sexta-feira, 24 de abril de 2020

As palavras do dia (39)


Se há coisas que proliferam, por aí, são os equívocos sobre poesia. Confunde-se e mete-se, normalmente no mesmo saco, a grande Poesia com a pequena, as quadras populares e os versinhos que as crianças fazem na escola e, às vezes, continuam a fazer na vida adulta... E, depois, ainda há os poetastros, de ambos os sexos, que vão publicando edições de autor e poluindo a net com blogues de pretensa e pretensiosa, luxuriante poesia. A que se juntam as arreitadas comentadeiras efusivas batendo palmas histéricas, verdadeiras santanetes desmioladas sem o mínimo de sentido crítico, capaz. É um fartar, vilanagem!...
Ora, hoje, António Guerreiro, na ípsilon, com a ajuda competente de Paul Valéry, põe o dedo na ferida, a propósito de um poetastro, que por sorte (dele) também é eurodeputado, que resolveu fazer umas rimas indigentes, apesar do motivo merecer outra sorte e  dignidade literária...

3 comentários:

  1. Naturalmente de acordo com o teor do seu 'post', da citação de Valery e do artigo de Guerreiro, um dos cada vez mais raros colunistas que vale a pena ler com atenção nos jornais actuais. Uma só atenuante sobre esforços poéticos com resultados muito duvidosos. Falo por mim, mas acho que devo englobar nisto todos os rangéis deste mundo, ao crer que, mesmo quando os versos saem pobrezinhos, ao menos desse exercício de caprichar na linguagem pode resultar uma melhoria na escrita de uma lista de compras e até de outros textos mais prosaicos.

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  2. Sobre equívocos com a poesia, recordo que na década passada seguia com alguma regularidade cerca de uma dezena de blogues sobre literatura, uns mais e outros menos conhecidos. Uma constante que me causava psoríase na alma, sobretudo em bloggers também autores de poesia, era tentarem defini-La (simplificando: "a poesia deve ser isto" ou "a poesia não deve ser aquilo"). Nalgumas vezes, pareciam estar a apenas enviar farpas indirectas a "inimigos" do "meio". Demasiado frequentemente, os seus argumentos soavam como se estivessem apenas a defender os seus próprios poemas, nem sequer tentando formular uma definição necessariamente abrangente para um tema tão lato.

    Pedindo desculpa por me ter alongado, vou tentar regressar mais amiúde a este seu oásis, pois o facebook e o twitter podem ser muito cansativos e até desesperantes.

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    1. É sempre um risco que corremos defender que há religiões maiores e credos de segunda ordem. Mas com alguma prática e experiência de leitura, acabámos por criar diversos patamares e ter uma fé própria. Vou dar nomes. Na poesia maior eu colocaria entre outros, por exemplo, Sá de Miranda, René Char, Antonio Gamoneda, Pessoa. Logo a seguir, nomeava Camões, Eugénio de Andrade, J. R. Jiménez, Cecília Meireles, Drummond, Auden, Sophia, no patamar seguinte.
      Mas também encaro Poetas de um só grande poema: Torga, com "Bucólica" ou Alberto Lacerda, com "Diotima", embora com um final menor ou banal ("...Primavera, Primavera!").
      E é o que me apraz dizer, por agora de útil e subjectivo, neste diálogo saboroso.
      Os melhores cumprimentos.

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