(...) Aos trinta anos havia um futuro, como havia aos cinquenta. Talvez aos cinquenta esse futuro estivesse mais limitado do que aos trinta; não era eu que o podia ajuizar. Mas a partir dos sessenta e cinco, sessenta e seis anos, já não há futuro. Naturalmente, existe o futuro imediato, os cinco anos próximos; mas mais ou menos eu já disse tudo quanto tinha para dizer; em linhas gerais eu sabia que já não tinha muito para escrever e que dez anos depois tudo estaria acabado. Recordava-me da velhice do meu avô, uma velhice triste; quando tinha oitenta e cinco anos, estava acabado, mas sobrevivia, não sabíamos porquê. (...)
Jean-Paul Sartre (1905-1980), in Cérémonie des Adieux suivi..., de Simone de Beauvoir.
Li este livro na trad. portuguesa. Fica-se amachucado.
ResponderEliminarBom domingo!
É pesado, sim senhor...
EliminarBom Domingo!
não sei porque concordo com a senhora D. Simone, mas concordo. Esta parte da vida é mesmo um despedir-se de muita coisa relacionada com o corpo e a sua actividade múltipla e até com alguns pormenores do espírito (com sorte, só pormenores). Tanta coisa que antes nos era fácil e nem pensávamos se fazíamos; e que ora custam ou se nos tornam mesmo impossíveis de executar. E no entanto há velhices conseguidas, estimadas e estimáveis. Como em todas as coisas, a sorte é só para alguns. E temos de nos aguentar com o que nos coube tentando rentabilizá-lo se possível.
ResponderEliminarParece-me que seja uma obra realista.
É, na verdade, um livro de memórias muito desapiedado e realista, além de muito bem escrito.
EliminarA Natureza é, frequentemente, madrasta, mais raramente benévola - no fundo, uma espécie de roleta russa...
Haja sorte, por isso.
Parece-me que li todas as memórias de Beauvoir. Para, além de Sartre, conhecer melhor e situar outros intelectuais da época.
ResponderEliminarJá agora, pergunto-lhe se leu algum romance dela e de qual mais gostou. Obrigado.
Se também li todos os livros de memórias de S. de B. (gostei menos de "La Vieillesse"), bem como os de ensaios, nos de ficção estou completamente em branco, infelizmente.
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