Há dias, um daqueles vários desmiolados e fala-baratos animadores (malatos & companhia) dos programas pimbas dos 3 canais generalistas, que acompanham as manhãs e tardes dos solitários domésticos, dizia:
Todas as criancinhas são boas!
Sempre tive uma enorme dificuldade em aceitar esta generalização da virtude, ainda que pueril, sobretudo quando é proclamada por adultos tolos.
Amigo meu de infância lembrava-me, numa sua crónica recente publicada num semanário regional, as alcunhas, muitas vezes desapiedadas, que inventávamos para crismar os nossos colegas de escola e liceu. Era o José Emílio que ficou o Rata, pelo seu nariz que mais parecia um focinho de fuínha, o Cicatrícula pela ruga vincada da bochecha direita, o Barrumas, o Xiramaneco...
Mais cruel porém eram as partidas que pregávamos ao nosso colega Adélio, boníssimo e inocente jovem, filho da Saleira, senhora de meia idade, educada, que se dedicava à venda de sal, na rua Escura. em Guimarães.
O Adélio via muito mal, daí usar uns óculos de lentes garrafais, por detrás dos quais, os olhos dele pareciam choramingar constantemente, e lhe ser distribuída, logo no princípio do ano lectivo, uma carteira na primeira fila da sala de aula, ao canto, apesar da sua altura gigantesca, para ele poder ler as letras no quadro preto.
O Torcato, que era o mau da fita, muitas vezes lhe soprava: Adélio! e o filho da Saleira, lá se voltava, na sua ingenuidade, para trás, para o ouvir sempre pronunciar, invariavelmente, o verbo: Chora!
Por isso, não me voltem a dizer que todas as criancinhas são aureoladas de virtude.
É uma daquelas frases que nada significam. As crianças podem ser cruéis, sem empatia e não disfarçarem sequer. A diferença com os adultos é que estes vão aprendendo a ter empatia (esperemos) e boa educação, o que permite pelo menos disfarçar as maldades. O que as crianças têm a favor delas é precisamente serem (em geral) mais genuínas e inocentes, mesmo nas suas maldades. Eu como sofri o que hoje se chamaria de bullying (miopia, timidez) sempre preferi a companhia dos adultos. Bom dia!
ResponderEliminarTambém tive problemas na infância/adolescência...
ResponderEliminarE, embora com o avançar da idade, ainda me reste algum optimismo, nunca comunguei do lado delicodoce do ser humano: há de tudo e, na verdade, as crianças são pelo menos mais naturais (como refere) quer na bondade, quer na maldade.
Evito sobretudo o nacional-porreirismo de pintar o mundo cor de rosa. Até por uma questão de realismo preventivo.
Boa tarde.
Também não concordo nada com essa 'teoria' sobre as criancinhas. O homem nasce 'selvagem', tem de ser educado.
ResponderEliminarMesmo os jovens são muitas vezes intolerantes, de pensamento e de atitude. As pessoas vão ficando mais flexíveis com alguma experiência de vida. Algumas...
Boa tarde!
A educação e o pensamento, exercitado, contribuem na verdade para a formação humana.
EliminarAté porque se observarmos os comportamentos desportivos levados ao rubro verificamos o irracional que continua a residir no homem.
Boa tarde.
No meio de uma multidão uma pessoa chega a ficar irreconhecível.
EliminarBoa tarde!
É verdade: o verniz é muito leve.
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