domingo, 28 de julho de 2019

Bibliofilia 178


Nos meus tempos de frequentador assíduo de leilões de livros, ficou-me a lembrança de algumas figuras características, nas suas preferências apaixonadas, da singularidade de alguns comportamentos humanos, no aceso das almoedas. Se uns licitadores eram discretos, outros mostravam a sua exuberância ruidosa, outros ainda o seu mau feitio e birras. Quanto a temáticas, havia um discretíssimo licenciado em Farmácia que se abalançava, tenso, a livros quinhentistas, um general na reserva que não perdia uma camoniana, um industrial corticeiro que comprava muito e diverso, um alfarrabista sorumbático que não perdia nunca um lote de livro raro que começasse a licitar...
Quanto a camilianistas, lisboetas, nunca dei por nenhum muito importante, mas havia os que vinham do Norte, quando o leilão era significativo, como este da Soares & Mendonça, que foi organizado pelo alfarrabista portuense Manuel Ferreira. E que tem um gostoso prefácio do bibliófilo e grande jornalista Raul Rêgo (1913-2002), que aqui deixo em partilha, pela sua qualidade intrínseca.


Não faltavam nesta riquíssima almoeda de Fevereiro de 1968, as muito raras edições originais camilianas de A Infanta Capellista (1872) ou do célebre folheto Matricidio sem Exemplo..., (capa em imagem, abaixo) que terão feito porventura as alegrias dos afortunado arrematadores.
Não tive oportunidade de assistir a este importante leilão, porque me encontrava, em Mafra, a cumprir o serviço militar, mas vim a adquirir, mais tarde, o catálogo desta almoeda da Soares & Mendonça, por 9 euros, no meu alfarrabista de referência - em boa hora.

para MR, obviamente, e com estima.

7 comentários:

  1. Preciosas, as palavras de Raúl Rego.
    Não tenho esse apego a primeiras edições e livros e catálogos antigos. As palavras só têm que me existir, novas ou velhas mas as mesmas que pensou e escreveu o autor.
    A bibliofilia é um prazer que se persegue, um desejo de perenidade.

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    1. Quanto à sua última frase, eu diria que, para quem não usa, definir é um atrevimento ingénuo. Redutor e muito primário nos seus termos.

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    2. Tem razão, mas definir é também reduzir, o acto de falar é em certo sentido reduzir porque nada sobre que se fala se reduz ao pouco ou muito que dele se diga, a realidade é sempre mais e maior que o dito sobre ela. Ora o que pensei não foi em definir, coisa que não sei fazer em relação ao assunto. Primária é do ser, que não do atrevimento, mas pode contagiá-lo; por certo redutora no que faço, digo e escrevo. E quem não o seja que atire a primeira pedra.

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  2. Obrigada, APS. Este catálogo também tenho. :)
    A bibliografia é amar, estudar os livros e partilhá-los.
    Bom domingo!

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    1. Estou consigo na classificação..:-)
      Foi um gosto trazer à luz, de novo, este prefácio de R.R.
      Uma boa, próxima semana.

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  3. Camilo continua a ter mais procura no norte e logo a ser mais valorizado! É normal, visto importantes acontecimentos da sua vida terem acontecido por cá, inclusive aqui no Porto. Uns bons, outros longe disso!
    O catálogo deste leilão ainda hoje é uma importante ferramenta de trabalho.
    Foi agradável reler o prefácio de Raúl Rêgo do qual já não me lembrava!
    Bom dia e boa semana.:)

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    1. E curiosamente Camilo tinha nascido em Lisboa..:-)
      É, na verdade, um catálogo precioso de informações, para além da mais valia das palavras de Raul Rego.
      Uma boa semana, também.

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