotes em praça em outras almoedas nos decepcionarem pela banalidade dos seus conteúdos. Não assisti ao leilão da biblioteca de José Blanc de Portugal (1914-2000), promovido pela Dinastia e organizado por Luís Burnay, em 30 de Abril e até 4 de Maio de 2001, cerca de um ano depois da morte do poeta. Mas, como consultei e analisei o catálogo, vou dar uma ideia muito geral do acervo bibliográfico e das temáticas mais representadas nessa biblioteca que, contendo muitos atados, era constituída por 2015 lotes.
Naturalmente, a poesia era predominante e, só em atados, contava com 124 lotes. O poeta mais representado era António Botto com 17 livros. Seguia-se Ruy Cinatti, com 15 obras, 7 delas com dedicatória para Blanc de Portugal; Ruy Belo com 9 volumes, todos dedicados. 8 de Sophia, também.
No leilão, havia dois livros do século XVI, sendo o mais antigo de Terêncio, impresso em Paris, no ano de 1552 (lote 1826). O século XVII contava 5 lotes. A estimativa mais alta de preços pertencia à 1ª edição (1934) de Mensagem, de Fernando Pessoa, lote 1474, que apontava para valores entre Esc. 200.000$ / 300.000$00.
Quanto a temáticas: Música e Ballet estavam representados por mais de 200 lotes; Seguia-se a Etnografia. Livros sobre Ciências Ocultas eram 149. Sobre a China havia 57 lotes, 5 dos quais de poesia.
Estranhei que, neste leilão da biblioteca de José Blanc de Portugal, só houvesse 3 obras de Camilo e que Sá de Miranda não estivesse representado, embora houvesse muitos lotes com obras de Camões.