Trocamos os restaurantes e, em vez de leitão ou vitela à Lafões, veio chanfana, que um poeta desconhecido do séc. XVIII (Pedro de Moraes Sarmento) celebrou pela negativa: "...Carneiro ressequido, e não assado,/ (...) Isto é chanfana, insípido bocado...". E não é de carneiro, ao que dizem as tradicionais receitas da Bairrada, mas de cabra - amaciada em vinho tinto, pelo menos, de véspera. Acompanhada por batata cozida. Foi a minha estreia gastronómica de chanfana e, sinceramente, também não fiquei cliente.
Depois seguimos para S. João da Azenha, para nos encontrarmos com Luís Costa, alma e corpo das Caves S. João. HMJ conhecia-o, eu, não. Era daquelas caras que, na altura, não apareciam. Ao contrário de hoje, em que conhecemos os enólogos e os produtores antes, muitas vezes, de lhes provarmos o vinho. Luís Costa era um cavalheiro discreto, mas afável. Moderado no seu tom de voz pausado e tranquilo. Recebeu-nos muito bem e ficou contente por rever HMJ que lá tinha feito alguns almoços de Páscoa, memoráveis, em que havia leitão assado e trazido do "Vidal", espumante bruto das Caves S. João e, ao que parece, uns esplêndidos Queijos da Serra, babões.
Falamos de castas, mas Luís Costa não se descoseu: deu-me a entender que o Dão "Porta dos Cavaleiros" tinha Jaen, mas ao resto disse nada. Fiquei sem saber se tinha Alfrocheiro e/ou Rufete - castas que eu não aprecio, particularmente, ainda hoje. Por isso, na altura, eu preferia o "Terras Altas" que também era o vinho do Dão favorito do nosso falecido Presidente marinheiro Tomaz. Hoje, há melhor, onde incluo o "Porta dos Cavaleiros" (nova fase) e o "Vinha Paz".
Dessa longínqua visita, tenho ainda na Garrafeira, uma Magnum Colheita seleccionada "Porta dos Cavaleiros" de 1991. Que está a abeberar e "à espera do vento que a mereça", como dizia o Eugénio de Andrade. E muito bem.
P. S.: para HMJ, naturalmente.