Em Dezembro de 2009, dediquei algum do meu tempo livre à tradução de 3 poemas de W. H. Auden (1907-1993). Aquele que me deu mais trabalho e preocupação foi, sem a menor dúvida, "Funeral Blues", de 1936, que inicialmente, integrado em "Twelve Songs", se intitulava "Song IX". Em 1975, Auden mudou-lhe o título para: "Tell me the truth about love". Seja como for, considero o poema como uma das mais belas elegias do séc. XX.
Dois dos poemas, que traduzi, vieram a ser incluídos no blogue amigo Prosimetron, em 1 de Janeiro de 2010 ("A. S.: Escolhas Pessoais XII"). "Funeral Blues" é, provavelmente, o mais conhecido poema de W. H. Auden, graças à sua inclusão e leitura no filme "Quatro Casamentos e um Funeral" (1994), muito embora eu não goste, particularmente, da forma como ele é dito na película. Mas acredito, também, que não será fácil dizê-lo, com autenticidade e perfeição.
Penso que chegou a altura de o re-publicar aqui no Arpose, até para que fique a constar do arquivo do Blogue. A revisão a que procedi, aconselhou-me a alterar, apenas, algumas palavras, na tradução. Segue o poema traduzido e um vídeo alusivo, da BBC 4.
Funeral Blues
Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Evitem que o cão ladre, com um osso saboroso,
Silenciem os pianos e ao som cavo de tambores
Tragam o caixão, deixem entrar quem vier de luto.
Que os aviões possam gemer sobre as nossas cabeças
Escrevendo no céu a mensagem Ele Está Morto.
Ponham crepes, tarjas negras no pescoço branco dos pombos
Da rua, que os sinaleiros usem luvas pretas de algodão.
Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Leste e Oeste,
A semana de trabalho e o descanso de domingo,
O meio-dia, a meia-noite, a minha fala e canção;
Eu pensava que o amor era eterno, mas estava enganado,
Agora as estrelas são inúteis: apaguem-nas todas;
Embrulhem a lua, desmantelem o sol;
Despejem o oceano e desfaçam-se da floresta
Porque nada do que vier servirá de consolo.