terça-feira, 15 de outubro de 2024

Desabafo (92)

 
A benefício do infractor, depois desta via sacra mediática, ainda havemos de ver o DDT maquilhado com a negra por baixo do olho direito, e o passo titubeante, a ser defendido por algumas catequistas e outras almas caridosas da nossa praça ingénua.

P. S. : já reparararam que, nos casos judiciais mais importantes, os nomes dos advogados são sempre os mesmos?! Fá-lo-ão por caridade cristã ou compaixão?

Décima sétima

 

Dos clássicos, mais antigos e conceituados, só nunca provei o vinho Pêra Manca tinto, de que foi posta à venda, agora, a décima sétima edição, correspondente à colheita de 2018. Criado pela Fundação Eugénio de Almeida, pela primeira vez em 1990, habitualmente composto de um lote das castas Aragonêz e Trincadeira, esta última versão terá um preço de 350 euros. A colheita de 2023 já está a abeberar...

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Citações CDXCVI

 

Recusem o negro, e esta mistura de branco e negro a que chamam cinzento. Nada é preto, nada é cinzento. Aquilo que parece cinzento é um composto de tonalidades claras que um olhar apurado sabe adivinhar.

Paul Gauguin (1848-1903).

domingo, 13 de outubro de 2024

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

No melhor pano cai a nódoa...

 

Isto das editoras, na sua grande parte, quererem poupar dinheiro ao despedirem os revisores, tem os seus custos perniciosos. A Asa Editores S. A., ao editar este livro do embaixador Marcello Duarte Mathias (1938) deveria ter tido mais cuidado para não manchar o nome ao diplomata. Exemplifiquemos:
na página 353, do livro em imagem acima, pode ler-se - " A emergência da democracia-cristã na Itália; as relações entre a política e a Igreja; Paulo VI e Salazar em Fátima em 1962. Vaticano II."
Ora como se sabe, nesta altura, em Roma pontificava João XXIII. Paulo VI esteve em Fátima a 13/5/1967. Daqui se conclui que nenhum responsável da editora terá lido as provas deste livro com a atenção devida.

Desfaçatez insólita



Esta lampeira raposinha, ainda jovem, atravessou-se no caminho do PR alemão (F. W. Steinmeier), em Berlim, tomando a dianteira oficial, na passadeira vermelha... 
Perdoe-se-lhe, por irracional, a ignorância das regras protocolares.

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Uma fotografia, de vez em quando... (188)


 
Cineasta e fotógrafo, o holandês Ed van der Elsken (1925-1990) produziu vários livros (cerca de 20) onde deu a conhecer o melhor da sua obra. Tendo permanecido em Paris de 1950 a 1955, a capital francesa ficou detalhadamente documentado pelas suas fotografias originais de rua.





Tendo pertencido à Agência Magnum, conviveu de perto com Henri Catier-Bresson e Robert Capa, que respeitavam a qualidade do seu trabalho. As suas viagens por África e pelo Oriente deram também impressivos portefólios.


quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Ao Princípio de Peter

 
Tenho pena que alguns dos actores de cinema que eu mais apreciava, pela sua qualidade e facilidade de representação, se tenham transformado, com o tempo, em cabotinos e canastrões estereotipados, muitas vezes, copiando-se a si mesmos, no estiloo de desempenhos. Cito alguns exemplos flagrantes: Jack Nicholson, Robert de Niro, Morgan Freeman e Al Pacino.
(Felizmente que ainda não perdi o sentido crítico!...) 

Impromptu 77

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Ilusão de óptica

 

Parecem rosas ao contrário, mas não são. São pequenos pimentos vermelhos que um agricultor cultiva com gosto e estética própria no seu quintal, aqui perto, e nos ofereceu...
Também são conhecidos como malaguetas sino e, mais popularmente, como chapéus de bispo. Seja como for, são uma beleza!

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

A música dos outros

 
Cheguei à conclusão que a prática da música, na sua expressão sonora, não é democrática, porque o vulgo,  habitualmente, é duro de ouvido, não teve educação musical e não sabe sintonizá-la com um mínimo de equilíbrio harmonioso.
Entre o chunga dos canários e barreiros e o proxeneta do Rieu da música easy listening, saiu-me, em frente da casa, um grupo de montadores de andaimes, que trabalha ao som de um rap execrável de 3ª categoria - mas que grande azar!...

sábado, 5 de outubro de 2024

Perguntas / Respostas

 

Hoje, faz-nos imensa falta o sentido desempoeirado e isento da crítica lúcida de tempos passados, ainda que por vezes excessivamente rigorosa e sujeita a pequenos erros de apreciação. A existir, poupava-nos a edição mediocre de tantos "escritores" sem o mínimo de qualidade, que se vão vendendo a leitores sem o mínimo de exigência e critério sério.
Em função do que disse atrás, atente-se nesta entrevista de Baptista Bastos ao poeta Alexandre O'Neill:

"... Baptista Bastos - Vejamos, agora: e que é um escritor menor?
Alexandre O'Neill - Nuno Bragança. E, já que estamos nos Nunos, o Nuno Júdice. E já que estamos nos enes, o Namora.
B. B. - Um bom escritor pode escrever um mau livro?
A. O. - Pode. Por exemplo, o Cardoso Pires, n' O Anjo Ancorado.
B. B. - E um mau escritor pode escrever um bom livro?
A. O. - Pode. Por exemplo, o Alves Redol escreveu o Barranco de Cegos, um bom livro.
..."

in O Homem em Ponto - Entrevistas (pg. 176).

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Bibliofilia 216

 

A partir do século XVII, mas com maior intensidade no século XVIII, proliferaram em Portugal as academias literárias, que culminaram, em 1756/7, com a criação, em Lisboa, da Arcádia Lusitana. Destinavam-se muitas delas a apontar novos caminhos para o barroquismo que grassava anteriormente, sobretudo na poesia nacional. Até pequenas terras (Torre de Moncorvo, Os Unidos; Guimarães, Dos Problemáticos) criaram instituições deste tipo, que reuniam para debater teorias, reescrever episódios históricos (por vezes) e recitar poemas. Destas variadas academias se editaram também alguns volumes com textos, de maior ou menor interesse literário.



Dos Anónimos de Lisboa veio a publicar-se em Agosto de 1718 a obra, hoje rara, intitulada Progressos Academicos..., que eu comprei no início do século XXI, num alfarrabista de Lisboa, por 80 euros. Pertencera a M. Osório, da Quinta das Lágrimas (Coimbra), coforme carimbo de posse, e o livro encontrava-se em bom estado de conservação.
Discutível a qualidade dos poemas, alguns deles jocosos, retratam, no entanto, uma época literária. Aqui fica mais um Epigrama, transcrito da página 75, e atribuído a Hieronymo Godinho de Niza:

Doce instrumento ouvido,
Certo Rouxinol de absorto,
Não está como dizem morto,
Mas está adormecido.
E se atégora cantava
Ao som que a lyra fazia,
Não foy porque não dormia,
Mas foy porque ressonava.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Uma libelinha na janela



Manhã cedo, fomos surpreendidos por esta libélula visitante, que parece, de fora, estar a espreitar o interior da casa. Mas, provavelmente, estava apenas a resguardar-se da chuva outonal inesperada.

Rafael e o unicórnio

 

Era um tema recorrente em pintura, antigamente, a representação da figura lendária do unicórnio. Rafael Sanzio (1483-1520) também não escapou ao seu fascínio e, cerca de 1506, retratou-o a acompanhar uma dama. O quadro pertence à Galeria Borghèse, mas como esta pinacoteca italiana está em obras, a pintura foi emprestada ao museu Jacquemart-André (Paris), onde se encontra em exposição até 5/1/2025. 

terça-feira, 1 de outubro de 2024

interlúdio 100

Osmose 138

 

As perspectivas de quem vê ou aprecia estão pré-definidas, não no objecto, mas no sujeito.
Seja uma colina, um livro, um quadro, o observador traz já consigo as condicionantes próprias.
Calhou acidentalmente eu ler, com pouco intervalo de tempo, apreciações de duas pessoas sobre o Diário de Miguel Torga (1907-1995). Luiz Pacheco e o embaixador Marcello Mathias, se não têm opiniões opostas, apenas coincidem num certo respeito literário pelo memorialista. Enquanto o diplomata é francamente elogioso ("Porque Torga procura, a cada momento, desvendar a autenticidade que o define, incluindo a sua própria identidade cultural como português no contexto que lhe foi dado viver."), Pacheco prefere desmontar a pose e artifícios de Torga, ainda que usando de alguma complacência simpática de colega das letras.

Adagiário CCCLXXI



Provérbios ingleses:

Too many cooks spoil the broth.
Cozinheiros a mais estragam o caldo.
...
Still waters run deep.
Águas tranquilas correm profundas.
...
Where there's a will, there's a way.
Onde há uma vontade, há um caminho.


segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Apontamento 177: É bom lembrar

 

                                           [Hans Friedrich Genscher, na Embaixada em Praga]

Há 35 anos, ca. de 4000 cidadãos da RDA refugiaram-se na Embaixada da Alemanha em Praga.

A sua fuga, e a posterior intervenção do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Hans-Drietrich Genscher, autorizando a sua saída para a BRD, é considerada como o início do processo de Reunificação da Alemanha.

Pena é que a memória da sede de liberdade, com a fuga dos residentes na antiga RDA, parece ter deixado um vazio de gente com noção e vontade de querer viver em Democracia nos antigos domínios da SED.

Ver também: https://www.tagesschau.de/inland/ddr-fluechtlinge-prag-botschaft-100.html

 Post de HMJ

domingo, 29 de setembro de 2024

Comic Relief (162)

 

Chamam-lhes manguitos, talvez por graça, naqueles mercados ou praças em que aparecem nas bancas. Que são raros, estes pequenos primos das mangas tropicais, bem grandes essas. Estes são nacionais e rústicos: nunca andaram de avião.

Carlos Salzedo (1888-1961)

sábado, 28 de setembro de 2024

Divagações 197



Talvez por sermos, sobretudo agora, um país geograficamente pequeno, quase sempre fomos um povo de alma reduzida, desconfiada e invejosa, por onde sobressaem alguns gigantes: o infante D. Henrique, D. João II, Afonso de Albuquerque, o marquês de Pombal...
Até em coisas corriqueiras escondemos aspectos básicos de elementar saber, com medo de nos copiarem a receita e perdermos o negócio. É o caso, por exemplo da "discreta" Sogrape, que nunca revela as castas de que fez os vinhos, ainda que anteriormente, elas constassem, noutros produtores mais descomplexados, seguros de si, e que ela absorveu entretanto. É o caso do Planalto, branco, Douro, que fora da Casa Ferreirinha. 

Nota pessoal: por vias travessas, aqui vai o lote das castas, à partida, que a Sogrape não queria revelar - viosinho (25%), malvasia fina (20%), gouveio (20%), rabigato (10%), códega do larinho (10%) e moscatel (5%). Assim fica desfeito este mistério enológico de polichinelo.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Filatelia CXIX


Se, hoje em dia, os selos propriamente ditos são em menor parte usados na correspondência, em benefício neutro de etiquetas mudas de imagem ou carimbos inexpressivos, os CTT aumentaram, com o tempo, as suas "rendas" através de mil e um artifícios tentadores sobretudo para os filatelistas. E a exemplo de países estrangeiros, que já os usavam.



Estão neste caso, desde 1986, a emissão dos chamados Livros CTT que, com apuro gráfico, agrupam séries de selos já em circulação, com a mesma temática, acompanhados de textos competentes de especialistas da matéria. O primeiro destes livros foi dedicado aos "5 Séculos de Azulejos Portugueses".



Reproduzimos, em imagem, o volume que foi dedicado à "Pintura Portuguesa do Séc. XX", que tem texto alusivo de José-Augusto França (1922-2021), inserindo selos de Amadeo de Souza-Cardoso até José de Guimarães. Este Livro CTT foi editado em 1990, com estampilhas postais (em blocos) de 1988 a 1990.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Decadência

 
Houve um tempo, no passado, em que várias instituições ou editoras eram uma garantia de qualidade de tudo aquilo que produziam ou publicavam. A Portugália, Sá da Costa, Assírio & Alvim, por exemplo, eram nomes de prestígio no universo editorial português. Os conselhos de leitura dessas empresas, o rigor da crítica e a exigência dos leitores a isso obrigavam também, evitando os equívocos e desmandos de hoje.
Custa-me por isso a perceber que a última das editoras referidas tenha publicado uma pretensa biografia de Alexandre O´Neill (registada num poste recente do Arpose) tão mal enjorcada e desarrumada.

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Apontamento 176: Confusão de conceitos

 

Não sendo caso único, nem recente, existem muitos exemplos de confusão entre um trabalho sério de um Historiador e de um bem intencionado contador de historietas, por cá e pelo mundo fora.

São normalmente narrativas, quiçá de fundo histórico, em que abundam os pormenores físicos, socais, culturais e de personalidades, e parecem ter saído de um baú imaginário de boas vontades e convicções.

Obras, como a reproduzida acima, embora pretendendo enriquecer o trabalho sobre uma época importante da Cultura da Alemanha, revelam apenas imaginação em detrimento de um trabalho de rigor próprio de Historiador.

Senão vejamos, esta afirmação, entre vários outros registos sobre episódios de quotidianos, sem fonte documental, p. 93:



 

Chegado a este ponto de leitura e, confesso, um pouco cansada de tanto pormenor irrelevante e pouco convincente, resolvi abandonar a leitura do restante “tijolo” de 653. Resta acrescentar que nem as Notas, das páginas 481-612, nem a Bibliografia e Fontes contribuíram para me convencer de estar a ler um trabalho sério historiográfico.

Lamento imenso, porque a época bem merecia um Historiador sério a debruçar-se sobre o Pensamento e a Literatura da Alemanha no período em apreço, em que muita confusão se encontra entre “Sturm und Drang” – ["Tempestade e Ímpeto"], Klassik [período clássico] e Romantik [período romântico].

Fica para uma outra altura.

Post de HMJ


Últimas aquisições (54)

 


Não comprei o livro sobre a biografia de Alexandre O'Neill há muito ( foi editado em Abril de 2024 ) e comecei a lê-lo há pouco tempo ( vou na página 61 ). O que foi entusiasmo antecipado, durou pouco. Da leitura, colhi uma impressão de desarrumo e, embora carreie alguma informação pouco conhecida, o texto, em si,  parece-me confuso. Não  recomendo a obra, por isso.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Revivalismo Ligeiro CCCXXXIII


Tinha um nome enorme: Luis Raul Janeiro Caeiro de Aguiar Barbosa Piçarra Valdeterazzo y Ribadenayra (Moura, 1917 - Lisboa, 1999) e uma voz portentosa. Luis Piçarra creio que foi o primeiro a cantar em francês a canção Avril au Portugal e o hino oficial do Benfica (Ser Benfiquista). E não fora Mario Lanza ter-lhe usurpado os direitos da canção Granada, a ele pertenciam.
Julgo estar hoje muito esquecido, imerecidamente.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Assimetrias



A mão esquerda, menos trabalhadeira, por norma, que a direita, é mais maneirinha e cabe quase sempre à vontade pelo punho da manga abotoada da camisa. A direita, raramente.

Para estudar as linhas da vida, é a esquerda que faz fé, a mais natural. A mão direita sofreu os tratos de polé dos trabalhos e exercícios do tempo, apresentando vincos, rugas e linhas desses manuseios, na pele.

domingo, 22 de setembro de 2024

Língua estufada e altas cavalarias

 

O meu amigo Américo Guerreiro de Sousa (1942) chamou-lhe em ficção "O Cavalo"* (Os Cornos de Cronos, pg. 81), talvez por uma má impressão que lhe ficou de uma noite que por lá passámos, em companhia gentil, já altas horas nocturnas. O Galeto, inaugurado a 29/7/1966, criação de Vitor Pala e Bento d''Almeida, arquitectos, era um snack simpático, na Avenida da República, embora com muito pouco espaço ao balcão, para quem tinha pernas longas... Ainda hoje se mantém assim, curto de espaços. A cozinha é que continua merecedora dos melhores elogios.
Voltei lá, recentemente, para uma língua de vitela estufada, iguaria que não abunda pelos menus dos restaurantes de Lisboa. Muito boa, diga-se. Não fosse o serviço, pouco atento, e o tal espaço diminuto, por baixo do balcão, tudo iria muito bem.



* A que, na sequência associativa e embalado, acrescentou: "Havia cavalgaduras em barda por toda a parte: escarranchadas nas banquetas de couro, nas baias da estrebaria, de pé e amarradas à manjedoura. Viam-se ali todos os tipos de muares: éguas rabonas; garranos de pescoço magro com sotaque transmontano; alteres reais de alta-escola e bem feitos para o toureio a cavalo, à cernelha com belas guadianas, que nitriam alto pedindo cerveja e se saracoteavam no pequeno espaço de que dispunham; ..."