Embora não sendo adepta de “ajuntamentos forçados”, sempre
considerei que as Pousadas de Juventude permitiam, na altura e sem a recente
profusão de “Hostels”, um conhecimento do país de origem, e até do estrangeiro,
numa fase em que a autonomia financeira era ainda inexistente ou muito
reduzida.
Quando surgiu, pois, o programa “InterRail”, possibilitando
a compra e um “bilhete único” de comboio para percorrer a Europa, considero que
se juntou o útil ao agradável. Com efeito, e segundo uma receita anterior,
escolhi para férias a Escandinávia, aproveitando os relatos e as “dicas” de
amigos que a tinham visitado no ano anterior. Como sempre gostei de mapas – até
para fazer viagens imaginárias – tracei o meu plano em função da rede
ferroviária da Escandinávia, das Pousadas de Juventude disponíveis e o
orçamento previsto.
Parti, sozinha, de Colónia com uma primeira paragem em
Copenhaga, de que não ficou grande memória, para além da ambiência - pós-68 ou
alternativa – que já conhecia de uma visita a Amesterdão. A diferença de “tomo”
deu-se com a passagem de barco para a Noruega. Gostei de Oslo e ficou-me para
sempre o espaço e o museu dedicado à obra de Edvard Munch.
Do comboio, que seguia em direcção a Narvik, passando o
círculo polar, saí várias vezes em diversas localidades. Como o “cartão
InterRail” permitia saídas e entradas ao nosso gosto, desde que fosse numa
continuação do trajecto, estabeleci ca. de 4-5 horas de comboio para me apear, conhecer
terras novas e localizar o “poiso nocturno”. Ao partir de Oslo, no Verão, achei
estranho que a locomotiva levasse um dispositivo para afastar a neve, mas,
ainda antes de chegar ao círculo polar, tive umas curtas férias na neve, se não
me engano perto de Mosjøen. No entanto, o mais insólito, sobretudo para os que
passeiam sem o conhecimento da História, esperava-me em Narvik. O chamado “pai”
da Pousada, assim que viu o meu passaporte germânico, calou-se sem mais
palavras, lembrando-se, certamente, das batalhas do exército alemão durante a
2ª Guerra Mundial. Para além deste episódio, tirei uma foto com as distâncias
geográficas, semelhante à imagem seguinte.
Saí de Narvik, passando para a Suécia via Kiruna, entrei na
Lapónia e parei em Luleå. A Pousada de Juventude eram umas casinhas de madeira,
no meio da floresta, como demonstra a imagem seguinte. Apercebi-me, depois, que
devia ser a única hóspede, já que não me cruzei com mais nenhum ocupante.
Aliás, desde a entrada na Noruega, tinha-me habituado a falar muito pouco,
porque os habitantes do Norte são mais discretos na conversa, habituados como
estão à solidão em espaços pouco habitados. Assim, no dia de partida da Lapónia, dei com
um espectáculo memorável. Uma família italiana, pai, mãe e duas criaturas,
estavam no cais a tentar entrar no comboio, com a habitual algazarra do Sul. A
tarefa de entrar estava bastante dificultada, porque, atado à mochila, tinha o
pai umas hastes de uma Rena. Bela recordação ! O senhor nem entrava de frente,
nem de lado, apesar dos empurrões e gritos da mulher e perante o ar calmo e
silencioso do revisor. Da Lapónia ficou-me, portanto, esta lição das diferenças
entre os povos do Norte e do Sul.
Parei, ainda, na cidade universitária de Uppsala antes de
chegar a Estocolmo. Como o dinheiro já era pouco, porque a Suécia era, e é como
julgo, um país caríssimo, não aproveitei, na altura, para ir de barco até à
Finlândia. Ainda hoje tenho pena, porque completava um círculo que, assim,
ficou incompleto. Apanhei o barco, no regresso, em Malmö, onde tive
oportunidade para conviver com uma família sueca.
Convém, no entanto, sublinhar que a convivência com os povos
nórdicos se reduz ao essencial da palavra. Foram, portanto, umas férias para
apreciar a natureza, a estética das cidades, pouco palavrosas e numa
aprendizagem imensa do supremo bem da solidão.
Post de HMJ