segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Osmose 141

 

A recente panteonização lisboeta de Eça, que deixou a sua Emília de Castro Pamplona (Resende) em Santa Cruz do Douro, sozinha lá no norte, fez-me ir de memória até à Póvoa de Varzim e, mais concretamente, até à Praça do Almada, onde o escritor está perpetuado em estátua.



Como em quase tudo (livros, terras, pessoas...) a memória retém apenas alguns fragmentos, frases, por vezes, cenas ou episódios mais impressivos, rasurando o resto, talvez por insignificante. Ora, para quem vinha da rua da Junqueira e passava ao lado do extinto Hotel Universal, que um tio meu tinha explorado nos anos 30 do século XX, ia desembocar, obrigatoriamente, na bonita Praça do Almada, onde se situava a Câmara Municipal.



Mas o Largo poveiro tinha outros encantos para mim. Logo à esquerda havia um ferro-velho que eu frequentava e onde, pelos anos 60, afortunadamente comprei um pequeno Cristo (séc. XVIII?) de madeira, já sem pernas, por Esc. 7$50 e que, depois, foi emoldurado e exposto na parede, em fundo de tecido fino.
Quase por trás da estátua de Eça de Queiroz, existia uma camisaria que, heterodoxa, também vendia selos de colecção e onde adquiri a série nova, completa, comemorativa de Luís de Camões (1924) a bom preço.



Mas talvez a cereja em cima do bolo tenha sido a compra do livro de contos Bichos, de Miguel Torga (1907-1995), na terceira edição de 1943, por Esc. 15$00, numa tipografia modesta da Praça do Almada que, para além de impressos, se dedicava a fazer encadernações e a vender livros usados.
Ora este meu regresso ao passado permitiu-me, também, fazer uma correcção aos meus conhecimentos. Sempre pensara que este Almada patronímico se referia a um dos conjurados de 1640. Mas não, celebra, sim, o corregedor Francisco de Almada e Mendonça (1757-1804), figura administrava que teve grande importância no progresso da Póvoa de Varzim.

1 comentário:

  1. Não possuo a sua paixão por antiguidades - nem provavelmente teria, ao tempo, capacidades económicas para tal - e a única coisa que tenho em comum nestas parcelas desse seu valiosíssimo espólio, é a 12ª edição desse primor literário de Contos de Torga, "Bichos" que não tendo o 'Tenório' no centro da capa, é batente antigo. Pelo menos, assim o dizem as suas páginas amarelecidas pelo tempo...O meu, diz somente Coimbra, ao fundo, sem referir o ano em que foi editado.
    Bom dia!

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