segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Um português sobre os portugueses

 

Ora atente-se neste retrato muito curioso que Rocha Martins (1879-1952) traça sobre nós:

" O português desinteressa-se colectivamente; não vibra numa acção conjunta. Entusiasma-se facilmente -, é um rastilho - mas com a mesma rapidez se aborrece. É uma faúlha. Impulsivo, ardente, cosome-se como um fogaréu de palha. Para ele só existe o facto realizado. Falho de espírito crítico e ávido de sensações, ignorante e pouco previdente, com um fundo ancestral de mandria e uma confiança estúpida nos que, por força, o hão-de explorar, indignado ao ver-se no ludíbrio, é então feroz, pachola ante o fascinador, o intrujão, é pascácio e tolo, como seu filho a quem vendem cordões de latão. Ele acabou por duvidar à saloia e fatalmente por se deixar vigarizar embora se julgue com lume no olho.  Isto, porém, acontece-lhe, por via de regra, diariamente sem que se emende mas é certo também, que não faz cousa alguma para isso. Em políticos já não acredita e hoje tem apenas um ideal à vista e outro escondido: o que mostra é a ânsia de comer barato; o que oculta é o sonho de se alimentar de graça."

Rocha Martins, in "Resposta de Roberto" (17-III-1923), pg. 12.

4 comentários:

  1. Não me revejo - excepto no comer de graça (sobretudo se forem coisas que eu goste) :-D Bom dia!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também não concordo com tudo, mas a falta de sentido crítico de uma boa parte dos portugueses, para mim, sempre foi notória.
      Uma boa semana!

      Eliminar
  2. Actual! Podia ter sido escrito nos dias de hoje. No futebol entusiasma-se colectivamente.
    Revejo-me apenas na parte de não acreditar em políticos (espero que seja só nessa parte!😂🤣😅)
    Boa noite:))

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade, embora centenárias, parte destas palavras mantém a actualidade.
      Bom dia.

      Eliminar