terça-feira, 15 de novembro de 2011

Uma história de amor


Guardaram-se, sempre, uma fidelidade muito particular. Mas nunca mais se viram. Que poderia o Tempo acrescentar à decrepitude dos corpos ou à decadência do espírito? Mágoa ou repulsa?
Mas, com exacta fidelidade amorosa, telefonavam-se três vezes por ano em datas precisas, cedo no dia, quando as vozes estão frescas, claras e amanhecidas. E tudo parecia reverdecer.
Quando C. me perguntou, há dias, se sabia como estava o M. G., eu, que estava ao corrente, disse-lhe, quase contrariado, que ele tinha morrido em Outubro. Aparentemente, ela ficou impassível e inexpressiva.
Mas depois, muito lentamente e em voz velada, soletrou quase: "- Eu sabia...desta vez, não me telefonou..."

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