segunda-feira, 2 de maio de 2016

Osmose 83


Numa recente entrevista, Eduardo Lourenço (1923) referia-se, e por palavras suas, a que: só existimos em função dos outros. Eu acrescentaria que, em casos extremos, nós somos e temos razão de ser nos outros. Finalmente (referi-o há dias), só vivemos a morte nos outros e dos outros, que a nossa é sempre imaginavelmente abstracta e presumível, mas nunca será vivida, em consciência total. Como também, conviria acrescentar, que a palavra sobrevivente (de um acidente, da guerra, do holocausto...) é das mais falsas do vocabulário universal, quando aplicada ao ser humano, porque a morte nunca interrompe o seu curso. Apenas o pode adiar.
Voltando aos outros. Que são o nosso espelho real, e reflectem, mais ou menos conscientemente, as nossas diversas facetas. Há amigos com quem (melhor) pensamos e amigos com quem (melhor) sentimos. Amigos com quem partilhamos leituras e aqueles com quem vamos construindo um breviário estético de eleição perene. Amigos que escolhemos para viver  alegrias e outros que melhor sabem acolher a nossa tristeza. Ou a sabem compreender. Por uma ruga na face, um nublado olhar, um embargo de voz.
Como as almas gémeas são raras e as afeições electivas, difíceis, também por aí nos temos de dividir, para ser, completadamente.

2 comentários:

  1. Algumas vezes são pequenos sinais que nos fazem aproximar
    dos outros. Raramente conseguimos as afinidades que
    desejaríamos.
    Gostei muito do seu texto.
    Boa noite e boa semana.

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    1. Agradeço as suas palavras, e concordo inteiramente com as duas primeiras frases do seu comentário.
      Embora, às vezes, me surpreenda a quantidade de amigos que algumas pessoas têm. Porque uma grande amizade é sempre rara e preciosa, mas também exigente, do meu ponto de vista.
      Retribuo, cordialmente, os seus votos.

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