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Arriei perto, senti a maciez fofa dos panos: aquilo parecia colchão. Ignoro se veio comida, suponho que todos ficaram sem alimento. De cócoras, deitados, zumbiam à luz fraca da lâmpada muito alta. Exposição humilhante era a sórdida latrina, completamente visível. Sobre o vaso imundo havia uma torneira; recorreríamos a ela para lavar as mãos e o rosto, escovar os dentes. As dejecções seriam feitas em público. A ausência de porta, de simples cortina, só se explicava por um intuito claro da ordem: vilipendiar os hóspedes. Nem cadeiras, nem bancos, inteiro desconforto, o aviltamento por fim, a indignidade. Alguém teve ideia feliz: conseguiu prender uma coberta em frente à coisa suja, poupou-nos a visão torpe. Isso nos deu alívio: já não precisávamos fingir o impudor e o sossego de animais.
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Graciliano Ramos (1892-1953), in Memórias do Cárcere (pg. 175).
Uma das obras que desejo ler.
ResponderEliminarBrutal! Pois sabemos que o que estamos a ler, aconteceu mesmo! Esta realidade foi vivida pelo autor!
Bom dia!
É verdade, e de um realismo desapiedado. Com Machado de Assis e Guimarães Rosa, Graciliano é, para mim, um dos grandes romancistas brasileiros.
EliminarUm bom fim-de-semana.
Nunca li.
ResponderEliminarActualmente, ler ( até o PÚBLICO ) me dá um sono que me impede a atenção necessária.
Mas este trecho despertou-me !
Muito bom, mas uma densa escrita e um romance pesado, no melhor sentido da palavra.
EliminarFaço votos para que as coisas vão melhorando!
Bom dia.
Tenho-os, mas ainda não li (como tantos...).
ResponderEliminarDesejo-lhe um bom domingo:))
É um livro para ler devagar.
ResponderEliminarVotos de uma boa próxima semana!