domingo, 31 de outubro de 2010

Vinha-virgem no Outono


É, por agora, que as folhas da vinha-virgem ficam afogueadas. Como que, dramaticamente, se despedissem da Primavera que ficou tão longe, quer nos ardores do fogo, quer no fulgor intenso e irrepetível da juventude. Desse esforço intenso e final, ardem, ardem, ardem até se consumirem e descerem à terra, mercê da água ou do vento, desfalecidas, inertes. Não sabem, decerto, que podem regressar, reverdecer, arder, de novo. Os homens, sabem que não.

Leituras Antigas XX : O Pimpão



Creio que O Pimpão é, das revistas portuguesas de banda desenhada, uma das menos conhecidas e divulgadas. Nada que se compare a "O Mundo de Aventuras", "O Titã" ou "O Cavaleiro Andante" que lhe são coevos.
Esta revista iniciou a sua publicação em 11 de Outubro de 1955 e o último número (18) na minha posse data de 10 de Abril de 1956. O Pimpão saía à terça-feira e os primeiros números custavam Esc. 1$50. A directora dava pelo nome de Maria D. Nascimento da Silva, e o editor e proprietário era José Rosa Rodrigues. A sede da revista situava-se na Rua Soares dos Reis, 7, 1ºDto., em Lisboa. Havia um lado apologético de patriotismo e moral, nas suas página, e um "Avôsinho" escrevia uma espécie de editoriais formativos para os jovens. Estes podiam mandar fotografias das suas terras (rubrica "Recantos da Nossa Terra") que eram acompanhadas da foto-passe dos seus autores. Há jovens fotógrafos de Braga, Faial, Mealhada, Crato...
Os primeiros números da revista de BD eram polícromos, mas a partir do nº 14, a capa já só tinha 2 cores, e cada exemplar passou a custar Esc. 2$00. Tenho apenas 13 números de O Pimpão e não sei se a publicação terá sido interrompida depois do nº 18.

Educar para quê?

Pese embora a vertiginosa explicação, por imagem, e trepidante raciocínio, parece-me um brilhante e sedutor exercício.

P. S. : para ms, com vivo agradecimento e abraço.

O dia dos 3 reis


Não, não são os Reis Magos. Mas, curiosamente, a História de Portugal conta com 3 reis nascidos a 31 de Outubro. O primeiro foi D. Fernando, nascido em 31 de Outubro de 1345. Na mesma data, mas no ano de 1391, nasceu D. Duarte, o Eloquente. E, finalmente, a 31 de Outubro de 1838, nasceu o rei D. Luís que veio a falecer em 1889. Foi o mais longevo, porque D. Fernando morreu com 38 anos, e D. Duarte com 47.

sábado, 30 de outubro de 2010

Paul Valéry sobre "Le Cimitière Marin"


Paul Valéry, nascido a 30 de Outubro de 1871, em França, foi poeta e ensaísta, e faleceu em 1945. Em poesia, a sua obra mais conhecida é "Le Cimitière Marin" (editado pela Hiena Editora, 1987, em tradução de Pedro José Leal) que data de 1920. Anos depois de o ter publicado, Paul Valéry escreveu um texto, "Au sujet du Cimitière Marin", que veio a integrar em "Variété III" (pg. 68), editado em 1936. É o seu final que passamos a traduzir:

"...não há verdadeiro sentido de um texto. Não há autoridade do autor. Fosse o que fosse que ele quis dizer, ele escreveu o que escreveu. Uma vez publicado, um texto é como um aparelho de que cada um se pode servir e segundo os seus próprios meios: não é certo que o construtor o use melhor do que os outros. De resto, ele sabe bem o que quis fazer, e este conhecimento perturba sempre, nele, a percepção do que fez."

Carl Sandburg


Já aqui referi (26/2/2010) o poeta americano, de ascendência sueca, Carl Sandburg (1878-1967). Tem obra vasta, principalmente poesia, mas também escreveu uma biografia sobre o presidente Lincoln (1939). Os dois poemas que vamos traduzir pertencem ao livro Honey and Salt, de 1963. Sandburg foi, também, um activista importante na luta pelos Direitos Cívicos, nos Estados Unidos da América. Ganhou, por três vezes, o prémio Pulitzer. A sua poesia, muito inspirada pela Natureza, lembra a poesia japonesa, até pela simplicidade.

Metamorfose

Quando a água se faz gelo recorda
que já foi água?
Quando o gelo volta a ser água lembra-se
que antes fora gelo?

Partindo

Porque terá ele escrito para ela
dizendo, "Não posso viver sem ti" ?
E porque terá ela escrito para ele,
"Sem ti não posso viver" ?
Porque ele foi para oeste e ela para
leste e ambos continuaram a viver.

Comic Relief (14) : o bom português

P. S.: com agradecimentos ao António.

Carlos Paredes

Com votos de bom fim-de-semana!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Curiosidades 21 : Postais 1914-1918


Estive para integrar estas imagens na rubrica Comic Relief do Arpose, mas o dramatismo do postal do meio não mo permitiu...

Memória 44 : Biblioteca Nacional do Brasil



A Biblioteca Nacional do Brasil foi composta, no seu acervo inicial, pelos livros que D. João VI levara com ele, da biblioteca real portuguesa, para as terras de Vera Cruz. Alguns desses livros regressaram, depois, para Portugal, outros lá ficariam para sempre. A 29 de Outubro de 1810, por decreto de D. João VI, foi criada a Biblioteca do Brasil. Celebra-se, hoje, o seu bicentenário, portanto.

Iconografia moderna e laica (7) : a expulsão do Paraíso


"Ele baniu o homem e pô-lo fora do Jardim do Éden, e colocou os querubins e a chama de um gládio para defender o caminho da árvore da vida."
Génesis, 3.

Soneto à moda antiga


Eurídice, ou a criação poética

Por íntimo discurso ou por fugaz acordo
é que me lanço mudo ao teu encontro, fogo,
como se fora vento a água em que me afogo
e margem possuída a asa em que te mordo.

Como se fora casa o corpo em que me abrigas
e feroz a distância em que me vendo, amor,
calando te persigo e só depois, rumor
tu me pertences. Luz lembrada por antigas

redes de sombra, areia remordida, leve,
onde passaram barcos procurando o mar
desta elegia, morte repetida, neve
onde me perco, amor - sinal de te encontrar.

Eu digo: não te vejo; ou: não me surjas mais
(rasgando a tua face em direcção ao cais...).


1969

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Monteverdi / Orfeu / Jordi Savall

Fruta da época : os diospiros


Frágeis de transporte e embalagem, sápidos quando não "travam" na boca, lindos de morrer nas fruteiras, os Diospyros kaki fazem as minhas delícias desde a infância. O seu nome identifica-se, no grego, com o alimento de Zeus - ao que dizem. E são oriundos da China. Vou, hoje, comer o primeiro desta época. E, contra ventos e marés, continuarei a grafar "diospiros" (acentuação grave) que foi como aprendi, e gosto de dizer.

P.S.: para MR, com as melhores lembranças.

Civilidade (5) : tratamentos


Ainda retirado de "Escola de Politica, ou Tractado Practico da Civilidade Portugueza..." (Porto, 1803) e, no que aos tratamentos diz respeito e para actualização da Lei de 1597 sobre a matéria, se refere: "...Que aos Grandes Ecclesiasticos, e Seculares deste Reino se falle, e escreva por Excellencia (...) Que aos Bispos e aos Ministros da Santa Igreja Patriarchal de Habito Prelaticio se falle, escreva por Senhoría Illustrissima; (bem como) aos Viscondes, e Baroens, e aos Officiaes da Minha Casa, e das Casas das Rainhas, e Princezas, e aos Gentis-Homens da Camara dos Infantes, (...) Que aos Filhos, e Filhas legitimos dos ditos Infantes se ponha no alto da carta: Senhor; e no sobrescripto: Ao Senhor Dom N., ou á Senhora Dona N., e se lhe escreva, e falle por Excellencia,etc...." (pgs. 49, 53, 59)

King's Singers

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Estrabão / Orçamento (2010 para 2011)


"Os Lusitanos são um povo que não se governa, nem se deixa governar."

Estrabão (63 a.c. - 24 d.c.).

Jenaro Talens


Jenaro Talens Carmona nasceu em Tarifa, Cádiz, a 14 de Janeiro de 1946. É professor na Universidade de Valência. Os versos traduzidos pertencem ao poema Ceremonias, que está dividido em quatro partes e aborda a criação poética.

III
O brusco despertar de analogias
começa como forma de ultrapassar limites.
O sucesso diário da redenção
é uma breve ameaça
que não supõe astúcia, nem frequência, nem fim,
a expressa ambiguidade de um discurso vazio,
sobre quem significam?

Há uma música das palavras
e umas palavras cuja música se prefere ignorar.
E o seu enlace não exclui a troca
de uma verdade por outras. Que no acto poético
não há rigidez nem norma
mas arbitrariedade que produz harmonia.

Sobre amizades


As informações, ou conhecimentos cruzam-se, por vezes, de uma forma inesperada e, quase em simultâneo, convergindo. Soube, hoje, por acaso, que José Rodrigues Miguéis (1901-1980) tivera, como grande amiga, Irene Lisboa (1892-1958), e a correspondência, entre ambos, é disso exemplo evidente e indesmentível. Não o sabia, de todo.
Hoje, também, li, por acaso, uma frase interessante de Madame d'Arconville (1720-1805) sobre os três tipos de amizade possíveis. É um ponto de vista feminino e talvez polémico, mas curioso.
Seguem as palavras desta francesa, em tradução livre, mas que creio ser fiel à ideia:
"A amizade entre homem e mulher é a ligação mais agradável de todos os sentimentos; mas a dos homens, entre eles, é mais sólida e menos sujeita às contingências. No que diz respeito à amizade entre mulheres, é tão rara que se pode considerar como inexistente."

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Fragmento


É este olhar espantado ( ou alumbrado, como eu gosto de dizer) nas fotografias, e as mãos, pousadas sobre a mesa como se fora sobre um piano, como pergaminho onde o Sol, vindo da janela a Sul, denuncia a idade pelas fendas ou rugas, essas manchas acastanhadas que vieram para ficar. Mas sob isso tudo, as palavras como notas cristalinas ressurgem ainda, tão jovens que sobressaltam as rugas na testa (que, na emoção, ficava totalmente lisa), o olhar já baço e mate, um perfume de morte que respirei, de memória, há pouco.
Ainda me voltarei para trás, arrependido, a ver o vulto negro que se afasta, e cujo rosto e olhar nunca mais se cruzou, vivo, com o meu. Apenas uma mancha sem voz nem face, de memória, na praça medieval, e para sempre.

Citações XLIX: Goethe


Sempre me consideraram como um privilegiado da felicidade... No fundo, a minha vida não foi senão inquietação e trabalho. Posso dizer, com propriedade, que em oitenta e cinco anos, não tive mais do que quatro semanas de verdadeiro bem-estar.
Eternamente a pedra rolava, e era preciso levantá-la de novo...

J. W. Goethe, em carta a Eckermann, de 27/1/1824.

Filatelia V : Reimpressões


Denomina-se Reimpressão a reprodução, fora de tempo (posteriormente), de selos, com base nos seus cunhos originais - quando existentes - ou através de cunhos-cópia dos iniciais. Existem, para além das reimpressões oficiais (1863, 1885, 1900, 1905, 1928 e 1953) dos CTT, outras de origem particular que têm pouco valor filatélico.
As reimpressões de 1885 foram feitas por ocasião do III Congresso da União Postal Universal (U. P. U.). A de 1905 teve origem na visita a Portugal do Rei de Espanha, Afonso XIII, que mostrou interesse em possuir uma colecção dos primeiros selos portugueses. Finalmente, a de 1953 fez-se para celebrar o 1º Centenário do selo postal nacional.
Na imagem, que encima o poste, podem ver-se as reimpressões do selo de D. Maria II, de 100 réis, respectivamente, de 1863 e 1885. Todas as restantes reimpressões ( de D. Pedro V e de D. Luís) são de 1885.

Cromos 4 : Bandeiras e Brasões



É uma colecção incompleta, de grafismo muito primitivo e muito "castigada" pelo tempo. A caderneta já não tem capas, os cromos estão colados toscamente, as páginas estão com manchas de humidade e as cores das bandeiras estão esmaecidas. Terá sido das minhas primeiras colecções e deve datar de finais dos anos 40, ou pouco depois. Esta colecção de bandeiras era interessante porque agregava, também, os escudos (brasões) de cada país. Era composta de 192 cromos. E do número 159 até ao final ( 34 cromos, portanto), trazia os brasões das cidades portuguesas da Metrópole. A sequência era desordenada, começando por Lisboa que, na altura e segundo o texto, teria 740.000 habitantes. Acabava com a cidade de Tavira (30.000 habitantes). Os cromos, que vinham com pequenos rebuçados, a que chamávamos caramelos, custavam 10 centavos, cada um.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Favoritos XL : Elis Regina


Para Luís Barata que, do seu Prosimetron, falando de política e de Nª. Sra. de Aparecida, me fez recordar essa grande cantora brasileira, tão cedo desaparecida.

Revivalismo Ligeiro XXX : Edith Piaf


Perdoe-se a qualidade da gravação, em benefício do ar retro deste excerto do filme "Si Versailles m'etait conté" (1953), de Sacha Guitry. Neste ano do centenário da República Portuguesa.

Georges Bizet



Georges Bizet, filho de pais que se dedicavam à música, nasceu em 25 de Outubro de 1838. Era um perfeccionista, tendo deixado, por isso, várias obras inacabadas. Era também um bom pianista - Liszt elogiou a sua execução. Bizet faleceu, de ataque cardíaco, em Junho de 1875.
A música do vídeo, que se apresenta, é baseada na ópera Os Pescadores de Pérolas. O meu primeiro contacto, com a música de Georges Bizet, foi através deste excerto. E em Agosto, há mais de 50 anos. Ouvia-se, invariavelmente, antes das luzes se apagarem, para começar o filme, no Cinema Garrett, da Póvoa de Varzim.

Mercearias Finas 20 : retintamente nacional



Que fará um casal cujos filhos, adultos, já saíram da casa paterna, e a quem apetece deliciar-se com um Cozido à Portuguesa? Porque, entre carne de porco, farinheira, batata, nabo, chouriço, carne de vaca, cenoura, couve portuguesa, chouriço de sangue, salpicão, couve-coração, tendo-se os dois bem servido, ainda sobrará, seguramente, muita vianda. E boa, porque os componentes vieram dos 4 cantos do terrunho nacional: região saloia, Guimarães, Lamego...
Pois não haverá remédio senão guardar o sobrante no frigorífico ou congelador e esperar, pacientemente, que as saudades do Cozido à Portuguesa regressem. Foi assim que se fez. E, no domingo, ao almoço, o cozido voltou, sápido, no seu esplendor e excelência à nossa mesa. Na totalidade da sua ancestral convivialidade prandial.
Escolhi um Quinta de La Rosa duriense, tinto de 2008, que não tinhamos ainda provado e que nos chegou às mãos e boca, graciosamente, para acompanhar o Cozido à Portuguesa. De colheita manual (as uvas: Tourigas Nacional e Franca, mais Tinta Roriz que é, no Sul, o Aragonês, e em Espanha dá pelo nome de Tempranillo com que se faz o Vega Sicília), o vinho é produzido, no Pinhão, por Sophia Bergquist. Este, de 2008, está ainda muito jovem, promissor, cheio de força com taninos por domar: vai precisar de uns bons 4 ou 5 anos , de guarda, para amaciar.
O acasalamento, pela rusticidade e rijeza de sabores do prato, funcionou na perfeição. Honra lhes seja, ao Cozido à Portuguesa e ao Quinta de La Rosa, que se deram muito bem, um com o outro. Evoé!

domingo, 24 de outubro de 2010

Por mote alheio e desafronta, Vitorino Nemésio


Se houvera de esclarecer, detalhadamente, porque prefiro Sá de Miranda a Camões, ou Nemésio a Régio, com certeza que teria dificuldade em o explicar. Quem os frequentou, com alguma intensidade, talvez perceba se eu disser que Régio e Camões têm leituras lineares (um pouco menos o 2º), ao passo que Sá de Miranda e Nemésio podem ter várias camadas de entendimento ( a tal ambiguidade da poesia moderna...) ou profundidades e níveis de leitura. Em abordagens sequentes, os poemas vão-se desdobrando, abrindo-nos novas perspectivas de compreensão, quase sempre. São poetas de vida ou de velhice em que a experiência se acrescenta, enquanto Camões e Régio são vates de juventude em que o amor, o grito, a revolta se concentram (uma vez mais, Camões é bem mais rico do que Régio). Depois, a grandeza vocabular que pode sempre levar-nos a novas paragens e associações. Os anacronismos de linguagem em Sá de Miranda são também motivo de irradiação sucessiva, como as elipses, sendo que o verso de Camões é, no geral, corredio e cristalino, ou excessivamente moderno. Por outro lado, o alinhado verso de Camões e Régio, contrapõe-se ao desalinhado, às vezes arrítmico, verso de Sá de Miranda ou de Nemésio que obriga a pausas de leitura e solavancos de espírito, profundamente enriquecedores. Nada melhor que deixar a Vitorino Nemésio (1901-1978) as últimas palavras (Andamento Holandês, 1., pg. 37) deste poste:

Desenho a Holanda cor de Delft
E é minha a água simples de uma mão
De quem não digo nem às aves a maneira
Nem nome ou osso:
Só que a conheço pelo azul que posso.

Um dia (ou «era uma vez», dizia o outro),
Um dia me levaram minhas mágoas,
Como já Bernardim, às longes terras,
Renovado Camões a Guardafui:
E um aceno bastou de porcelana
Já para alguns jacintos alinhados
Na janela fechada do que fui.

Esperam rosa ou estrada os que adormecem.
O sono é sua forma a linho em branco:
Só eu tiro de mim a flor de Holanda
Com a força da graça recebida
E um pouco de bretanha ensanguentada:
Não por tristeza aprendida
Ou maneira de enfermagem,
Mas por que sangre em copa esta Tulipa
Na neve diluída da viagem.

29. 1. 1963.
P. S. : Dedicado, desportiva e amavelmente, a um comentador anónimo do Prosimetron.

Música e Poesia XXV : Chopin / Tino Rossi

sábado, 23 de outubro de 2010

Bibliofilia 33 : Teixeira de Pascoaes



É um caso singular e curioso este livro O Pobre Tolo, de Teixeira de Pascoaes (1877-1952), publicado pela Renascença Portuguesa, no Porto, em 1924. Foi escrito em prosa e terminado pelo poeta de S. João do Gatão (Amarante), em Novembro de 1923. Mas, em 1930, refunde o tema em verso e com o mesmo título. Acrescenta-lhe o sub-título : Elegia Satírica. Virá a publicá-lo, em edição de autor, através das Livrarias Aillaud e Bertrand. Não me lembro de nenhum outro caso, na Literatura Portuguesa, de um autor abordar em prosa e depois em verso o mesmo tema.
O meu exemplar encadernado, da versão de 1924, tem dedicatória do Autor a José Ventura da Camara. Custou-me, em Janeiro de 1992, num leilão da Livraria D. Pedro V (Luís Burnay), Esc. 7.260$50 (cca. 36,30 euros). Mostra-se também, na imagem, a capa da edição em verso de O Pobre Tolo, de 1930.

Aos bibliófilos, antiquários e curiosos


Na próxima quarta-feira, 27 de Outubro, terá lugar, na BNP, o lançamento do livro Incunábulos e Post-Incunábulos Portugueses (ca 1488-1518) da autoria de Helga Maria Jüsten, com apresentação do Prof. Dr. João Alves Dias.

Júlio Resende, português, 93 anos, pintor



Júlio Resende completa, hoje, 93 anos. Recordo-o nas palavras finais de um belo texto, de 1965, do poeta Eugénio de Andrade, que era seu amigo.

Iconografia moderna e laica (6) : Jonas


Jonas esteve 3 dias e 3 noites no interior da baleia (Jonas, 1-2). Os mineiros chilenos soterrados, na mina de San José, eram 33.
P. S.: para ms.

Sobre a obscuridade da poesia (moderna) : 2 achegas


1. No verbete sobre Obscuridade da poesia moderna em contraponto à clareza da poesia neo-clássica, William Van O'Connor refere o crítico F. W. Duppee: "...Duppee acrescenta que este estilo é a forma que o poeta tem de exprimir um julgamento negativo sobre as complexidades da vida moderna, sobre a relativa inacessibilidade das ciências, sobre as múltiplas crenças que somos obrigados a descriminar, sobre a separação da arte da vida do dia-a-dia, e assim por diante. Os mitos privados do poeta, a alegoria e a ambiguidade são o modo de dizer não a um mundo que ele não aprova. ..."
Princenton Encyclopedia of Poetry and Poetics (1975), pg. 582.

2. No capítulo Reflexões sobre Sá de Miranda ou a arte de ser moderno em Portugal, Jorge de Sena escreve o seguinte: "...Tudo isto se reflecte, por vezes em dramáticas elipses de concisa síntese, em Sá de Miranda, que é mais uma das ilustres vítimas - típicas da história da cultura portuguesa - dessa divisão contraditória da personalidade entre o passado e o futuro, a tradição e a revolução, o pensamento e a acção, o homem social e o homem moral, que, do Rei D. Duarte a Antero, com o seu ácume em Camões, vem explodir definitivamente em Sá-Carneiro e Fernando Pessoa, (...) Sá de Miranda participa, porém, dentro do carácter contraditório peculiar à cultura em Portugal, e nos aspectos específicos da sua época e da sua personalidade, de uma e outra forma de tortura. A comparação de versões, a observação de como há saltos lógicos que ele não emendou nunca e passagens discursivas que ele retocou deliciadamente, eis o que, efectivamente, revelará que antigo e que moderno coabitavam nele, não menos e não mais que em todos os estrangeirados torturadamente patriotas, espelho de portugueses, desde o Infante D. Pedro, o das Sete Partidas, ao «divino» Garrett. ..."
Da Poesia Portuguesa (Ática, 1959), pgs. 24 e 26.

P. S.: para c.a., na sua "Casa Improvável".

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Leituras Antigas XIX : Colecção 10



Esta colecção foi uma das minhas leituras preferidas, durante a adolescência. Desde cedo que gostei de História, primeiro a de Portugal, depois a de outros países, sobretudo europeus. E Américo Faria veio preencher, grandemente, a minha ignorância. Esta Colecção 10, editada pela Livraria Clássica Editora (17, Praça dos Restauradores, Lisboa), de saudosa memória, tem, pelo menos, 46 volumes de que eu ainda possuo a quase totalidade. Publicou-se a partir de 1954, creio, e chegou aos anos 60. Se não estou em erro, cada livro custava Esc. 15$00 (cca. 0,75 euros).

Franz Liszt

Franz Liszt nasceu em Raiding (Hungria) a 22 de Outubro de 1811 e faleceu em Bayreuth (Alemanha), em 31 de Julho de 1886.

Salão de Recusados XXVIII : Boca do Inferno


Há vários poetas que o Brasil divide connosco, porque viveram antes da Independência (1822). Entre muitos, Gregório de Matos (1636-1695), filho de pai português (natural de Guimarães). Tinha língua temida e ferina, e poetava com jeito barroco. Por atacar, em muitos dos seus poemas, a Igreja, deram-lhe a alcunha de Boca do Inferno. Mas também criticava a Metrópole: "Que os brazileiros são bestas / E estarão a trabalhar / Toda a vida, por manterem / Maganos em Portugal,...". É dele o soneto (brando) que se segue:

Descrição da cidade de Sergipe d'El-Rei

Três dúzias de casebres remendados,
Seis becos de mentrastos entupidos,
Quinze soldados rotos e despidos,
Doze porcos na praça bem criados.

Dois conventos, seis frades, três letrados,
Um juiz com bigodes sem ouvidos,
Três presos de piolhos carcomidos,
Por comer dois meirinhos esfaimados.

Damas com sapatos de baeta,
Palmilha de tamanca como frade,
Saia de chita, cinta de racheta.

O feijão, que só faz ventosidade,
Farinha de pipoca, pão que greta,
De Sergipe d'El-Rei esta é a cidade.


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

As palavras, ainda


As palavras têm vida incerta e evolução imprevista, muitas vezes. Umas irradiam, crescem, abarcam novos sentidos, coisas diversas na sua dinâmica própria. Outras concentram-se e intensificam o seu domínio. E outras ainda, simplesmente, perdem a utilidade, ficam no tempo - morrem. E nunca mais ressuscitam, a não ser fugazmente pela curiosidade de um antiquário ou algum arqueólogo de coisas perdidas, mais persistente.
Para mim, Chico, na sua vocalização, lembra-me, logo à partida e de imediato um amigo. De infância, que se chamava Francisco José, mas o Cardeal Saraiva (Obras Completas, IX, 1880, pg. 125) ensina mais do que isto. Aqui vai:
" Chico - Este vocábulo, nas antigas línguas, ou dialectos da Espanha, significava o que é pequeno. Assim (por exemplo), as pequenas ilhas, que há nas costas da Galiza se chamavam cicas. A serra que divide o Algarve do Alentejo se chamava monte-cico, donde fizemos Monchique. Os Galegos chamam chiquitos os meninos pequeninos. Os pequenos porquinhos chamam-se chicos, e chiqueiro o lugar em que se recolhem. Finalmente ajuntamos cico e cica a alguns vocábulos como terminação diminutiva, e dizemos cou-cica, lugar-cico, etc., por cousinha, lugarzinho, etc."

Galharda

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O abuso das palavras


O plano da linguagem do dia-a-dia obriga ao uso, muitas vezes por câmbio, abusivo, exagerado e insensato de palavras, para expressarmos um mesmo grau de veemência, ou "qualidade" expressiva, em relação ao Outro. Como num restaurante aonde vai chegando mais gente e onde se vai falando cada vez mais alto, para nos ouvirmos, até se chegar a um ruído quase insuportável.
As palavras vão assim perdendo a sua força própria com o uso inapropriado. E com o abuso que fazemos delas. E, com elas, perdem também força a expressão dos nossos sentimentos, das nossas reflexões, dos nossos próprios argumentos. Como na poesia, em que poema após poema, o poeta repete o jogo malabar da experiência adquirida e do fogacho iluminado sobre o vazio inócuo.
Há, creio, no geral, três possíveis alternativas: ou recuperar palavras antigas que, há muito, já não usávamos, nos casos em que afirmação pessoal se quer autêntica; ou a utilização de novos vocábulos que nos vão ganhando sabor na sua descoberta e aplicação selectiva. Para que os sentimentos, as reflexões e os nossos argumentos possam ganhar um peso diferente ou uma nova pureza.
A terceira alternativa é, cada vez mais, aproximarmo-nos do silêncio.

Leonardo da Vinci ( A Batalha de Anghiari) / E. M. Cioran


"Só as obras inacabadas, porque inacabadas, nos incitam a divagar sobre a essência da arte."
E. M. Cioran, Ébauches de vertige, pg. 10.

Hans C. Andersen em Portugal


Uma das áreas de bibliofilia mais procuradas e disputadas, em leilões de livros, são os relatos de estrangeiros sobre Portugal e os portugueses. Há muitos coleccionadores, muita procura e, nem sempre, muita oferta. Um dos primeiros relatos conhecidos, sobre Portugal, é o do cruzado Osberno (ou Osb.) que participou na conquista de Lisboa, em 1147. Até Agustina veio a aproveitar o caso para um dos seus livros. No séc. XV, o mais importante texto é de Wolkenstein, tirolês, que até foi recebido na corte de D. João II. A partir do séc. XVIII alarga-se a oferta, com autores tão diversos como William Beckford, Byron, J. C. Murphy, Carrère, Charles F. Dumoriez, Giuseppe Gorany e tantos outros. O livro "Campaigns of the British Army..." (Londres, 1812) é um dos mais procurados e caros, até pelas gravuras de Henri L'Évêque (1769-1832), aguarelista e gravador suiço, que enriquecem o volume.
Também o conhecido escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875) visitou Portugal, no Verão de 1866, e para lá da canícula que o irritou, deixou impressões simpáticas sobre a serra da Arrábida, a beleza das mulheres de Aveiro, sobre Coimbra, Sintra, Setúbal e Lisboa. Visitou Castilho, na sua casa, e vieram a trocar correspondência, depois. Grande parte das suas deambulações fê-las na companhia dos irmãos O'Neill (José e Jorge). Vamos, então transcrever um pequeno excerto de "Uma visita em Portugal em 1866" (Lisboa, 1971) de H. C. Andersen, em tradução de Silva Duarte. Segue o início do capítulo III.
"Por todas as descrições de Lisboa com que deparei, formara para mim próprio uma imagem desta cidade mas a realidade foi bem outra, mais luminosa e bela. Fui obrigado a exclamar: - Onde estão as ruas sujas, as carcaças abandonadas, os cães ferozes e as figuras de miseráveis das possessões africanas que, de barbas brancas e pele tisnada, com nauseantes doenças, por aqui se deviam arrastar? Nada disso vi e quando dessas coisas falei, responderam-me que correspondiam a uma época de há uns trinta anos, de que muitas pessoas se lembravam ainda perfeitamente. As ruas são agora largas e limpas; as casas confortáveis com as paredes cobertas por azulejos brilhantes de desenhos azuis sobre branco; as portas e janelas são pintadas a verde ou a vermelho, duas cores que se vêem por toda a parte, mesmo nos barris dos aguadeiros. O passeio público, um jardim longo e estreito no meio da cidade, é à noite iluminado a gás e aí se ouvem concertos. As árvores em flor desprendem um perfume bastante forte; é como se estivéssemos numa loja de especiarias ou numa confeitaria que preparasse e servisse gelados de baunilha.
Nas ruas principais há vida e movimento. Passam ligeiros os cabriolés e arrastam-se pesados os carros de bois dos camponeses de aspecto antediluviano. Pode-se ver um leiteiro com duas ou três vacas que ordenha na rua, seguido muitas vezes dum grande vitelo com açamo de coiro, a custo extraindo a sua ração fixada de leite. As esquinas das ruas são matizadas com grandes cartazes de teatro. A Ópera esteve fechada enquanto permaneci em Lisboa. O Circo «Price» onde se apresentavam pequenas óperas e operetas, bem como o teatro D. Maria II eram os mais frequentados. Este último não é muito grande mas é um belo edifício ornado de pilares e estátuas, voltado para uma praça arborizada com um pavimento em mosaico e muito elegante. Pouco mais adiante estende-se a larga Rua do Ouro. ..."
P.S.: Em tempo, e com agradecimentos a JAD, se rectifica que Osberno não foi emissor, mas receptor da carta de relato da tomada de Lisboa, que terá sido enviada por um Cruzado de nome desconhecido.

Jordi Savall / François-André Philidor(?), para a noite

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Iconografia moderna e laica (5) : a(s) torre(s) de Babel


Génesis, 11: 1-9. U.S.A., 11/9/01.

O Cardeal Saraiva


Francisco Manuel Justiniano Saraiva (1766-1845), mais conhecido por Cardeal Saraiva, minhoto de Ponte do Lima, foi homem culto, Patriarca de Lisboa (1840), maçon (sob o nome de Condorcet) e político liberal. As suas obras, póstumas (1872-1883), foram editadas pela Imprensa Nacional, antecedidas de um prefácio do Marquês de Resende. São um repositório "enciclopédico" que abrange várias áreas: léxico português, filosofia, história, etc..
Escolhemos, por opção de gosto pessoal, dar notícia de algumas palavras que o Cardeal Saraiva atribui a origem grega, dando o seu significado, e que constam do volume IX (1880) das suas Obras Completas.

Alazoar - gabar-se, pavonear-se;
Babão - tolo, estulto, insensato, que articula mal as palavras;
Calaça - preguiça, repugnância ao trabalho;
Cassão - termo indecente, com que a ínfima plebe costume apelidar as vis meretrizes;
Gramar - termo plebeu e chulo que significa comer;
Latagão - a plebe do Minho emprega este nome para significar um homem grandalhão, desamanhado, talvez tolo, brutal;
Malato - enfermo, debilitado de saúde, indisposto;
Ripar - é colher à mão algum fruto;
Sabana - vocábulo que se acha em antigos documentos e parece significar lençol ou toalha;
Xué - chamamos vestido xué o que é já tosado, rapado, safado do uso.

Nota: procedi a pequenas actualizações ortográficas.

Jaime Siles (Valencia, 1951)



Biografia

O meu passado são algas de paixão,
luzes de espuma.
E uma arena insaciável que devora
os corpos submarinos.
Um céu brando aonde bebem
as pombas sem rumo do estio.

Décadas


Pese embora o erro da generalização excessiva que tem, muitas vezes, um fascínio irrecusável, eu pecador me confesso. Já em tempos, aqui no Arpose (poste de Domenico Modugno, "Lontananza") tentei abordar, de forma subjectiva, as fracturas das décadas 50, 60, 70... do século passado. Hoje, ao reler(?) o prefácio de Rosa María Pereda ao livro Joven poesía española (Catedra, Letras Hispánicas, Madrid, 1993), deparei com o mesmo "pecado". Como segue, traduzido.
"... Os poetas a que me refiro - a quem os seus inimigos chamaram já novíssimos ou venezianos - são o fruto dos anos 60, da década da revolta, do entusiasmo pelas liberdades individuais e civis, do crescendo revolucionário no terceiro mundo e no ocidente, da aparição da chamada nova esquerda - e da inimaginável possibilidade de existência da nova direita...-, dos anos dourados de Praga e da Califórnia, enfim, desse processo que culmina no Maio 68, para abrir a porta a outra década, a dos anos 70, sem dúvida algo mais sórdida, seguramente mais triste. ..."
P.S.: para c. a., até pelo Miró.
Nota: em nome do rigor e com grato reconhecimento a 2 bons Amigos, se declara que este Miró " is a fake". Que me perdoem a distracção, mas como eu gosto de dizer: "no melhor pano cai a nódoa".

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sociedade civil (e religiosa)


Não costumo fazer publicidade ao jornal diário que frequento, muito embora, por vezes, o cite. Hoje, no entanto, não resisto a reproduzir a foto da 1ª página. Foi uma intervenção da sociedade civil (e religiosa) que não pode deixar ninguém indiferente. Pela sua força, pela sua inteligência e pela originalidade do protesto.
P.S.: para LB, no seu Prosimetron, na sequência do diálogo construtivo, inter-blogues, que tivemos.

Iconografia moderna e laica (4) : Pietà


Os locais não são distantes da antiga Pietà.

Memória 43 : Melina Mercouri

Melina Mercouri nasceu a 18 de Outubro de1925 e morreu em Março de 1994. Era grega.

Curiosidades 20 : visitantes


Não haverá muito a dizer, de novo, em relação ao último balanço sobre as visitas do Arpose. Neste mês e meio intermédio mantiveram-se estáveis grande parte das tendências, observadas antes.
Continuou o crescimento dos visitantes brasileiros que, no presente diário, representam metade das visitas portuguesas. Para quarenta portugueses, há 20 brasileiros a entrar no Arpose. Quanto a Mountain View (Califórnia) tem sido um pouco menos assíduo, embora mais demorado nas visitas. Mas também houve entradas de outros estados dos U.S.A..
Neste período, 6 novos países chegaram, pela primeira vez, ao Arpose: Polónia (Gdansk/Danzig) veio ler o poste "Enjoo de Papa", o Kuwait (Al Mijifa) consultou a "Crucificação" de Grünewald, e o Qatar foi direito às Mercearias Finas, para se centrar no Vinhas Velhas de Luís Pato. Apareceu também um visitante da Noruega, outro da Venezuela que veio ver o poste que fiz sobre Saint-John Perse e ainda outro, do Yemen (Sana), ouvir Lucília do Carmo - fez muito bem, e deve ter gostado. Achei, no entanto, curioso a estreia de 3 países árabes neste pequeno período de cerca de mês e meio (se calhar andam a aprender português, e foi para praticar). Finalmente, os Açores (Praia da Vitória) deram-me a honra da primeira visita. Vieram ler sobre Portugal e Borgonha.
Significativo foi que o poste "Receitas Poéticas" perdeu o 1º lugar do ranking de consultas brasileiras, a favor de "Mais (Guimarães) Rosa: em jeito de aperitivo", colocado em 26/3/2010. Mas também o "André Malraux: pintura, fotografia e cinema" teve consultas intensas. Creio que terá sido, sobretudo, pelo magnífico quadro de Borrel del Caso, que o encima. E é tudo.

domingo, 17 de outubro de 2010

Impromptu


Motivos há
(decerto muitos)
que não dão margem
a grandes espantos:
são comuns,
morrem por si, abrangem
um minuto
de atenção, logo perdida.
Regressam a nenhures,
discretos, invisíveis
da sua pequenez
ao silêncio esquecido,
e para sempre.

17/10/2010

A(s) frase(s) da semana


"...A razão principal é que as elites portuguesas - e o país em geral - não reclamam outros políticos, não reclamam melhores políticos. Poderíamos simplesmente dizer que temos os políticos que reflectem o que é a sociedade portuguesa. Não estou nada de acordo com isso. Acho é que há uma inércia, uma passividade nas elites portuguesas, que não reclamam, não intervêm, não exercem, no fundo, as chamadas «liberdades positivas». Que a liberdade não é só a liberdade negativa - eu não quero que toquem na minha esfera, nos meus direitos. A liberdade são direitos e obrigações. A obrigação de participar para construir um país melhor é um dever daqueles que são os melhores e os mais preparados. ..."

Artur Santos Silva, entrevista ao jornal "Público", em 16/10/2010.