segunda-feira, 19 de abril de 2010

O mais moço dos anjos



"No dia 5 de Dezembro de 1791 Wolfgang Amadeus Mozart entrou no céu, como um artista de circo, fazendo piruetas extraordinárias, sobre um mirabolante cavalo branco./
Os anjinhos atónitos diziam: Que foi? Que não foi?
Melodias jamais ouvidas voavam em linhas suplementares superiores da pauta.
Um momento se suspendeu a contemplação inefável.
A Virgem beijou-o na testa
E desde então Wolfgang Amadeus Mozart foi o mais moço dos anjos."

Este poema, (quase) em prosa, pertence ao livro "Lira dos Cinquent'anos" de Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, mais conhecido por Manuel Bandeira, poeta brasileiro, que nasceu no Recife a 19 de Abril de 1886, e veio a morrer no Rio de Janeiro, em 1968. Deixando saudade. Para mim, é um dos pouquíssimos poetas de infância, como Sá de Miranda é dos raros poetas de velhice. Manuel Bandeira teve uma evolução poética lenta até chegar a ser um dos expoentes mais significativos do modernismo brasileiro. Os poemas dos seus primeiros livros devem muito a António Nobre e a um certo romantismo decadente. Ao poeta português, a quem Bandeira dedica um poema, unia-o uma mesma doença, a tuberculose. E ambos estiveram em sanatórios da Suiça. Manuel Bandeira conseguiu, no entanto, sobreviver e andar na Terra até aos 82 anos. Alexandre O'Neill apreciava-lhe a poesia, pelo humor e simplicidade dos seus versos ("Estou farto do lirismo comedido / Do lirismo bem comportado..."- dizia Bandeira). E disse também:

A arte é uma fada que transmuta
E transfigura o mau destino.
Prova. Olha. Toca. Cheira. Escuta.
Cada sentido é um dom divino.

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