terça-feira, 2 de março de 2010

Animais de estimação literários 1



Todos os temos ou tivemos. Terrestres, aéreos ou aquáticos. Rastejantes, trotadores, cantantes, se não os temos, já os tivemos, pelo menos, na infância. E, se não foi ao vivo, pelo menos de peluche, andaram ao nosso colo, dormiram connosco, viveram parte das nossas aventuras imaginadas... O meu é o canário e o último que tive dava, pelo menos, um conto ou uma fábula.

O primeiro ofereceu-mo o meu tio Joaquim que tinha uma enorme criação de pássaros. E cantava lindamente, logo pela manhã, ao nascer do sol.

Dos literários, Eliot escolheu o(s) gato(s) ("Old Possum's Book of Practical Cats"), Cristovam Pavia fez uma belíssima e sentida elegia à morte do seu cão e Torga, que era caçador, devia ter, em particular estima, os cães, também. Nicolau Tolentino tem aquele soneto admirável intitulado "Deitando um cavalo à margem". Mas Juan Ramón Jimenez fez mais : universalizou o seu animal preferido em "Platero y yo". Aqui vai o início, para quem não saiba ou não se lembre da história desse burrito simpático.

"Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio, que dir-se-ia todo de algodão, que não tem ossos. Só os espelhos de azeviche dos seus olhos são duros como dois escaravelhos de cristal negro. Deixo-o solto, e vai para o prado, e acaricia levemente com o focinho, mal as roçando, as florinhas róseas, azuis-celestes e amarelas... Chamo-o docemente: «Platero», e ele vem até mim com um trote curto e alegre que parece rir em não sei que guizalhar ideal... Come o que lhe dou. Gosta de tangerinas, das uvas moscatéis, todas de âmbar, dos figos roxos, com a sua cristalina gotita de mel... É terno e mimoso como um menino, como uma menina...; mas forte e seco como de pedra."

8 comentários:

  1. Li há muitos anos, Platero e eu, numa edição da Portugália, se me não engano.
    A minha paixão eram os macacos.

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  2. Mais recentemente, Manuel Alegre escreveu Cão como nós, uma história de amor sobre um membro da sua família.

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  3. E já agora: este «Animais de estimação literários» vão ter continuação?

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  4. Muito sinceramente, MR,não sei... Como sabe, ando às voltas com o Jimenez, que penso mandar-lhe na sexta-fera,e do Platero passei para os meus canários...que nunca tiveram nome. Mas esse primeiro canário teve funeral honrado em caixa de fósforos gigante e no meu quintal. Era um grande cantor!...

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  5. E ainda Bernardim Ribeiro, no monólogo da menina:
    "As doces aves, batendo as asas, andavam buscando umas as outras.(...)
    Não tardou muito que, estando eu assi cuidando, sobre um verde ramo que por cima da ágoa se estendia se veo apousentar um roussinol, e comecou tão docemente cantar que de todo me levou após si o meu sentido de ouvir. (...) A triste da avezinha que, estando-se assi queixando, não sei como, caío morta sobre a ágoa (...)"
    HMJ

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  6. Mais uma contribuição:

    GATO

    Gato não sofre, existe.

    Para o sol, ratos,
    militante
    das suas unhas.

    Crente no seu motor
    de ronronar,
    em que se embala,
    vigilante.

    António Osório
    In: Luz fraterna. Lisboa: Assírio & Alvim, 2009, p. 63

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Obrigado, MR,pelo gato. Em paga, vai o porquinho-da-Índia do Manuel Bandeira,
    no post mais recente de hoje.

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