A divulgação de inéditos póstumos de escritores falecidos, por parte de familiares, amigos ou admiradores, colhe normalmente alguma perplexidade e divide críticos e leitores. No entanto, a não acontecer, não teríamos tido acesso, por exemplo, às esplêndidas obras de Cesário Verde e à Clepsidra, de Camilo Pessanha, que, se não fossem os cuidados da família Castro Osório, teria ficado sepultada na acédia ou abulia do Poeta. É óbvio que a decisão de publicar inéditos implica conhecimentos literários e, antes de mais, sentido crítico e estético por parte do decisor.
No sentido favorável se pronuncia, de algum modo, J. M. Coetzee (1940), em Textos sobre Literatura (2006 -- 2017), assim: " Se Brod tivesse cumprido as determinações de Kafka, não teríamos nem O Processo nem O Castelo. Como consequência de sua deslealdade, o mundo não só ficou mais rico como se viu transfigurado, metamorfoseado. Assim o exemplo de Brod e Kafka não deveria bastar como prova de que os testamenteiros literários - e talvez os testamenteiros em geral - devem dispor da liberdade de reinterpretar as suas instruções à luz do bem de todos?" (pg. 278)
Um dos maiores barretes que comprei na vida foi um livro de "inéditos" da Enyd Blyton, que tinham sido encontrados numa arca no sotão ...
ResponderEliminarBom dia
Não se pode "dignificar" tudo o que ficou inédito: há que ser muito cuidadoso.
EliminarE o maior problema é se o objectivo é ganhar dinheiro ou a ganância...
Bom dia.
Ando por acaso agora com uma situação semelhante entre mãos. É difícil decidir entre respeitar a vontade do falecido e divulgar uma obra que pode ser interessante (e mesmo de grande qualidade). Bom dia!
ResponderEliminarO dilema é, quase sempre, oscilarmos entre o sentimentalismo e a frieza crítica... Não é fácil.
EliminarBom dia.