segunda-feira, 17 de julho de 2023

Um poema de F. G.



Das Guerras - III

Falemos acerca das cerejeiras de Kudan, no Japão. 
É uma colina onde estão os corpos dos que morreram.
Nela há muito que crescem as cerejeiras. Todos os anos,
com a passagem das estações, vêmo-las em flor. Talvez
na sua seiva passe o espírito dos que apenas receberam
o silêncio que se segue aos combates. Eram soldados;
tinham por isso de matar. Obedeciam a ordens. A morte
era para eles uma cerimónia e se depois partiram
para Kudan é porque a vida já não lhes pertencia. Outrora
ao amadurecerem as cerejas, principiavam a colhê-las,
mas compreenderam que as iam depois perder. O tempo
passou por ali mais depressa. Agora que idade têm?


Fernando Guimarães (1928), in Das Mesmas Fontes (pg.24).

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