A velhice é, e em muitos casos, uma cristalização. De gosto, de hábitos atávicos, como se o desligar gradual de funções se fosse fechando à novidade e a novas experiências. Mas também se manifesta, com frequência, por um amolecimento do sentido crítico e das nossas circunstâncias mais agressivas.
Recentemente, fiz duas leituras serôdias (em relação à data de saída dos livros: 1993), que me agradaram, de uma forma geral: "O Caderno Vermelho", de Paul Aster, e "O Velho que lia romances de amor", de Luis Sepúlveda. Ambas as obras se lêem muito bem. O primeiro é uma forma superior de literatura light, para mim, sem dúvida.
Quanto ao livro de Sepúlveda, não pude deixar de pensar em "A Selva", de Ferreira de Castro, e em Gabriel García Márquez , até porque lhe explora o filão onírico da mitologia sul-americana. Para ser justo há que dizer, também, que "O Velho que lia..." é muito mais colorido e luxuriante que "A Selva", do escritor português. Bem escrito, no entanto, não consegue criar a atmosfera que a obra de Ferreira de Castro transmite e exsuda para o leitor, em geral.
Tinha-me esquecido de dizer, e para regressar ao princípio, que velhice é, também, algumas vezes, intransigência. Ou caturrice.