Preparem-se, porque a citação é longa, ao contrário do que é habitual. E tem como autora uma dissonante ou dissidente (ou demitida?) ex-colaboradora das bem pensâncias directoriais do Expresso, que já tinham posto a andar António Guerreiro por não fazer as delícias tranquilas do leitor-médio do excelso e pio semanário do regime. Aí vai, então, na voz livre de Ana Cristina Leonardo (1959) e da sua crónica na ípsilon, do jornal Público (13/11/2020):
"...Por cá, neste «ano introspectivo» - seja lá o que isso for que a expressão não é minha - as editoras continuam a publicar e muito, apesar da suspeita de que, nesse muito, o que não faltarão são os «cagalhões líricos que por aí andam, passeiam e triunfam» de que falava em tempos um editor infelizmente desaparecido, Vitor Silva Tavares. Auschwitz, por exemplo, mantém-se em alta não só como tema, mas também nos títulos.
Ele há fotógrafos de Auschwitz, tatuadores de Auschwitz, mágicos de Auschwitz, gémeas de Auschwitz, farmacêuticos de Auschwitz, bibliotecárias de Auschwitz, violinos de Auchwitz, bebés de Auschwitz..."
Nota pessoal: nunca será demais falar deste oportunismo nojento e chulo de algumas editoras e autores mercenários. Eu próprio já aqui o tinha feito em 14/10/2020 (Ideias Fixas 59).
Parece-me que Vítor Silva Tavares estava a apontar as baionetas à poesia, afirmando de um modo vernáculo aquilo que Antero tinha escrito a Oliveira Martins: «Os versos são a praga da literatura portuguesa pelo caráter banal que a versalhada imprime a todos os jornais literários».
ResponderEliminarQuando vou ao super passeio-me sempre pela zona de livros e realmente o que por lá pulula de livros sobre Auschwitz... Só espero é que essas leituras deixem uma semente na cabeça de quem os lê para que não tenhamos novos Auschwitz.
Temos umas versões nacionais: «O Mágico de Auschwitz» e «O Manuscrito de Birkenau».
Bom domingo!
O pai de "O mágico..." já tinha cavalgado, até à exaustão, o Dan Brown - é um mero plumitivo copiador sem princípios nem ética. Mas também a maioria dos leitores não têm um resquício de sentido crítico ou noção de leituras de qualidade - vão-se servindo da lavadura... Têm o que merecem.
EliminarQuanto à "poesia", isto creio que ainda está pior que no tempo do Antero!
E, depois, não há ninguém (críticos) que expurgue os dejectos.
Bom resto de Domingo.
Com esta pandemia tenho andado longe das livrarias e com saudades das Bibliotecas para reler os "meus livros". Recordo-me do título "Lisboa Nazi", cujo livro li (emprestado) e achei de um enorme oportunismo e que faz companhia aos livros que refere com Auschwitz no título.
ResponderEliminarDesejo-lhe um bom domingo!
Vou meter aqui o bedelho porque é uma matéria - Lisboa e a II Guerra -que me interessa:
EliminarLisboa nazi é bastante fraco. O melhor desses livros é, quanto a mim, Passagem para Lisboa de Ronald Weber. Estou a terminar Espiões em Portugal durante a II Guerra Mundial de Irene Pimentel: bom!
Boa tarde!
Tenho-me servido das "reservas" até porque a cadência na compra de livros diminuiu drasticamente. Mas não consigo deixar de me insurgir contra este oportunismo descabelado de algumas editoras.
EliminarBom final de Domingo.
Li muita coisa sobre a II Grande Guerra e sobre o nazismo aí até aos meus 30 anos, MR, mas tenho de confessar que, hoje em dia, é um tema que já não me atrai.
EliminarBoa noite.
Realmente o tema anda na moda, espero que por motivos melhores do que o meu pessimismo imagina. Entretanto, fiquei com curiosidade sobre os "Espiões em Portugal", referido por MR. Há uns tempos, devido a uma pesquisa, encontrei referências a espionagem nesta época envolvendo o forte do Guincho. Bom dia!
ResponderEliminarO Hotel Avenida, à beira da estação do Rossio, parece que era um ninho de espiões... Mas os Estoris, também..:-)
EliminarBoa tarde