domingo, 8 de abril de 2012

As surpresas da memória no domingo de Páscoa


Não foram as madalenas de Proust, que o levaram à "procura do tempo perdido", nem por ser domingo de Páscoa me veio à memória o Pão-de-ló de Margaride que, no dia de hoje, se pode comprar em qualquer confeitaria de Guimarães, que se preze de o ser. Nem sequer me lembrei dos pequenos bolos arredondados recobertos a linhas curvas sinuosas de calda de açúcar, esbranquiçados por fora, amarelinhos e tenros por dentro. Não. Ao pequeno almoço, o que me veio à lembrança foi o paladar das cavacas duras e escuras por dentro, que eu detestava, mas que havia sempre na mesa pascal. Mas pelo lado mais simpático, porque eram feitas com imensas raspas de casca de limão. E foi esse o sabor que me veio à boca da memória, ao tomar o pequeno almoço. Como essa memória atravessou tantos anos e quilómetros, não o sei dizer.
Eu tinha, durante a noite, sonhado com a casa de Eça, em França. Acompanhava-me, logicamente, o meu amigo A. G. de S., estudioso da sua obra. Mas a tudo se acrescentou uma sardanisca (lagartixa) minhota que mais parecia o sapo de Lucas Cranach, que postei há dias no Arpose - foi uma transposição, decerto. Depois, no sonho, aparecia também alguém (feminino) que lavava louça na cozinha da casa francesa de Eça de Queiroz. Mas quanto a cavacas, nada. Por isso não havia antecedentes, para esse sabor que me veio à boca. Talvez a geleia de limão sobre a mesa, que HMJ fez, magnífica... Ou, então, o cesto de vime repleto de limões, que nos ofereceram, e que estava em cima do aparador. Talvez, por aí, me tivessem chegado as detestadas e duras cavacas pascais e vimaranenses, à memória, nesta manhã de Páscoa. Devo estar na pista certa...
Para o almoço, o tradicional anho, que já rescende no forno. Mas ainda tenho de escolher o vinho, porque ontem estava indeciso. Sinto-me inclinado para um Douro, talvez o "Quinta de la Rosa", sempre garantido como boa escolha para assados. E, para sobremesa, à falta do Pão-de-ló de Margaride, ainda há um resto do de Alfeizerão, gentilmente trazido e oferecido pelo H. N., sempre generoso. Só falta o compasso e o vinho fino para o dia ser completo. As cavacas de Guimarães, dispenso-as perfeitamente.

9 comentários:

  1. Gosto imenso de cavacas, sejam de Guimarães, das Caldas ou de Sernancelhe.
    Boa Páscoa, HMJ e APS!

    ResponderEliminar
  2. Dispenso as, provisoriamente, de Belém.

    ResponderEliminar
  3. O compasso... se for pela visita e pela fraternidade... posso arranjar - não será é o padre dessa freguesia!

    ResponderEliminar
  4. E ainda a tempo: votos de um bom almoço e Boa Páscoa!

    ResponderEliminar
  5. Pois é, MR, quanto a cavacas não há nada a fazer...Mas, a esses bolinhos de gemas, papava dois ou três, com vinho fino!
    Uma boa Páscoa familiar, também para si!

    ResponderEliminar
  6. Ao compasso, JAD, preferia a lembrança perfumada da soleira da porta juncada de pétalas de flores e o seu aroma, na rua.
    Votos cordiais de uma bela Páscoa!

    ResponderEliminar
  7. Geleia de limão? Que bela ideia! Em certas alturas do ano não sei o que fazer aos limões... Cavacas também não aprecio, mas adoro folar, com muita erva doce e canela. Os de Olhão, em especial, são uma delícia!

    ResponderEliminar
  8. A geleia de limão é uma delícia. Comprovada.

    ResponderEliminar
  9. Eu concordo com MR, absolutamente, e se c. a. quiser temos muito gosto em passar a receita. É só dizer...

    ResponderEliminar