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Não fosse a recente demissão do Ministro da Defesa, Freiherr Karl-Theodor zu Guttenberg, o lugarejo, certamente, não daria azo a uma notícia do DIE ZEIT. Sucede, no entanto, que o lugar de residência física e de alma (=Ka-Tes Heimat) do demitido ministro se tornou num lugar de peregrinação, com forasteiros a espreitar pelos portões fechados dos seus aposentos que a seguir se reproduzem.
Remeto para a leitura integral do artigo do DIE ZEIT pelo facto de o considerar como uma pérola jornalística, aliando a observação objectiva a uma fina ironia sobre provincianismos vários, tanto ancestrais como actuais, a que não conseguimos resistir para fazer o presente "post". No lugarejo de Guttenberg, os habitantes falam do barão como um dos seus, o "seu Ka-Te" (=Karl-Theodor...) que vive na sua bela mansão, com a sua bela consorte (descendente de Bismarck) e duas filhas que, como ele próprio invocou num dos seus últimos discursos de defesa, sofreram muito com o tempo que dedicara à investigação para a sua tese de doutoramento em detrimento do apoio familiar (!). "Ka-Te" passeia o seu cão pelas ruas do lugarejo. Ainda ao serviço da nação levantava, por vezes, voo num helicóptero a partir dos campos próximos e, de acordo com as imagens constantes da sua página na internet, gostava de se apresentar com o fardamento dos ramos das forças armadas. - Há lusitos que também gostaram dessa benesse para apurar o seu sentido estético e de imagem - Quer isto dizer que a foto do Ministro, acompanhada da sua consorte, ao desembarcarem, no Afeganistão, vestidos de calças brancas e com ar de recreio, terá sido um "erro de casting".
Os aldeões entrevistados no artigo do DIE ZEIT pertencem, certamente, a essa "maioria" que as sondagens procuram para atestar a popularidade do recém-demitido Ministro. Eles falam do "seu Ka-Te" - num misto de ervilhaca, i.e., parolice, subserviência e, quiçá, disfarçada inveja pelo diferente estatuto económico e social. Até fazem questão de sublinhar que a própria chanceler Angela Merkel disse que "não empregou um investigador, mas um ministro" (palavras de sabedoria e os sublinhados são nossos). O que une, profundamente, os habitantes do lugar ao seu barão é a sua crença católica, apostólica romana, facto que os impede de falar do amigo de peito do Freiherr zu Guttenberg, i.e., um empresário do ramo da produção/comercialização de artigos eróticos. Parafraseando um dito do Dr. Rebelo de Sousa: "... com amigos destes ..." concluímos o relato sobre os habitantes do lugarejo.
Ora todo este caldinho daria um belo "script" para uma novela, tanto de mau gosto nacional como europeu, em que o "povinho" se poderia deliciar - numa postura de identificação/projecção - com mundos acima da sua realidade tristonha, confundindo o espectáculo com a política.
Valha a verdade que o lugarejo de Guttenberg já fora, em tempos, território dos reformadores de Lutero. Em tempos não muito distantes, um distinto familiar, Karl-Ludwig zu Guttenberg, participou na revolta conhecida pelo "círculo de oposição a Hitler de 20 de Julho de 1944", tendo sido executado pouco antes do fim da guerra, entre 23./24.4.1945. Convém, igualmente, recordar que a Constituição de 1949 confirmou a disposição de 1919 no sentido da abolição dos títulos nobiliárquicos, integrando, somente, o próprio apelido do cidadão.
A seriedade, a ética, entre outros, obrigam os esclarecidos a não embarcar em certos embustes, sobretudo aqueles que, como eu, aprenderam, no pós-guerra, o sentido último dos imperativos de Fichte e Kant.
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Os aldeões entrevistados no artigo do DIE ZEIT pertencem, certamente, a essa "maioria" que as sondagens procuram para atestar a popularidade do recém-demitido Ministro. Eles falam do "seu Ka-Te" - num misto de ervilhaca, i.e., parolice, subserviência e, quiçá, disfarçada inveja pelo diferente estatuto económico e social. Até fazem questão de sublinhar que a própria chanceler Angela Merkel disse que "não empregou um investigador, mas um ministro" (palavras de sabedoria e os sublinhados são nossos). O que une, profundamente, os habitantes do lugar ao seu barão é a sua crença católica, apostólica romana, facto que os impede de falar do amigo de peito do Freiherr zu Guttenberg, i.e., um empresário do ramo da produção/comercialização de artigos eróticos. Parafraseando um dito do Dr. Rebelo de Sousa: "... com amigos destes ..." concluímos o relato sobre os habitantes do lugarejo.
Ora todo este caldinho daria um belo "script" para uma novela, tanto de mau gosto nacional como europeu, em que o "povinho" se poderia deliciar - numa postura de identificação/projecção - com mundos acima da sua realidade tristonha, confundindo o espectáculo com a política.
Valha a verdade que o lugarejo de Guttenberg já fora, em tempos, território dos reformadores de Lutero. Em tempos não muito distantes, um distinto familiar, Karl-Ludwig zu Guttenberg, participou na revolta conhecida pelo "círculo de oposição a Hitler de 20 de Julho de 1944", tendo sido executado pouco antes do fim da guerra, entre 23./24.4.1945. Convém, igualmente, recordar que a Constituição de 1949 confirmou a disposição de 1919 no sentido da abolição dos títulos nobiliárquicos, integrando, somente, o próprio apelido do cidadão.
A seriedade, a ética, entre outros, obrigam os esclarecidos a não embarcar em certos embustes, sobretudo aqueles que, como eu, aprenderam, no pós-guerra, o sentido último dos imperativos de Fichte e Kant.
Post de HMJ dedicado a todos os meus amigos portugueses e alemães
Só agora é que li e gostei imenso.
ResponderEliminarE quanto a títulos... lá como cá. E cá como lá.
Obrigada MR, foi um dever cívico.
ResponderEliminarParabéns, HMJ, por este post.
ResponderEliminarA Baviera e a sua vizinha Salzburgo...
Para Miss Tolstoi,
ResponderEliminaragradeço a sua leitura atenta e o seu comentário.
Finíssima ironia! :-) Também gostei muito
ResponderEliminarPara c.a.
ResponderEliminarobrigada pelo comentário.