"... O primeiro poema de Nemésio que conheci foi o dos alciões*. Ouvi-o da boca de Manuela Porto, há muitos anos, juntamente com outros que esqueci. Só os alciões, que regressavam cansados da viagem, me ficaram na memória. E nunca nenhuns outros versos do autor de La Voyelle Promise me surpreenderam tanto, me abriram tanta janela para a aventura sempre nova da poesia. Muito diferente daquele sortilégio é A Águia, de Jorge de Sena, escrito em 1970 e publicado postumamente. É um poema de linguagem rigorosa, implacável, dura, a linguagem de grande prosa, mas que serve também a grande poesia:
No olhar verde e vazio de pupilas raiadas
pelo sangue a escorrer do bico para as penas sujas
pardas e grisalhas de um pó excrtementício
que as grossas patas cobre como lama sua... "
Eugénio de Andrade (1923-2005), in Prosa (pg. 151), Ed. Modo de Ler (2011).
* para quem desconhecer o poema referido, poderá lê-lo no Arpose (20/2/2010): Favoritos IX: Vitorino Nemésio.
Bom dia!
ResponderEliminarOntem perdi ( forma de dizer pois não perdi nada, mas antes, ganhei) quase duas horas até encontrar o poema que refere, da autoria de Vitorino Nemésio.
Adorei e penso ter entendido o alcance das palavras desse grande e sábio açoriano que, fingindo ter dúvidas acerca do que se lembrava, foi-me ensinando, semanalmente, factos maravilhosos e enriquecedores.
Fiquei com o link desse seu postal. Um dia deste publicá-lo-ei no meu espaço, direccionando o sitio onde o fui buscar. Posso?
Desejos de uma boa semana.
Pode usar o link, desde que forneça a origem.
EliminarRetribuo os votos.
Farei como sempre faço; menciono, através do link desse seu post, a 'fonte' onde bebi a informação do poema, ou seja, este: https://arpose.blogspot.com/2010/02/favoritos-ix-vitorino-nemesio.html
EliminarNão se preocupe, nunca cometi o 'pecado' de plágio, não o farei consigo.
Quando chegar esse dia, se chegar, dar-lhe-ei conta. Se não estiver tudo nos conformes, é só eliminar e pronto.
Saúde!