segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Da Janela do Aposento 42: As brincadeiras da Sociologia, à Portuguesa



O que despoletou o presente texto foi a afirmação, nada científica, de uma “excelente senhora” da nossa praça, licenciada em Sociologia. A propósito das praxes universitárias, a socióloga Rita Ribeiro conclui que “isto é uma brincadeira de gente crescida”.
Reacenderam-se, na minha memória, todas as luzinhas de aviso, reavivando situações, no meio escolar, em que episódios de agressão e violência físicas eram perfeitamente toleradas sob a designação, incorrecta e abusiva, de “brincadeiras”. Resolviam-se, desta forma iníqua, desvios de comportamento, quiçá pela ausência mútua de formação cívica, a contento das duas partes, “assobiando”, alunos e professores “para o lado”!
Contudo, sempre considerei inadmissível a inanidade e a tolerância perante esse “gérmen” da violência, provocando-me a repulsa uma reacção espontânea de intervenção, tanto na escola como em espaço público mais alargado. Pouco me importa, nesse contexto, a atribuição do epíteto de “intransigente”, porque não confundo palavras, de étimos e significados tão diferentes, como “violência”, “agressão” e “brincadeira”.
Considero, portanto, que o inequívoco respeito cívico pela dignidade humana é uma conquista civilizacional e o mais poderoso garante de uma sã convivência num mundo de paz. Por conseguinte, repugna-me, profundamente, que instituições de formação, básicas ou superiores, revelem um tão fraco sentido de um dos “últimos fins do homem”, a saber, o respeito pela dignidade humana.
Aliás, nesse fraco entendimento, reencontram-se velhos fantasmas de ditaduras com a actual cruzada do mundo financeiro contra a Humanidade. Com efeito, e a bem da paz, “é a hora” de não confundir o lúdico com cenas de violência, abjectas e reaccionárias, moralmente condenáveis e, até, esteticamente repugnantes. 

Post de HMJ

6 comentários:

  1. Está cheia de razão. Ao ler semelhante disparate, pensei exactamente no mesmo.

    O que segue parece evidente, só que não se vê ninguém ir por lá. Das duas, uma: ou somos anarquistas (não é nada má opção, em teoria, mas, num país como este, melhor nem pensar nisso sem rir); ou aceitamos o Direito, e então as praxes já deviam estar proibidas há muito. O argumento de serem "coisas entre adultos" (como se falássemos de encontros e comércio mais ou menos amorosos) merece no máximo um encolher de ombros. A liberdade é um direito indisponível no ordenamento jurídico português, trate-se de adultos ou de bebés de berço. A integridade física, idem aspas. Não se vê porque não se possa alargar a indisponibilidade ao conceito, certo que mais abstracto, de dignidade humana, que aliás tem já tutela noutros contextos. Parece bastante simples...

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  2. Concordo com tudo o que diz!
    As praxes são estúpidas e deprimentes. Eu diria que servem aos cobardes (que humilham os colegas) para se sentirem com alguma importância ou poder. Coisa de ignorantes!
    Boa noite!

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    1. Para Isabel:
      é pena que as Universidades suportem tantos ignorantes !

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  3. Não li (ou não ouvi) a socióloga Rita Ribeiro, de que nunca ouvi falar.
    Tb concordo com tudo o que HMJ diz e devia aproveitar-se este triste caso do Meco para proibir as praxes.
    Não é a primeira vez que o caso é levantado, pela violência física ou psíquica que colegas exercem sobre os colegas. Violência que exercerão pela vida fora.

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    1. Para MR:
      se não leu a entrevista da "socióloga", não perdeu nada, porque é um mau exemplo para qualquer ramo das Ciências Humanas. A cabeça é que não deve dar para mais.

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