sábado, 2 de novembro de 2013

Retratos 12


O sr. Abílio respira honestidade profissional por todos os poros. E nos preços que faz. Nos seus 80 anos, improváveis e rijíssimos, embora muito afáveis, leva já 67 de profissão constante, porque iniciou a sua aprendizagem a meio  da adolescência, mal completara os 13 anos. Aprendeu os rudimentos de artífice numa relojoaria da rua dos Sapateiros, em Lisboa, que tinha a representação da Patek Philippe e mais duas ou três marcas de consagrada respeitabilidade. Aí se vendiam, à confiança, e arranjavam relógios, a cargo de três bons profisionais.
Depois, e anos mais tarde, por razões várias veio a estabelecer-se na Outra Banda do Tejo.
A relojoaria, pequena, na velha Almada, está desarrumada, mas só para quem vem de fora. Pequenos ponteiros para substituição, coroas, braceletes, tudo ele encontra, com rapidez surpreendente, gesto sucinto e habituado, naquele aparente caos humano e ameno de trabalho manual.
Nós tinhamos entrado para comprar uma pilha e duas braceletes de relógio, iam as 11 quase no fim. E, de repente, poucos minutos passados, quatro ou cinco grandes e maviosos relógios começaram a bater, em uníssono de inesperada sinfonia, as 12 horas. Tenho de confessar que, por momentos, me senti transportado à infância, e uma tranquilidade beatífica e feliz me banhou a memória...

5 comentários:

  1. Lembrou-me uma relojoaria que havia na Av. da Igreja em que os relógios tocavam sempre todos à hora certa.

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  2. É que estes sons, por casa, já não se ouvem...
    Bom domingo!

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  3. Pois não. E não eram nada agradáveis.
    Mesmo na loja, devia ser de enlouquecer trabalhar num sítio daqueles. A dona era uma alemã-suíça, bastante mal encarada.

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  4. Retificando: uma suíça-alemã. :)

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  5. O ser humano habitua-se a tudo..:-))

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