quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Da Janela do Aposento 48: Efemérides



O dia começou bem para as efemérides muito especiais, familiares, com o tio Otto a celebrar, como único sobrevivente dos Wagner, os 100 anos. Utilizou uma palavra para se referir à proeza de alcançar a meta, que já não ouvira há muito tempo, e que é de difícil tradução para português. Voltou a insistir que, a partir de agora, voltaria a contar o percurso da sua vida a partir do ano 1.

Destacando-se, desde sempre, dos restantes irmãos pela boa disposição e pelo enorme gosto pela vida, houve quem o recompensasse por períodos de grandes sacrifícios durante a guerra. Teve honras de uma visita do burgomestre que comentou, com o seu humor, dizendo que o estavam a “embonecar” para o evento.

Para além de artífice memorável na construção de móveis, era um fotógrafo excepcional, enriquecendo o espólio familiar e, sobretudo, o meu álbum de fotografias desde a infância até aos meus quinze anos. Tenho pena das películas, da AGFA, que se perderam quando abandonou a sua câmara escura instalada na cave da sua casa.

Lembrei-me, pois, das fotos que me deixou da infância, do teatro de bonifrates que montava em casa a contar histórias, numa casa pequena, cheia de alegria.

Por coincidência, o dia de hoje é também o início do ano lectivo, em Colónia e no respectivo estado. Veio-me à memória o primeiro dia de escola, com a fotografia a preceito que, no entanto, não foi o tio Otto que ma tirou. As recordações fixaram-se na fotografia reproduzida acima e ficou a interrogação sobre o percurso da civilização – europeia – nos últimos 60 anos.

Confesso que tenho alguma dificuldade em aceitar a menorização e infantilização do ser humano, empreendidas pelas poderosas forças do consumo, a ponto de o Governo de Portugal emitir uma brochura sobre o “Regresso às aulas” com conselhos indigentes.


Ora, como se pode ver pela foto, apresentei-me, no primeiro dia de aulas, “compostinha”, sem haver necessidade, da parte do governo de então, em explicar à minha mãe o que me havia de vestir, ou de comprar para levar para a Escola.

A lição de chegar aos 100 anos, “são e salvo”, não passa, certamente, por essa indigência do consumo tolo e do supérfluo em detrimento da essência. Para já, nem sequer me rebaixo a comentar a imagem que o folheto oficial transmite dos professores. Deixo a imagem apenas como registo de revolta.



 Post de HMJ

7 comentários:

  1. Parabéns ao tio Otto!

    Se me tivesse aparecido uma professora assim... teria sido uma grande, grande risada. :-)))
    E este folheto é dedicado a que faixa etária?

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    1. Para MR:
      É pena que é essa a "imagem oficial" do professor. Sobre a faixa etária a que se destina o folheto, não lhe sei responder.

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  2. Parabéns ao seu tio! Que maravilha!

    Uma das coisas que está pior no ensino, é a entrada dos alunos com 5 anos, que, quer se queira quer não e por muito inteligentes que sejam, não têm maturidade para encarar a escola como algo sério. Essa ideia de que a escola deve ser levada a brincar, é uma estupidez. Os alunos deviam entrar com 6 ou mesmo 7 anos e não bebés de Jardim de Infância.

    Esses folhetos, a maior parte das vezes, só servem para dar despesa e fazer poluição.

    A menina da foto é muito bonitinha:)
    Bom dia:)

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    1. Para Isabel:
      É a fuga para a frente ! Depois, a escola da "brincadeira" empurra a ineficiência para o ciclo seguinte, por vezes sem remédio.
      A poluição "mental" deste tipo de folhetos é que é revoltante !
      Obrigada pelos votos ao meu tio, também agradeço os votos de MR.

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  3. Parabéns ao último dos Wagner. 100 anos são quase uma vida... :-) para quem vai fazer um ano no próximo dia 21 de Agosto de 2015.
    Quanto ao resto ... gostei da foto e mais não digo.

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    1. Para JAD:
      com os agradecimentos, distantes, do último dos Wagner.
      [Agora, o GOOGLE, obriga-me a escrever as respostas duas ou três vezes. Que maçada !]

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    2. E os comentários também. Por vezes já não tenho paciência para os voltar a escrever. E cada vez está pior...

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