segunda-feira, 6 de junho de 2016

Na varanda a Leste


Há que procurar outra música, porque as que trago comigo parecem já cansadas de si mesmas, na sua perpétua multiplicação. E a luz ainda há-de crescer para iluminar os dias de Junho, por mais de duas semanas. Depois, será a vez da noite, que irá, pouco a pouco, ganhando mais espaço. Num ciclo natural limitado que, ciclicamente, se repete, sempre.
Poucas aves, defronte no meu ângulo de visão, mas sempre o costumeiro casal de rolas tímidas, rotineiras, que não voam nunca mais alto que os 30/40 metros de altura, num circuito de horizonte cerrado. Morreu a melhor roseira e o ano não tem sido bom para os limoeiros. A safra vai ser diminuta. Valha-nos a pequena oliveira, floridíssima.
Dizia, há pouco, Manguel, quando o li na página 314 (Uma História da Curiosidade, 2015): "...Além de nos ser impossível apreender a nossa própria morte, à medida que envelhecemos tornamo-nos mais conscientes da progressiva ausência dos outros. É-nos difícil dizer adeus. Cada despedida assombra-nos com a secreta suspeita de que poderá ser a última; tentamos continuar a acenar à porta durante o máximo de tempo possível. ..."
Um poema pode muito bem ser uma espécie de adivinha. Porque não responde, nem se clarifica por si, antes pergunta quase sempre, e restitui às palavras - quando de verdadeira poesia se trata - uma força antiga, inicial que, muitas vezes, já não conseguimos entender completamente.

4 comentários:

  1. As minhas roseiras estavam todas carregadas
    de rosas e as ervilhas de cheiro faziam
    jus ao nome. Cheiravam intensamente.Um
    pobre melro estava morto. A glicínia
    esplendorosa há um mês, já quase não tinha
    flores. Tudo abandonado, mas a natureza
    ainda consegue sobreviver sozinha.Ao ser
    humano, ás vezes é muito difícil.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O pluvioso mês de Maio creio que estragou muita coisa...
      Esquecemo-nos muitas vezes, também, que as plantas e as árvores não são eternas, muito embora as figueiras e as oliveiras pareçam.
      O ser humano é que é sempre mais mimoso. E frágil.

      Eliminar
  2. Também tenho uma pequena roseira que esteve quase a morrer, mas agora parece que está a espevitar. Vamos esperar...

    Gostei muito desta reflexão:)

    Boa tarde:)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ainda bem que gostou..:-)
      Pois a nossa roseira melhor foi-se de vez..:-(
      Temos outra, que não é tão bonita, com uma pequena rosa rubra.
      Bom resto de fim-de-semana!

      Eliminar