quinta-feira, 20 de junho de 2019

Do que fui lendo por aí... 28


Na minha adolescência, Giovanni Papini (1881-1956) teve lugar cativo e era um dos meus escritores predilectos - li muita coisa dele embora, com obra muito vasta, muita coisa tivesse ficado por ler. Só mais tarde vim a saber que, do ponto de vista político, o escritor italiano teve um percurso algo controverso. Adiante.
Creio que muita gente terá a experiência de algum acontecimento funesto ou menos feliz que, a médio ou longo prazo, pôde vir a resultar numa deriva positiva futura, não esperada, na sua vida. É isso que Papini tenta provar em Desgraças Afortunadas (pg. 100), pequeno capítulo do livro Vigia do Mundo (Livros do Brasil, 1955), com alguns exemplos. 
Que passo a transcrever:

Giambattista Vico tornou-se inteligente só depois de uma queda pelas escadas abaixo; Goya pintou as suas obras mais originais depois de uma cura da paralisia; Beethoven encontrou os gritos mais sublimes da alegria depois que se tornou surdo; Leopardi escreveu as líricas mais perfeitas depois de se tornar corcunda; Proust escreveu a sua obra-prima quando a asma o impediu de continuar a estulta vida mundana.
Poder-se-iam juntar centenas de exemplos. Não é sempre verdade que a desventura gere desventura: muitas vezes ela não é senão a paga antecipada de um dom que vale bastante mais do que o penhor.


6 comentários:

  1. muito catolicamente digo que Deus escreve direito por linhas tortas.

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  2. Papini também foi um autor que li na minha adolescência, nas edições da Livros do Brasil, mas não li este Vigia do mundo nem me lembro dele. Vai já para a lista dos livros a ler. :)
    Não sabia que Leopardi era corcunda. Parece-me que só há um retrato dele.
    Bom feriado!

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    1. Posso passar-lho, em breve...
      "Gog" foi uma das obras de que mais gostei.
      Quanto a Leopardi, tenho um poema dele no Arpose (29/6/2012), muito bem traduzido por Pedro da Silveira.
      Bom resto de Feriado.

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  3. APS,
    De Papini li "Um homem liquidado" e gostei bastante. É autobiográfico.
    Não é de todo, dos títulos mais conhecidos do autor, mas recomendo.
    Boa tarde!

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    1. Obrigado. Esse não li.
      Mas poucos me faltaram, da Livros do Brasil.
      Bom final de tarde.

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