segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Eugenio Montale, a propósito


Fim de '68

Contemplei da lua, ou quase,
o modesto planeta que contém
filosofia, teologia, política,
pornografia, literatura, ciências
exactas ou antigas. Lá dentro, está também o homem
e eu entre eles. E é tudo muito estranho.
Dentro de poucas horas será noite e o ano
acabará pelo meio de explosões de espumante
e fogos de artifício. Talvez de bombas ou de algo pior,
mas não aqui, onde estou. Se alguém morrer,
ninguém se vai incomodar desde que
não dê nas vistas e morra bem longe.

Calendário 2013



Dentro deste envelope florido, veio ter comigo, por mãos amigas, um objecto extremamente útil para todo o ano.


Partilho, pois, com os nossos leitores amigos este lencinho que me acompanhará, tal como o do ano anterior, ao longo de 2013.

Post de HMJ, dedicado, obviamente, a MR.

O regresso do araújo


Ainda pensei que ele viesse, para dar as Boas-Festas, mas não. O araújo sulista veio ao Arpose para ver o que havia sobre Otto Dix. E fixou atentamente uma imagem satírica de três personagens. Para o esconjurar, vamos repetir a imagem. E acompanhar, minuciosamente, qualquer desenvolvimento, do lado de lá da criatura...

Uma sugestão musical


Não é uma marcha fúnebre pelo meu computador lisboeta que feneceu, nem pela perversa Sony, mas uma sugestão festiva de acordes para passar de 2012 para 2013, esquecendo, momentaneamente, as agruras. Com Karajan. 

Oração fúnebre


Herdado familiarmente de quem já o achava obsoleto ou com pequenas deficiências - imperceptíveis, para mim, que sou um ignorante e rude informático - o meu computador Sony lisboeta deu o berro. Quero eu dizer, morreu-me nos dedos, estava eu a ouvir, via Youtube, um concerto de Natal, em Viena, superiormente dirigido por Karajan. Fez um relâmpago silencioso, mas verde, começou a mostrar traços verdes finos e verticais, depois pequenas rectas negras intercaladas, e foi-se... Deu a alma ao criador. Ignorantemente esperançado, religuei-o quatro ou cinco vezes, e nada. Ecran absolutamente negro, vazio, obscuro como um buraco negro do Universo.
A Sony sabe-a toda. Faz os computadores com prazo de validade, mas não avisa os utentes. Este feneceu no último dia do ano de 2012. O número redondo deixa-me altamente desconfiado e faz-me pensar que, quem faz isto, tem um espírito matemático, doméstico, de horizontes limitados: deve ser infeliz. Ao menos, os frigoríficos que, hoje, no máximo duram 15 anos, avariam definitivamente em meses aleatórios do ano - o acaso, assim, é mais credível. A Sony é mais chapa zero: morra, pim! , como dizia o Almada, do Dantas.

Nota: esclareço que estou a usar o computador lisboeta e pessoal de HMJ. O meu acabou, de vez.

Com ou sem passas...


...com espumante, ou não, os nossos melhores votos para a entrada de 2013. E um Bom Ano Novo!

Citações CXVIII : Alexandre Pushkin


Os provérbios são particularmente úteis nos casos em que, nós próprios, não temos grandes explicações para nos justificarmos.

Alexandre Pushkin (1799-1837).

domingo, 30 de dezembro de 2012

Flaubertiana : letra N


Ideias feitas, segundo Flaubert, de palavras iniciadas por N, a saber:

Narinas - dilatadas, sinal de sensualidade.
Natureza - como é bela, a Natureza! Frase a proferir sempre que uma pessoa passeia pelos campos.
Navegador - sempre intrépido.
Negras - mais quentes do que as brancas (v. morenas e loiras).
Negros - espantar-se com o facto de terem saliva branca e falarem francês.
Neologismo - a perdição da língua francesa.
Nobreza - senti-la, desprezá-la e invejá-la.

Um "remix" para preparar as Entradas


A canção, originalmente, intitulada By mir bist du schein, foi um sucesso americano dos anos 30, e muito glosada por vários cantores (Ella Fitzgerald) e músicos (Benny Goodman). Uma das intrepretações mais conhecida é das Andrew Sisters.

Sentenças ou máximas de um velho códice quinhentista (2)


10.
As vontades que apetecem
cousas que são da vontade,
alcançadas, aborrecem;
com muita mais brevidade
a mesma vontade esquecem.

14.
Perigosa ocasião
que a vida mais inquieta,
é muita conversação;
o fugir à multidão
sempre foi coisa mais certa.

17.
Que voz é tão pregoeira
do homem que faz e cala?
A que somente é vozeira
como trombeta grosseira,
nela só o vento fala.

D. Francisco da Costa, in Cancioneiro chamado de Maria Henriques.

Nota: procedeu-se a alguns ajustamentos ortográficos.

sábado, 29 de dezembro de 2012

O pai natal dos pobrezinhos

Já não tenho paciência para ouvir a maioria dos comentadores televisivos, nem ler grande parte dos cronistas do meu jornal diário. São autênticas cassetes de ressonância uns dos outros, papagueando o mesmo blá-blá deslavado e desmiolado, abordando tudo pela rama do lugar comum, estupidificante e fastidioso. No meio deste cacarejar acarneirado há, felizmente, algumas (poucas) excepções.
A crónica de José Pacheco Pereira, hoje sábado, no jornal Público, é um brilhante exercício de inteligência e de análise na desmontagem dos pressupostos e mentalidade que enferma a mensagem de "Pedro e Laura" no Facebook. Há ocasiões em que gostaríamos de ter escrito o que acabamos de ler. Esta é, para mim, uma delas. Por isso, com a devida vénia a J. Pacheco Pereira e ao jornal, passo a reproduzi-la, parcialmente.
Mas, quem puder, que faça o favor de ler a crónica (Os convidados da mesa de Natal dos portugueses), integralmente. Não será, com certeza, tempo perdido.


A par e passo 22


Relação da Desordem e do Possível

XXIV
O espírito vai, no seu trabalho, da sua desordem à sua ordem. É importante que conserve até ao fim, as suas potencialidades de desordem, e que a ordem que ele começou a organizar não una tudo tão completamente, nem seja como um rígido mestre, e que ele não possa modificar ou usar da sua liberdade original.
...
XXV
Aquele que está a meio de fazer uma bela obra apercebe-se por entre os seus próprios interstícios da beleza dessa obra.
A impressão de Beleza, tão loucamente procurada, tão vagamente definida, é talvez o sentimento duma impossibilidade de variação, de uma mudança virtual; um estado limite tal que toda a variação o torna demasiado sensível de uma parte, demasiado intelectual de outra.
E esta fronteira comum é um ponto de equilíbrio.

Paul Valéry, in Tel Quel II (pg. 184).

Idiotismos 9


Era normal, até meados do século passado, vermos algumas crianças e adultos, sobretudo na província, descalços pela rua. Para já nem falar dos campos, onde o facto era comum. Eram os pés-descalços, como noutros países os descamisados, que constituiam o grande grupo da população portuguesa: os pobres. A situação vinha de longe (ou de sempre?) e, hoje em dia, parece que estamos, vertiginosamente, a retroceder e a encaminharmo-nos para uma posição idêntica.
Ora, entre 1846 e 1847, no Minho, pela região do rio Cávado, esta população desfavorecida, desagradada com as decisões governativas, a subida de impostos e medidas legislativas proibindo os enterros nos adros e igrejas, revoltou-se e pegou em armas. O nome por que ficou conhecida esta sublevação foi o de Maria da Fonte (mulher que provavelmente nunca existiu) mas, também por Patuleia. Ou seja, a revolução dos pés-descalços, ou dos patas ao léu - daí o nome de Patuleia.

Bibliofilia 73 : Miguel Torga


Sabe-se como Miguel Torga (1907-1995) era arredio a oferecer obras suas, mesmo aos amigos. E, mais avarento ainda, em escrever dedicatórias, daí que os livros autografados de Torga sejam raros e muito apreciados pelos bibliófilos. Também é verdade que as suas obras foram, creio que na totalidade, sempre de edição de autor, embora impressas na Coimbra Editora. Assim, também os dois livros, em imagem, não constituem excepção. Não são raros, embora da 1ª edição, e só nos anos mais recentes, usados, subiram de preço.
A obra ou novela "O Senhor Ventura", de 1943, não foi grande sucesso e demorou imenso tempo a esgotar-se. Nos últimos anos de vida, Torga reescreveu a novela, porque a achava imperfeita. O meu exemplar, novo, comprei-o, em Guimarães, vinte anos depois de ter saído, por Esc. 12$50. Quanto à primeira edição de "Vindima" (1945), também não teve um sucesso imediato, mas vendeu-se melhor e esgotou-se mais rapidamente. O romance, usado, comprei-o no Porto, nos finais dos anos 60, na Livraria Académica, por Esc. 100$00.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

J. P. Rameau / Il Giardino Armonico


3 escolhas pessoais de 2012



Já aqui no Arpose falei do agrado que tive, em 2012, em visitar três mostras de Arte, de indiscutível beleza estética. Uma, é permanente, e as outras duas são temporárias. A primeira na cidade belga de Antuérpia, a segunda, em Colónia, e a última, em Lisboa. Vou lembrá-las, para quem, porventura, as queira ver:
- A exposição, no Museu Gulbenkian, "The Ages of the Sea", que encerra a 27/1/2013.
- A mostra de David Hockney, na cidade alemã de Colónia. Fecha a 3/2/13, mas deverá itenerar para o Guggenheim, de Bilbau.
- Em Antuérpia, o maravilhoso Museu Mayer van der Bergh que alberga uma média colecção particular, que vai da Arte Sacra à pintura flamenga, iluminura, estatuária e livros. A casa, onde se encontra este precioso acervo, foi construída de raiz, no início do séc. XX, e, por isso, a inclusão das obras é adequada e perfeita. A monografia sobre o Museu, cuja capa representa uma imagem, em nogueira, de Cristo e S. João, do séc. XIII, foi executado pelo Mestre Heinrich de Constância.

Regionalismos minhotos (28)


Acabam-se, por hoje, os regionalismos iniciados pela letra P. Aí vão os últimos seis, transcritos da obra de M. Boaventura, já referida anteriormente:

1. Presigo - em Fonteboa chamam presigo à urina que deitam na hortaliça (Houaiss regista, aliás como eu uso e conheço: "designação genérica do que se come, sem prato, com pão [p. ex. presunto, azeitonas, queijo]; conduto").
2. Probinco - estroina.
3. Proento - basófia.
4. Pulinha - Galinha.
5. Punhado, punhão (de punho) - sopapo, bofetada.
6. Puto - dinheiro: "estar sem puto".


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Falemos de coisas práticas


Sempre achei que esta questão da produtividade, de que falam os nossos políticos de aviário e de boliqueime (que, como diz o povo, "nunca vergaram a mola"), era uma falsa questão. É bem possível, também, que as suas cabecitas e falta de experiência da vida prática, não dê para mais...Porque, parece-me, deviam era falar da cupidez excessiva de muitos empresários portugueses e da falta de organização de uma boa parte das nossas empresas. Mas é sempre mais fácil atribuir as culpas aos trabalhadores e operários.
Vamos a casos concretos. Recentemente, cá em casa, precisámos de comprar pinhões para fazer Mexidos à Minhota - doce de colher que não os dispensa. Numa grande superfície (Jumbo), 200 gramas de miolo de pinhão (da Ferbar) custavam 19,90 euros. Ou seja, quase 100 euros, o quilo - e desistimos, porque era demais. No dia seguinte fomos à praça ou mercado do Pragal e, numa das bancas, comprámos 100 gramas, por 6,60. Quer dizer que o quilo ficou a 66 euros - era caro, mas bastante mais barato do que na grande superfície, e era bom. Quosque quantum demonstrandum...
E, já agora, porque é que alguns dos nossos desempregados não vão por esses andurriais abaixo (que normalmente são maninhos), por onde houver pinheiros, começam a colher pinhas, arranjam um armazém de decasque, e montam um negócio?

Revivalismo Ligeiro LXXXIV : Bob Dylan


Sentenças ou máximas de um velho códice quinhentista (1)


1.
Quanto mais mundo envelhece
mais se entende que empiora,
quem mundo também conhece
e às suas leis obedece,
nele, está de si bem fora.
3.
Consolam palavras muito;
de grandes bens são o meio:
custam pouco e obram muito;
quem se dói do mal alheio,
no seu próprio fará fruto.
6.
Quem não sobe, pouco desce;
e não cai quem nunca salta;
quem não urde, pouco tece;
quem suas faltas conhece,
se não quer não cai em falta.

D. Francisco da Costa, in Cancioneiro chamado de D. Maria Henriques.

Nota: procedeu-se a algumas actualizações ortográficas.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Retro (18)


Lisboa de 1973, numa imagem de Alfredo Cunha.

Sobre as Greguerías de D. Ramón


Somam já 66, as greguerías de Ramón Gómez de la Serna (1888-1963), que tenho vindo a traduzir, ocasionalmente e com gosto de partilha, aqui, para o Arpose. O facto de ser uma escolha pessoal, implica a preferência subjectiva por aquelas que considero mais bem conseguidas, por acentuado humor, imaginação, concisão e até palpitação poética. Mas o caminho de D. Ramón foi longo, aperfeiçoado e consistente, nos propósitos e objectivos. As primeiras greguerías são de 1911, tinha ele, portanto, 23 anos; as últimas, datam do ano anterior à sua morte, ou seja, foram escritas em 1962. Se nas primeiras ressalta a imaginação transbordante e algum barroquismo, por vezes, até às finais há todo um processo gradual de depuração e concisão objectiva, quase aforística, onde porém  nunca falta o humor, a aguda observação e, com frequência, também a poesia do olhar. Para se ter uma ideia mais concreta deste percurso, vou traduzir mais 4 greguerías, da primeira fase (1911-1913), para se avaliar a diferença. Aqui seguem:

1. Na terra cortada a bisel vê-se, como num pão de especiarias, uma sementeira de ossos...Os ossos servem para fazer açúcar...Todos os ossos...Não pode ser mais jovial o seu objectivo.
2. De noite há muitos desastres nas estrelas, incêndios vorazes e insufocáveis. E o bombeiro divino, que faz?
3. Às vezes a cama é um abismo...Outras vezes é uma superfície branda, mas superficial...A cama tem noites em que é como se fosse de uma carruagem-cama, outras vezes parece de um camarote, outras, ainda, o catre de um presidiário; algumas, menos, a cama de um cão.
4. Oh! o nariz das mulas! O trejeito que fazem as suas narinas e toda ela é uma dor de nariz que chora.

As pequenas esperanças


Quase no final deste annus horribilis português de 2012, em que até os burlões mais nefandos (BPN) se podem dar ao luxo de passear, alegremente, pelas avenidas ensonadas (para não dizer complacentes ou, mesmo, cúmplices) da Justiça (?) lusa, há uma ou outra "pequenina luz bruxuleante" (Jorge de Sena) que não nos faz desesperar de todo.
É notícia, hoje, nos jornais, a tomada de responsabilidade da Câmara Municipal do Porto, sobre o espólio da Fundação Eugénio de Andrade, extinta em 2011, em parceria com a Biblioteca Pública da cidade. Atitude louvável e nobre de uma instituição, num país em que os bons exemplos escasseiam e onde a Cultura é mandada para as urtigas, por grande parte dos políticos.
Mas também é preciso dizê-lo, o duelo do protagonismo à custa do alheio, de uns, e a cupidez material, de outros, foram maioritariamente responsáveis pela liquidação da Fundação Eugénio de Andrade. Gentinha chula que se quis apoderar e viver à custa de um Nome.
A reedição da obra do Poeta pela Assírio e Alvim (grupo Porto Editora) é, também para mim, um motivo de júbilo e a garantia isenta da continuidade daquilo que, de bom, grande e nobre, Eugénio de Andrade nos deixou, para sempre.

Adagiário CXI : bruegheliano (5)


Aqui fica a quinta escolha que fiz, dos 12 pratos de madeira com expressões populares, pintados por Brueghel. O adágio não será muito claro, hoje em dia: "Sentar-se (ou, cair) entre duas cadeiras" (Tussen twee stoelen in de as zitten). Na minha leitura, ou interpretação (discutível), adaptar-se-ia a pessoas que não se decidem; que, entre o sim e o não, preferem dizer: nim... Ou que são excessivamente diplomáticas e, por isso, evitam tomar partido, entre 2 opções.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Claude de Sermisy (1490-1562)


arte menor (11)


Bicho-de-conta

Era um bichinho difícil,
que não dava nada.
Mas prometia.

Quando menos se esperava
era uma flor que se abria,

e andava.


Hollenweg, 25/11/12 - Sb., 25/12/12.

Mercearias Finas 66 : Vino Nobile di Montepulciano


Em diversos domínios, algumas coisas aprendi neste 2012, prestes a acabar. Até aqui, de vinhos estrangeiros, considerava particularmente dois: o Châteauneuf-du-Pape (francês) e o Barolo (italiano). Pois, agora, acrescentei, por mérito indiscutível, mais um vinho tinto italiano: o Vino Nobile di Montepulciano. Que à pujança do Barolo, associa uma flexibilidade de gosto que acompanha vários pratos, mas também uma elegância muito semelhante aos nossos melhores vinhos do Dão. Da Toscânia, é produzido nas cercanias da cidade de Montepulciano e há documentos do séc. VIII que já referem a sua excelência. O lote é composto pela casta Sangiovese, maioritária (cerca de 70%), com Canaiolo Nero (à volta de 20%) e o restante provém da casta Mammolo. Também há Montepulciano dos Abruzzo, mas não é tão bom, nem devemos confundi-los. O original fica em barricas, no mínimo, 2 anos, e pode ter uma longevidade que vai de 10 a 20 anos - é, por isso, um vinho tinto de guarda.
Nos meses de Novembro e Dezembro, tive ocasião de provar 3 marcas de Montepulciano e todos os vinhos eram muito bons. Acompanharam um Ossobuco à Romana, uns filetes de Rodovalho com molho de mostarda e uma tábua de queijos (ingleses, franceses e açorianos). Nas três ocasiões, o vinho italiano portou-se lindamente. Não sei se se conseguirá comprar em Portugal mas, com alguma dificuldade, eu distinguiria o que vai na imagem que encima este poste. Era da colheita de 2009, tinha 13,5º, e custou, num pequeno supermercado alemão, 5,99 euros. Merecia-os bem. Foi o que acompanhou os queijos.

Pablo Casals : "El Pessebre"


Esta oratória de Pablo Casals (1876-1973), "El Pessebre" (O Presépio), de que aqui fica um pequeno excerto, com letra de Joan Alavedra, foi estreada em Acapulco, em Dezembro de 1960. Mas, por óbvias razões, este cântico de paz catalão e universal, só foi tocado e cantado em Espanha, depois da morte de Franco.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Mexidos, ou Formigos, de Guimarães



De um livrinhos pequeno, na imagem, publicado em 1984 pelo Museu Alberto Sampaio, de Guimarães, costumo tirar as receitas para a doçaria natalícia, sobretudo quando me proponho a fazer mexidos, ou formigos, como dizem algumas pessoas.
O presente "post" destina-se a Margarida Elias, leitora atenta do ARPOSE, que não conhecia os mexidos antes de falarmos, aqui, deste doce, de base rústica. O pão como base enriquece-se com os produtos finos do agricultor, os pinhões, as uvas passas, as amêndoas, o mel e os ovos. Sai uma papinha doce, com o aroma do mel, quando ele é puro e não industrial, e o cálice do Porto. 
A feitura não tem grande segredo, a não ser a força do braço para "mexer", insistentemente, o miolo do pão até ficar papa. Ora, segue a receita:


Como não me lembrei de tirar uma fotografia aos nossos mexidos antes da consoada, escolhi uma foto, parecida, no grande banco de imagens da "net". Aqui vai:


Ficam na mesa de Natal durante vários dias, sempre a aguçar o apetite a quem passa pela sala.

Post de HMJ, dedicado a Margarida Elias

P. S. : aqui vai um "aggiornamento" de 15/12/ 2014 - a estimada próxima visitante será a 74ª, só neste mês de Dezembro de 2014, a cá vir. Espero que não seja mais uma  dessas platónicas donas de casa, de trazer pela Internet. Ao menos, tente lá fazer os mexidos vimaranenses, para a sua família...

Livrinhos 13


Será, porventura, um bocadinho "crescido" para inteiramente caber na rubrica Livrinhos. Mas é alusivo à época que atravessamos, e foi-me oferecido e enviado de Londres, por uma boa Amiga, no Natal de 1967. Estes Peanuts natalícios contam assim com a minha tolerância e condescendência, para aqui ficarem, reformulando as Boas-Festas.

Idiotismos 8


O mel, descontados os exageros miraculosos que lhe atribuem, serve para muita coisa. E, a primeira que me ocorre, é a sua utilização para fazer os Mexidos do Natal - doce de colher, nortenho, muito a meu gosto - que já estão feitos e repousam sobre a mesa da sala de jantar, para logo à noite.
Mas as abelhas, voadores simpáticos (ao contrário das antipáticas vespas), não só fabricam o mel, como também fazem cera. Ora este fazer cera explica-se pelo facto de as abelhas demorarem cerca de um ano, para construir os seus favos de cera. Assim, alargou-se o significado da expressão, às pessoas que fingem trabalhar, mas não o fazem.

Bach, pelo Natal

domingo, 23 de dezembro de 2012

Lêdo Ivo (1924-2012)


O poeta brasileiro Lêdo Ivo faleceu, hoje, em Sevilha.
Em sua memória, fica este vídeo em que o Poeta lê três dos seus poemas.

Mais um poema de Guillevic


A vida aumenta

Quando nos dizem:
A vida aumenta, não é

Que o corpo das mulheres
Se torne mais vasto, que as árvores

Se ponham a subir
Para cima das nuvens,

Que se possa viajar
Na mais pequena das flores,

Que os amantes
possam noivar dias inteiros.

Mas é, muito simplesmente,
Que ela se torna difícil
De viver unicamente.

Produtos Nacionais 9 : Calçada Portuguesa


Se a penca, pelo menos a Norte, as cenouras, o ovo cozido, a cebola e as batatas da Consoada de Natal,  serão, com certeza, nacionais, o bacalhau, o mais certo, é ter sido importado da Noruega e já não oriundo da Terra Nova e Gronelândia, onde os pescadores portugueses faziam, dantes, a sua faina todos os anos. Mas também é verdade que desprezámos, frequentemente, os artigos e a criação nacional, em benefício de produtos estrangeiros - nem sempre melhores. No plano material, mas também espiritual.
Raramente reparámos no chão que pisamos, muitas vezes de uma beleza surpreendente, a Calçada Portuguesa, essa criação retintamente nacional que, pela sua qualidade artística e motivos muito variados, alastrou ao mundo lusófono: a América, a África e a Ásia têm hoje calçada portuguesa em ruas e praças. Em basalto ou calcário, normalmente a preto e branco,começou a ser usada a partir do séc. XIX, em Portugal. E dá um aspecto encantador, quando não monumental, a muitos dos nossos largos e avenidas.

P. S.: não posso deixar de referir Margarida Elias que, no seu Memórias e Imagens, indirectamente, me deu a ideia, através de um poste, deste tema para esta rubrica.

De Natais antigos


"...Não, a vida não é uma festa permanente e imóvel, é uma evolução constante e rude. O Natal é a festa das lágrimas para todos aqueles para quem ele não é a festa da inexperiência. E todavia pensavam alguns que era útil não deixar de a celebrar. Que importa que o número ou que o nome dos convivas varie em cada ano? Que importa que alguns amados velhos faltem ao banquete? Que importa que nós mesmos faltemos para o ano que vem na festa dos mais novos?
Esta noite de alegria para as crianças será sempre de saudade para os adultos. Assim temos a esperança terna de sobreviver, por algum tempo, na lembrança dos que amamos - uma vez ao menos - de ano a ano."
Ramalho Ortigão, in As Farpas, tomo I.

"Ah! como eu tive inveja do saloio que parou o burro à porta de uma mercearia da Bitesga, para comprar as duas dúzias de broas da consoada; do pobre engraxador da esquina, indo à praça, com a mulher, de fato rico, apreçar um quarto de peru; da varina entrando na salsicharia, radiante, a comprar salsichas, ao fim de ter deposto a canastra à porta, rude presepe onde o filho loiro chuchava no dedo, com o ventre de sapo para o ar! Todas essas índoles do povo, roídas de penúria, vergadas de trabalho, primitivas, mas fecundas e convergentes, por uma fatalidade ancestral, à reedição das alegrias periódicas do ano, se me afiguraram infinitamente superiores à minha friável índole de janota céptico, demolindo no ar sem plano certo, negando pelo simples prazer  do paradoxo, incapaz de estabilidade num problema, constantemente à procura do novo, e em cada topo de colina voltando-se, desesperado de só ter achado gosto - ao que era velho. ..."
Fialho de Almeida, in Os Gatos, vol. V.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Divagações 36


Os dias recomeçaram a crescer, ganhando a noite. De algumas, embora já raras, chaminés, no horizonte, evola-se um fuminho ágil, entre o azul e cinzento que, com a noite, enegrece. Porque também nalgumas, poucas, cozinhas interiores, mãos femininas, dedicadas, vão preparando coisas doces, natalícias.
Não há maneira de não sentirmos a atmosfera, este aconchego, talvez pueril, mas sossegado que nem uma constipação forte e inesperada consegue anular, por entre os espirros resilientes (ó economês da modernidade!), que nos desarrumam a mesa, o corpo e a cabeça. Valham-nos os lenços abundantes...
Amanhã, há cordeiro, anho ou cabrito de leite. E um "D'Eça" 2011, tinto de vinhas novas, para provar (felizmente que não tenho de ir ao Colombo ou ao Vasco da Gama, essas catedrais de massacre do consumismo militante, tão ao gosto do pagode - as viandas e líquidos já estão em casa...).

para HMJ.

Carl Friedrich Abel (1723-1787)


Adagiário CX : com Brueghel


Mais de 4 séculos passados, sobre estes ditados ou expressões populares, com que Brueghel ilustrou os 12 pratos de madeira, alguns deles perderam talvez pertinência e actualidade. Outros, ainda, são já de difícil interpretação. Não será o caso deste, que seleccionamos para hoje e nos diz: "Levar numa mão o fogo,  noutra mão a água" (In de ene hand vuur, in de andere water dragen). Que, no meu entender, significa que devemos usar de prudência nas nossas acções ou caminhos que tomarmos.

Comic Relief (58)


A imagem é do jornal Público, de hoje, e não sendo, porventura, a melhor foto do ano, no tema Política é seguramente um dos melhores Apanhados de 2012.
Porque a compostura teatral do orador é destruída, liminarmente, pelo bocejo pantagruélico e monumental do turbo-doutor. E o que fará, por ali sentado, o rapaz do orfanato, em tão sinistra companhia?

As novas livrarias?


A notícia, lida no "Obs", deixou-me perplexo, mas curioso.
Para lutar contra a concorrência da Net e das novas tecnologias que, apoiando a leitura, prejudicam, irremediavelmente, o comércio livreiro, foi inventada uma máquina, em 2007, que produz livros, em cerca de 5 minutos, já encadernados - se for essa a opção do comprador. A reprodução abrange, para já, 8 milhões de títulos e o preço de um livro de 100 páginas é de 4,50 euros. Até hoje, foram vendidas cerca de 60 destas máquinas especiais que ocupam um espaço de 2 metros quadrados e a que chamam provisoriamente Espresso Book Machine (EBM). Trinta delas estão em funcionamento nos E. U. A., 1 em África, e as restantes, estão espalhadas pelo mundo. O preço da EBM é alto: 70.000 euros. Mas se tiver uma produção a tempo inteiro, o investimento pagar-se-á em 11 anos.
Em Santa Cruz, na Califórnia, há uma destas novas livrarias. Não tem livros, mas muito papel em branco e uma enorme máquina, no centro da loja, onde existe apenas um empregado que, provavelmente, pouco saberá de obras literárias, mas domina muito bem o trabalho informático. O presumível leitor-comprador entra e pede, por exemplo, um exemplar de "Madame Bovary", ao empregado. Este sintoniza a EBM, fazendo a ligação para um banco de dados, e põe-na a trabalhar, enquanto o freguês vai tomar um café. Quando regressar, o livro está pronto para ser levado e lido. Evitam-se os fundos, o transporte e as devoluções. Mas creio que se perde, no meio disto, alguma coisa...
Talvez para efeitos de propaganda, foi lançado um concurso para dar um nome mais simpático à máquina EBM. Há já algumas sugestões, no ar: Opus, Lurch, Homer, Gutenborg.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Memória 75 : Paco de Lucía


Paco de Lucía completa hoje 65 anos.

A par e passo 21


Aquele faz momices, nas minhas costas. Apanhei-o, desprevenido. Então, ele recomeça a frio os seus trejeitos para me fazer crer que isso era um produto involuntário do seu sistema nervoso - um tique.
Ele prefere parecer um pouco doente do que passar por um rapazito mal educado...
...
A consciência tem horror ao vazio.
...
O trabalho de definir começa no nascimento.
Se na idade de 40 anos eu quero criar uma definição - esta definição implica directamente um trabalho que se estende a toda a minha história anterior.

Paul Valéry, in Tel Quel II (pgs. 178, 180, 181).

Os nossos melhores votos


Em tempos não muito longínquos, hoje, seria o último dia para enviar os cartões do Boas-Festas. Os CTT eram eficientes e pontuais, havendo a garantia, nessa altura, que os cartões seriam entregues a 24/12. Agora, só com imensa sorte e correio azul, haveria a hipótese (remota) de eles chegarem a tempo.
De qualquer forma, e de maneira mais expedita, daqui desejamos um Bom Natal e um Ano Novo de 2013, esperançoso, aos nossos Amigos, estimados Seguidores e visitantes anónimos do Arpose.


Uma louvável iniciativa (14) : na Gulbenkian


Como todos os anos, nesta altura, a Fundação Calouste Gulbenkian promove a sua Feira, denominada Festa do Livro, até 23 de Dezembro de 2012, com venda das suas publicações a preços com desconto, muitas vezes substanciais. As "Colóquio" temáticas (presentemente) custam apenas 6,50 euros, ou seja, metade do preço habitual, mas também há catálogos de exposições passadas, obras científicas, etc..
De caminho, e juntando o útil ao agradável, poderá ver-se, ou até revisitar a magnífica exposição denominada "As Idades do Mar". São, no meu entender, duas boas oportunidades culturais importantes.

As parvas crendices


Ainda não foi desta que o Mundo acabou. A morte de cada um é o fim do mundo, para cada qual. Mas o que será que motiva um fabiano a pré-anunciar a destruição colectiva da Humanidade? O desejo de não ir sozinho, a ânsia de protagonismo espectacular, a astrofobia? Eu julgo que, basicamente, uma crença irracional estúpida e um medievalismo mental desarranjado. Propagandeados, depois, pelas cabecinhas ocas dos media que, às vezes, têm falta de assuntos.
Desta vez, o fabiano aldrabão e catastrofista veio da América - onde o grande avanço tecnológico e científico anda paredes meias com uma ignorância rústica e cavernícola - e tem nome. Chama-se Jose Argüelles, através do livro "O factor Maya", publicado em 1987. Que, para além de interpretações delirantes e abusivas, se dignou, com pompa e circunstância, marcar para hoje, 21 de Dezembro de 2012, o fim do mundo, baseando o facto nos Codex mayas. O fabiano Argüelles juntou-se assim ao grupo de charlatães onde pontifica o conhecido Nostradamus.
Que venha o próximo aldrabão!

Nota: em imagem, reprodução do Codex Troana (Maya), representando a deusa da Tempestade.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

De Jorge de Sena para Ramos Rosa


"...Não serei eu quem a V. desanime como crítico: antes pelo contrário. No entanto eu entendo que, para falarmos de qualquer coisa, precisamos de estar num domínio do conhecimento mais vasto que ela. Quer isto dizer: a menos que pretendamos ser um crítico literário daqueles cujas subtilezas poéticas encantam o leitor com gostos barrocos, para sermos críticos realmente literários temos de estar culturalmente para além da literatura. Quando fazemos crítica de poesia - eu e V. -, parece-me que não podemos misturar (ou tomar um pelo outro) o dom da experiência e juízo que a poesia própria, ou alheia à luz desta, nos dão, com realmente a objectividade crítica que só conhecimentos de certo modo estranhos à experiência poética (de certo modo apenas, pois que tudo sendo nosso ilumina e proporciona a experiência) nos garantem. ..."

Jorge de Sena, em carta de 17/3/1953, para Ramos Rosa.

Gaetano Donizetti : "Il campanello di notte"


Da cor isabel, a história

Da cor de burro quando foge, sabia eu, agora da cor isabel, aplicada a cavalos, nunca em tal ouvira falar, se não fora, há dias, um meu Amigo se lhe ter referido. Ora, ao que parece, diz-se assim do cavalo de cor entre o amarelo e o branco. E, a história, conta-se em poucas palavras. A filha de Filipe II, de nome Isabel Clara Eugénia de Áustria (1556-1633), que acompanhou o marido, no cerco a Ostende, prometeu que só tiraria a camisa (interior), quando a praça se rendesse. Ostende resistiu quase três anos. E a camisa quando foi mudada estava bastante acastanhada, pelo tempo e sujidade...
Antero de Figueiredo usa "das isabéis, dos alazões doirados", no seu Espanha, e a Enciclopédia Luso-Brasileira também regista o significado. Não o teria sonhado Isabel d'Áustria, aquando da promessa!
Ou teria sido, talvez, mais comedida...

abraço grato a A. de A. M..

Quotidiano simples e cru (não aconselhável a almas sensíveis)


Se seguirmos pela rua do Arco de Cima, havemos de chegar a uma praça vazia. O relógio de S. Vicente já bateu o meio-dia, há muito. O homem, de rosto muito desgastado pelas  rugas da vida, sentado na mesa da esplanada, lê, anota a lápis, e comenta, em voz alta, para o vizinho gordo e indiferente, o jornal desportivo, da primeira à última página - há quem passe a vida nisto, e seja feliz...
A feira que, às terças e sábados, é da Ladra, está vazia, mas a Praça é acariciada por uma luz outoniça e amena de morna brandura. A Márcia ciranda atenta e agradece, de cada vez que nos serve. Vai ter férias, mas não tem dinheiro junto que lhe dê para ir ao Brasil. Entretanto, há um crápula - leio no jornal - que se demitiu da CGD, incomodado com as Finanças.
Pela fotografia, vejo que engordou bastante: está nédio e luzidio - parece um porco. E está inchado de importância balofa. Volto a perguntar: por onde andarão as FP-25? A matança dos leitões também pode ser antes do Natal.

Descrição da manhã


Ainda não são 8 horas, quando o sol, ao longe, começa a ganhar corpo e luz, por trás das altas chaminés do Barreiro. Reflecte-se na inclinação oblíqua e húmida dos telhados, ainda molhados da chuva nocturna.
Mas, pouco depois, um véu diáfano de nuvens médias entre cor de laranja e cenoura tapam-lhe o brilho e absorvem-no de todo, num abraço de penumbra. Surgiu uma pomba solitária no terraço da casa defronte e duas gaivotas parecem patrulhar o rio, a meia altura.
Faz-se ouvir o ronronar de um avião, que vai alto e invisível. Em baixo, o sacolejar metálico do eléctrico, nos trilhos, arranha o silêncio matinal. Uma segunda pomba, arrepiada, faz a sua aparição, e o sol ressurge, em plenitude.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Música e Poesia XLIX : Léo Ferré



Recomendado : trinta e quatro - Sena/Rosa


Saíu recentemente (Outubro) na Guimarães. Troca de ideias de duas vocações poéticas, mas, simultaneamente, duas agudas consciências críticas: Jorge de Sena e António Ramos Rosa. A não perder esta Correspondência entre 2 amigos. E será, com certeza, uma boa prenda de Natal.

Um poema de Guillevic (1907-1997), traduzido


Pratos em faiança usados
Donde o branco se vai desvanecendo
E que vieram novos
Para a nossa casa.

E nós, entretanto, fomos aprendendo,
Com o tempo, imenso.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Citações CXVII : François de Mauriac


O rosto de algumas mulheres, mesmo na maturidade, permanece banhado pela infância, e é talvez a sua eterna infância que fixa o nosso amor e nos resgata do tempo.

François de Mauriac (1885-1970).

Locatelli / Koopman


Diário presente do conjuntivo


Os influxos benéficos da minha viagem intempestiva, de Novembro, já quase se desvaneceram, no tecto baixo da desesperança lusitana. Voltaram as harpias e pitonisas da desgraça, nos telejornais, os títulos cadavéricos dos periódicos macabros (que o sangue sempre se vendeu bem), regressou o manequim de Belém com os seus esgares e tiques estandardizados para dizer nada. Voltou o coelho manso de voz estudada, enquanto o mago contabilista e sádico gaspar vai perorando sibilino - por onde andarão as FP-25?
Os amigos emagrecem, vão-se deprimindo à "apagada e vil tristeza" camoneana. Outros ainda esbracejam, num afogamento psicológico que não tem fim à vista. Parece que vamos todos feridos de morte. Mas é evidente que a 21 não vai acabar o mundo...

A pátina do tempo


Em meados do século passado, as garagens colectivas, que alugavam espaços para carros particulares, eram enormes edifícios, quase sempre térreos e, por vezes, sumptuosos. Os parques subterrâneos e as pequenas garagens individuais, junto das casas particulares, ditaram a sua decadência e morte, pouco a pouco.
Na fotografia da direita pode ver-se a"Auto-Garage Avenida", em Guimarães, nos seus tempos áureos. Nas duas outras fotografias, o presente e actual estado de decadência e agonia.

Com os melhores agradecimentos a M. S. C..