As novas gerações, maioritariamente, abandonaram os campos, as vilas e aldeias. Dificilmente os jovens reconhecerão, hoje, o cheiro do estrume de cavalo ou saberão identificar, à vista ou pelo cantar, um rouxinol. Longe vai o tempo dos romances bucólicos de Júlio Dinis ou da tensa ironia rural da prosa camiliana, feita a transição adequada de Aquilino e depois do paroxismo ideológico dos neo-realistas, que também se mudaram para ficções citadinas, um pouco mais tarde. Ainda que alguns jovens artistas alternativos, agora, talvez por razões de sossego, poupança e marca distintiva de diferença, possam habitar Santiago do Cacém ou Ourique, Vila do Conde ou Bobadela, é de Nova Iorque, Veneza, Trieste ou Reiquiavique que eles gostam de falar, para se darem a ares de cosmopolitas e viajados. Mas também com os potenciais leitores se deve passar o mesmo. Embora seja sempre gratificante batermo-nos, rija e saudosamente, com as poesias e prosas límpidas e autênticas de um J. Riço Direitinho, agrónomo, ou de um Pires Cabral, transmontano, ainda vivos, que são talvez os últimos abencerragens desses cenários de ruralidade literária portuguesa de antanho, ainda que presente.
Mas aos novos, falta muitas vezes o nervo, as causas, a ossatura do real e até verdadeiros motivos para prosas maiores. Perdeu-se, entretanto, o cheiro das urbes, dos cafés fumarentos e linguarudos, da exiguidade das caves suburbanas que ainda povoam alguns dos romances de Cardoso Pires e Nuno de Bragança, por exemplo. E parece que nada se ganhou em troca. Até a poesia é etérea e voltou a ser domínio e obra de finos nefelibatas ou de obesas associadas das casas de Sta. Zita.
Desse abandono dos campos, em parte, se herdou também essa fogueira cíclica dos incêndios desmesurados no Interior português. E eu pergunto-me se algum destes novos prosadores seria capaz de ensaiar alguma novela de jeito com cenário sobre esse flagelo maior e real que, todos os anos, nos atinge nessas zonas rurais de quase total ermamento. Mas será isso deveras importante?
No plano intelectual é bem provável que não...