sábado, 8 de junho de 2024

Da leitura (57)

 


Pela sua objectividade, talvez valha a pena traduzir e registar aqui o início do editorial, de Laurence Moreau, neste número especial da revista francesa, intitulado Se réconcilier avec l'autorité. Assim: 

"Estranha época, em que mais nenhuma autoridade resiste à contestação. A autoridade da família? Recém chegados ao raciocínio, muitas das crianças impõem a sua lei aos pais ultrapassados. A da escola? Os miúdos da primária insultam os seus professores. A autoridade do Estado? Os deputados não hesitam a pôr em causa a integridade do Conselho constitucional, a jurisdição encarregada de verificar a conformidade das leis com a Constituição, só porque as suas normas não respondem aos seus desejos. (...) Por todo o lado, a autoridade está em refluxo: nas comunas, os presidentes de Câmara são ameaçados frequentemente, maltratados, por concidadãos descontentes. «A autoridade da coisa julgada»? Uma noção cada vez mais posta em causa. Bem como a presunção de inocência. O trabalho do juiz como polícia tende a ser negado pelo tribunal popular.Na hora da«post-verdade», até a própria certeza científica é desvalorizada.(...)
A única verdade que vale, a da opinião e a da emoção. Não se acredita mais no pai, no padre ou professor, mas nas vociferações dum imã autoproclamado, nas fake news difundidas pelas redes sociais e nas acusações não comprovadas. A autoridade mudou de canal. Por culpa de quem? Pela sêde de igualdade que, em democracia, acabou por pôr em questão todas as hierarquias, as do poder, do saber, da religião e até mesmo da idade. (...)"

Nota pessoal: o meu agradecimento, a H. N., pelo empréstimo da revista.





2 comentários:

  1. A democracia dá alguns tiros nos pés - é preciso ter algum cuidado. Boa tarde!

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    1. É verdade, para além das delicadezas com que trata, muitas vezes, quem a não respeita.
      Boa tarde.

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