No dia em que passam 70 anos sobre a batalha de Estalinegrado, nunca é demais realçar a importância da memória viva e constatar, com tristeza, que essas vozes de transmissão, de "experiência feita", vão desaparecendo, para sempre.
Relativamente à efeméride em epígrafe, profundamente desumana para os beligerantes em presença, permanecem na memória os relatos vivos. Meu pai, no avanço das tropas nazis em direcção aquilo que ele designava como a "caldeira" de Estalinegrado, recebeu ordens para se dirigir para Sul. Portanto, ele não chegou a entrar em Estalinegrado e, talvez por isso, chegou a ser pai para deixar memória.
As suas andanças pelo Cáucaso preencheram, por vezes, noites inteiras de relatos, nomes de localidades que, num dia memorável, registámos num atlas de escalas generosas, para memória futura. No entanto, ele nunca se esquecera daqueles que tiveram a infelicidade de entrar na tal "caldeira" de Estalinegrado, embora o seu regresso, no final da guerra, à aldeia natal ocorresse, de forma épica, com episódios memoráveis.
Das suas conversas também fixei o nome do General Paulus que, hoje, é recordado num artigo publicado no SPIEGEL. Sabia que Paulus, na imagem abaixo ao lado de Hitler, comandou 260.000 homens, dos quais 150.000 morreram na tal "caldeira", fora os ca. de 108.000 que vieram a falecer a caminho ou nos campos de prisioneiros. Ao que consta, apenas 5.000 regressaram, vivos, até 1956.
Embora de uma forma difusa, recordo alguns homens em fardamentos militares, em farrapos, a vaguearem pelo centro da cidade de Colónia na década de 50 do século passado. Na altura, carecendo, ainda, dos relatos paternos, não consegui enquadrar imagens tão insólitas.
Ora, o que o SPIEGEL também refere, e que eu desconhecia, é que Paulus, o alto responsável por tanta atrocidade, passou a viver, no pós-guerra, na antiga RDA, instalado num belo palacete em Dresden e com direito a carro, da marca OPEL, fabricado na RFA, sendo conferencista e com vida pública nos domínios da chamada "cortina de ferro".
A criança da imagem, vestida com os restos de um fardamento militar, parece que nunca conheceu o pai que envergou a farda. Ora, como tive a sorte de receber boas lições de guerra e da paz, tanto em casa como na escola, continuo a acreditar numa Europa da Paz, avessa a políticos que apenas pensam no dia de amanhã, nas eleições seguintes como A.M. da antiga RDA, privilegiando os últimos testemunhos de Homens de Estado, como Helmut Schmidt, que, pela sua experiência, se habituaram a pensar nas gerações futuras.
Post de HMJ, dedicado a HJ