sábado, 30 de outubro de 2021

Lembrete 86



É a única altura em que o futuro parece ser passado... mas por pouco tempo. 

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Um CD por mês (27)


Creio que foi na penúltima década do século XX que eu me comecei a interessar pelos trabalhos musicais de Jordi Savall (1941) e as suas interpretações de viola de gamba. Com ele vinha também, algumas vezes, a magnífica voz de Montserrat Figueras (1942-2011), sua mulher. Saval é um estudioso de música antiga e de várias origens. Num seu texto sobre música céltica afirmou: "Se o rosto é o espelho da alma, a música de um povo é o reflexo do espírito da sua identidade, com origem individual, mas que toma a forma ao mesmo tempo que a imagem dum conjunto cultural próprio e único." 
Os seus primeiros contactos com a música celta datariam dos anos de 1977 e 1978.
O CD, com capas na imagem abaixo, e com belíssima qualidade estética gráfica, tê-lo-ei comprado por volta de 2010. Editado pela Alia Vox, e gravado em 2008, nele Jordi Savall é acompanhado pelo harpista inglês Andrew Lawrence-King (1959).



quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Azulmente

 



quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Balanço da safra de 21


 
Não terá sido um ano agrícola clássico, antes atípico ou estranho, tal como o entendemos, este de 2021. Se o limoeiro a leste produziu bem, registando um recorde de 11 limões (o máximo anterior  era de apenas 7), que lá vão crescendo lenta mas consolidadamente, a pequena oliveira a sul teve fases complicadas aparentando azeitonas enrugadas, que pareciam acusar um stress hídrico que, na verdade, nunca existiu. Os pequenos frutos apresentavam, na altura da colheita, cores e maturações muito diversas. (As azeitonas estão a curtir, presentemente.) Ainda assim a oliveira produziu 62 azeitonas, longe de máximos anteriores, mas correspondendo a um ano de média produtividade.



segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Citações CDLXVI


 
As máximas são como os números, que compreendem grandes valores em poucos algarismos.

J. J. R. de Bastos (1777-1862), in Collecção de Pensamentos... (1854).

domingo, 24 de outubro de 2021

Osmose 122


Nunca, com a extrema nitidez minimalista de ontem, eu lhe tinha notado e sentido os sinais físicos, na pele. Do frio. Quase inconscientemente fui buscar a camisola de caxemira para me agasalhar. Mais tarde, talvez por volta das 18h30, comecei a sentir os pés a arrefecer. Ambos, enquanto me sentara a ver o Dossiê Pelicano (1993), de Alan J. Pakula, com o jovem Denzel Washington e a ainda muito mais nova Julia Roberts. Depois, foram as mãos: primeiro a esquerda; e aí uns vinte minutos a seguir, a mão direita a ficar fria. O Outono tinha marcado presença, pré-anunciando o Inverno que viria a seguir. De forma indesmentível, apesar do Verão de S. Martinho andar  por aí, com o seu solzinho ameno enganador...

sábado, 23 de outubro de 2021

Da leitura 48



Sanary, 13 de Maio de 1931. E se o gosto pelo mundo das imagens se alimentar de uma obscura resistência ao saber? Contemplo a paisagem: ali está o mar na baía, raso como um espelho, grandes bosques ascendem como massas imóveis e mudas ao cimo do monte; no topo, as muralhas do castelo em ruínas, tal como se encontram há séculos; o céu limpo em "perpétuo azul" brilha e resplandece. Assim o deseja o sonhador que se encontra absorto na paisagem. A cada instante, esse mar sobe e desce em milhões de ondas, os bosques tremem a cada instante das raízes à última folha. (...)

Walter Benjamin (1892-1940), in Sonhos (pg. 89).

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Retro (109)



O Guia de Portugal-Lisboa Illustrada  (Typographia da Casa de Inglaterra, 1880) refere nos Arredores de Lisboa: ...verdadeiro sacrificio, pelos transtornos que a muitos occasiona, e pela privação que a todos vexa e afflige, embora seja limitada a um curto periodo, que a natural impaciencia, depois d'uma longa viagem, faz parecer sempre grande.
Tratava-se da quarentena para os que vinham de fora, em tempo de epidemia. E que eram acantonados no Lazareto, situado na Outra Banda.



Mais concretamente na Trafaria, na chamada Torre Velha, também conhecida por Torre de S. Sebastião de Caparica, e que servira de prisão, no século XVII, a D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666). E onde dizem ter escrito a sua Carta de Guia de Casados (1651).
Com a irrupção da febre amarela, por volta de 1857, a torre veio a sofrer obras vultuosas e de adaptação, para ser usada como Lazareto de Lisboa.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Uso Pessoal 16



Quando eu andava por fora, em actividade própria ou profissional, a ausência de um bloco na algibeira fazia-me quase tanta falta como o esquecimento do relógio, em casa. E, muitas vezes, acabava por comprar, num quiosque ou papelaria, um novo bloco de bolso, quadriculado ou de folhas em branco. Os moleskines ficavam, domesticamente, à espera de escritas mais sérias. Que os pequenos blocos notas destinavam-se a apontamentos ligeiros ou pequenos lembretes.




Foi assim que quando a reforma chegou, e a escrita era mais de interiores, se me deparou uma bem medida dezena de blocos dos mais variados feitios e marcas, alguns semi-usados, outros quase novos em bom estado. Na imagem de cima situam-se os dois maiores (16 por 9cm.), sendo que o verde é de origem francesa e o outro, com 64 páginas, é alemão, tendo-me custado 1,99 euros.
Os três pequenos blocos da segunda imagem são todos de origem nacional.

Revivalismo Ligeiro CCXCVIII

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Pinacoteca Pessoal 178



Não fora HMJ, e eu não teria dado por por este pintor renascentista singular que tem o nome de Hans Kemmer (1495-1561), alemão provavelmente de Lübeck, e que foi identificado e referenciado em tempos recentes. Ao que parece, terá acompanhado Lucas Cranach, o Velho (1472-1553), entre 1515 e 1520, e, provavelmente, com ele terá aprendido o ofício. Muito bem, atrevo-me a dizer.




O St. Annen-Museum, de Lübeck, no próximo dia 24/10, inaugura uma exposição com obras de Kemmer (poucas conhecidas) e Cranach, numa mostra comparativa, que se prolonga até 6/2/2022.

Desabafo (66)


Poupem-me, por favor!
Que eu já não consigo ouvir mais a frase: "À justiça o que é da...".

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Casa Branca (Alentejo)



À espera de Godot, ou de outra individualidade menos conhecida? Mas notava-se que eles tinham todo o tempo felino do mundo. E mais 6 vidas cada um, se fosse preciso...

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

domingo, 17 de outubro de 2021

Memorabília (19)



Em tempos, que hoje me parecem imemoriais, adquiri na rua do Alecrim, nº 44, em Lisboa, ao alfarrabista sr. Tarcísio Trindade (1931-2011), um conjunto  dos 12 primeiros números da celebrada revista Seara Nova, encadernados pela própria empresa. O lote custou-me Esc. 1.200$00, modestos.




Gradualmente, e a pouco e pouco, fui comprando, creio que no mesmo local, alguns outros números soltos da revista, sempre dos mais antigos. No grupo se inseria o nº 51, de 15 de Agosto de 1925, que tem uma capa impressiva, curiosamente e quando nada o fazia prever, do escritor José Rodrigues Miguéis (1901-1980).
Este poste acaba por ser uma parceria geminada com outro poste de MR, no seu Prosimetron, que celebrou, na altura própria (15/10/2021), o centenário da famosa revista portuguesa.

Máxima definitiva (?)

 

Realmente, viver à superfície, ou em profundidade, no remate final não fará grande diferença, no balanço.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Memória 140

 


É sempre muito difícil evitarmos e escaparmos a este tipo de coscuvilhice nobre... Até no Le Monde.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Curiosidades 88

 

Sempre foi homem de excessos e de feitio arrebatado, este António da Fonseca Soares (1631-1682), poeta barroco, filho de um português e de uma irlandesa, que, na Guerra da Restauração e no Brasil, para onde fugiu por ter matado um semelhante, era conhecido por Capitão Bonina (talvez por fazer versos). Viria mais tarde a recolher-se ao Convento de Varatojo, por volta de 1632, tendo professado sob o nome de Fr. António das Chagas. Extensa obra, muitos inéditos manuscritos.
Eram carismáticos e impressivos, porém, os seus sermões fidelizando as almas dos seus ouvintes. E utilizando uma panóplia de efeitos que o Padre António Vieira (1608-1697) refere em carta para o diplomata Duarte Ribeiro de Macedo (1618-1680), deste modo:
"... e hoje se chama Frei António das Chagas. Haverá dois ou três anos começou a pregar apostolicamente, exortando à penitência, mas com cerimónias não usadas dos Apóstolos, como mostrar do púlpito uma caveira, tocar uma campainha, tirar muitas vezes um Cristo, dar-se bofetadas, e outras demonstrações semelhantes, com as quais, e com a opinião de santo, leva após si toda Lisboa. ..." 

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Um poema, desta vez completo, de Eugénio de Andrade



Uma boa parte dos últimos poemas escritos por Eugénio de Andrade (1923-2005) aproximam-se da prosa - ele mesmo o refere: Chega ao fim o verão, resta-me agora/ a poesia a caminho da prosa.
Os versos compõem entretanto pequenos instantâneos que se agrupam com hábil mestria, criando conjuntos visuais a que o movimento dá força e  imagem e que, parecendo prosa, não deixa de ser poesia.
Cria-se assim uma atmosfera encantatória percutindo a memória, como aqui neste poema:

No fim do verão

No fim do verão as crianças voltam,
correm no molhe, correm no vento.
Tive medo que não voltassem.
Porque as crianças às vezes não
regressam. Não se sabe porquê
mas também elas
morrem.
Elas, frutos solares:
laranjas romãs
dióspiros. Sumarentas
no outono. A que vive dentro de mim
também voltou; continua a correr
nos meus dias. Sinto os seus olhos
rirem; os seus olhos
pequenos brilhar como pregos
cromados. Sinto os seus dedos
cantar com a chuva.
A criança voltou. Corre no vento.


Eugénio de Andrade, in O Sal da Língua (1995).

domingo, 10 de outubro de 2021

Divagações 174

Hoje, que vou jantar, à sobremesa, um diospiro, de tarde andei a folhear, relendo, O Sal da Língua (1995), que é um bom livro de Eugénio de Andrade (1923-2005) para se ler nesta estação (Se deste outono uma folha,/ apenas uma, se desprendesse...). Mas os espíritos vão ligeiros, com este calorzinho brando que sobe pela tarde e nos pode ainda deixar amodorrados, até chegar a noite fresca. Virão a despropósito, hoje, que aqui queria exarar uns versos, mas aqui as deixo. A duas quadras populares, de que gostei, e que respiguei de um outro livro mais simplório nos seus propósitos:

Entre pedras e pedrinhas
nascem folhinhas de salsa;
mais vale uma feia e firme
do que uma bonita e falsa.

Manuel cachinho d'uvas,
apanhado na parreira,
não sei se te coma agora,
se te guarde para a ceia.

Citações CDLXV



Uma certa dose de estupidez é necessária para fazer um bom soldado.

Florence Nightingale (1820-1910), in Letters (1890).


sábado, 9 de outubro de 2021

Bibliofilia 192



Os três exemplares do Amor de Perdição (1862, Porto, em casa de N. Moré), de Camilo Castelo Branco (1825-1890), que possuo, são todos de edições vulgares e datam já do século XX. No entanto, desses, aquele de que mais gosto (34ª edição) é do ano de 1920, e foi editado pela Companhia Portugueza Editora (Porto).




A capa do livro tem um desenho que parece de influências góticas (?), sendo interessante e original. O volume contém um valioso estudo de Camilo, de 1863, que ocupa LXXXIV páginas. E a obra ostenta na capa interior o ex-líbris de um anterior proprietário (Luiz Cunha), com o número 206.




Bem encadernado e em excelentes condições, esta edição, desvaliosa que seja, custou-me, há uns bons anos, num alfarrabista de Lisboa, a módica quantia de 12 euros.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Uma fotografia, de vez em quando... (151)



Nascido em França, com origem numa família judia da Lituânia, o fotógrafo Willi Ronis (1910-2009) teve como pai um artífice do ramo, que se tinha estabelecido em Montmartre, no início do século. As suas influências mais marcantes terão sido Cartier-Bresson e R. Capa. Mas o seu cenário predominante terá sido Paris e a sua população e costumes.





Trabalhou para a revista Vogue, tendo deixado de exercer a profissão a partir de 2001.




quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Ideias fixas 64

Para muitos, intercalar os textos ou discursos, copiosamente, de estrangeirismos, será talvez um sinal de cosmopolitismo e ampla cultura; para alguns outros, porém, é um indício seguro de saloiíce mental.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Fernando Echevarría (1929-2021)



Vão-se os poetas, às vezes discretamente. Falecido ontem, só hoje soube da morte de Fernando Echevarría. Enquanto o meu amigo António foi vivo, eu ia sabendo notícias dele e recebendo os livros de poesia, autografados. O meu amigo ia, por vezes, fazer-lhe uma surpresa de manhã, ao café da Foz, aonde ele estava, invariavelmente, a escrever poemas, na mesa da janela, frente ao mar. E foi aí que o António lhe tirou a fotografia que encima este poste.



Em 1993, no jornal Letras & Letras, do Porto, publiquei um breve apontamento em que referia o seu livro Figuras (1987), que Echevarría agradeceu, no simpático postal reproduzido acima.

Da República



 "... A diferença entre uma aristocracia e uma democracia é que numa aristocracia os governantes são uma classe, especialista pelos hábitos e tradições e aprendizagem de governo, como os sapateiros, os alfarrabistas e outros artistas no seu ramo; ao passo que numa democracia os governantes são, não uma classe, mas uma acumulação de indivíduos. ..."

Fernando Pessoa (1888-1935), in Da República (Ática, 1979), página 152.


(Teoria altamente discutível, porventura...)

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

O estado das (des)Humanidades



Comprei há dias, a preço de saldo (6 euros), um conjunto de ensaios camonianos muito interessantes, editados pela Livros Cotovia (2008), e de autoria do professor catedrático Vítor Aguiar e Silva (1939). Escritos de uma forma simples, trazem uma série de achegas fundamentadas sobre a obra lírica e épica de Luís de Camões. Aquando do lançamento, a obra custava 25 euros.
Exactamente há 40 anos (1981), os Arquivos do Centro Cultural  Português, em Paris, da Fundação Calouste Gulbenkian, produziram um grosso volume de 858 páginas, todo ele dedicado a Camões e à sua obra. Os ensaios pertenciam e contavam 21 camonistas portugueses, bem como acolhiam estudos de mais 18 colaboradores estrangeiros. Grande parte deles ensaístas de renome.
O preço reduzido de saldo que referi, no início, é um seguro indício do desinteresse que a obra terá despertado. Simultaneamente, hoje, eu teria extrema dificuldade em nomear 5 nomes, para além de Aguiar e Silva, de camonistas de reconhecido mérito, a leccionar em universidades portuguesas...

Fernando Assis Pacheco (1939-1995), em sequência natural... e a Galiza


Não creio existir assim um testemunho português registado sobre FAP. Mas a Galiza, ao menos, não o deixou passar em branco, legando-nos esta pequena e viva gravação do poeta português, cujo avô era galego.

Lembrete 85



A editora manifesta-se pela qualidade do que edita. Os dois livros saíram em Julho e Agosto deste ano, respectivamente. Quanto aos autores, creio que não vale a pena enaltecê-los. É certo que não iniciei ainda a leitura de nenhum dos volumes, mas sei que não irei ser defraudado ou desapontado...
E ainda que eu não aprecie o futebol, tal como ele é praticado hoje em dia, recomendo ambas as obras, em louvor da boa disposição.



domingo, 3 de outubro de 2021

Da contiguidade, comparação e qualidade



Por mero acaso e com uma pequena descontinuidade temporal, por desfastio também, deu-me para rever, no mesmo dia, dois filmes de duvidosa qualidade (O Nome da Rosa, de 1986, e 007 Spectre, de 2015). Se o filme da saga Bond é uma pepineira deslavada, até pelo fraco desempenho de Daniel Craig e o banalérrimo enredo da película, o filme baseado no conhecido livro de Umberto Eco (1932-2016) salva-se pelo bom trabalho de Sean Connery (1930-2020), como William de Baskerville, e ainda pela representação muito razoável de F. Murray Abraham (1939), no papel do inquisidor Bernardo Gui. Actor este que, já em 1984, compusera um Salieri inesquecível no Amadeus, de Milos Forman (1932-2018).
Adenda minha pessoal para dizer que sempre considerei Sean Connery como o mais convincente James Bond da série cinematográfica, baseada na obra de Ian Fleming (1908-1964).

sábado, 2 de outubro de 2021

Antologia 4

 

Reproduzem-se as páginas 12 e 13 do livro Sobre o lado esquerdo (Iniciativas Editoriais, 1968), de Carlos de Oliveira (1921-1981). Poeta que, ultimamente, não tem sido muito lembrado... apesar do centenário do seu nascimento.




sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Josef Suk (1874-1035)

Adagiário CCCXXVII

 

Com malvas e água fria, faz-se um boticário um dia.