Sempre foram votivamente generosas as intenções de perpetuar as glórias do presente próximo e coevo. E, mais ainda agora, na celeridade leviana e ligeira do nosso tempo, em que a novidade corre atrás da novidade, a fama atrás de uma nova fama, numa vertiginosa necessidade de descoberta e nomeação de novas celebridades e novos ídolos, quase sempre fátuos e efémeros que, uma vez derrubados, rapidamente são substituídos por outros, numa cega sucessão mediática.
As agremiações, os clubes e os grupos humanos sempre precisaram dos seus santos e heróis privativos para se imporem e para o fortalecimento da crença dos seus membros constituintes. Para nortear os seus actos futuros. Repare-se, por exemplo, na pressa com que a Igreja Católica - instituição das mais conservadoras, pela sua própria natureza - procura canonizar o ainda não há muito falecido papa João Paulo II...
Se não estou em erro, os últimos portugueses a transitar para o Panteão Nacional, foram o Gen. Humberto Delgado e Amália Rodrigues. Foi relativamente rápida a sua ascensão à "imortalidade" nacional. Mas, em França, o mesmo se passa. Está aberta a discussão e polémica, no sentido de virem a integrar o Panteão Nacional gaulês, os restos mortais de 5 ilustres franceses: Pierre Brossolette, Germaine Tillion, Geneviève de Gaulle, Simone Weil e Joséphine Baker.
Dizia-se dantes que a pressa não era boa conselheira, e toda a justiça precisa de tempo, mas, hoje em dia, há um frenesim de arregimentar a imortalidade rapidamente, através de novos santos, heróis e mártires da Pátria, sem a necessária ponderação do Tempo. Convenhamos que talvez seja para recuperar, do passado, o que cada vez falta mais no presente: exemplos vivos de ética, onde o exercício de condutas cívicas, possa servir de modelo, aos humanos.