sábado, 30 de novembro de 2013

Imortalidades prematuras?


Sempre foram votivamente generosas as intenções de perpetuar as glórias do presente próximo e coevo. E, mais ainda agora, na celeridade leviana e ligeira do nosso tempo, em que a novidade corre atrás da novidade, a fama atrás de uma nova fama, numa vertiginosa necessidade de descoberta e nomeação de novas celebridades e novos ídolos, quase sempre fátuos e efémeros que, uma vez derrubados, rapidamente são substituídos por outros, numa cega sucessão mediática.
As agremiações, os clubes e os grupos humanos sempre precisaram dos seus santos e heróis privativos para se imporem e para o fortalecimento da crença dos seus membros constituintes. Para nortear os seus actos futuros. Repare-se, por exemplo, na pressa com que a Igreja Católica - instituição das mais conservadoras, pela sua própria natureza - procura canonizar o ainda não há muito falecido papa João Paulo II...
Se não estou em erro, os últimos portugueses a transitar para o Panteão Nacional, foram o Gen. Humberto Delgado e Amália Rodrigues. Foi relativamente rápida a sua ascensão à "imortalidade" nacional. Mas, em França, o mesmo se passa. Está aberta a discussão e polémica, no sentido de virem a integrar o Panteão Nacional gaulês, os restos mortais de 5 ilustres franceses: Pierre Brossolette, Germaine Tillion, Geneviève de Gaulle, Simone Weil e Joséphine Baker.
Dizia-se dantes que a pressa não era boa conselheira, e toda a justiça precisa de tempo, mas, hoje em dia, há um frenesim de arregimentar a imortalidade rapidamente, através de novos santos, heróis e mártires da Pátria, sem a necessária ponderação do Tempo. Convenhamos que talvez seja para recuperar, do passado, o que cada vez falta mais no presente: exemplos vivos de ética, onde o exercício de condutas cívicas, possa servir de modelo, aos humanos.

A par e passo 68


...E não é tudo. Isso resultava também desta ambição de sobreviver, um enobrecimento dos nossos objectivos e do nosso esforço; e, daí, uma espécie de hierarquia, uma classificação das obras dos homens segundo a sua duração que se presumia interligada à sua própria acção. Enfim, este pensar sobre o futuro, na posteridade ou na imortalidade, por muito ilusório que fosse, era para o artista uma fonte inesgotável de energia que o apoiava na sua carreira, muitas vezes bem dura, contra a incompreensão e as dificuldades materiais da vida. «Um dia chegará», pensava ele. Mas tudo isto não existe mais, ou pouco sobrevive, e há pouca esperança de que esta noção de confiança na posteridade e na duração possa vir a renascer das nossas cinzas.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pgs. 241/2).

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Marcadores (11)


Para a colecção virtual do Blogue, mais estes 3 marcadores alemães, com tamanho médio, de uma editora que se dedica a publicar, sobretudo, obras sobre viagens e Natureza.

Robert Musil, sobre Rilke


"Rainer Maria Rilke adaptava-se mal à sua época. Este grande poeta lírico nada mais fez do que elevar à perfeição a poesia alemã; ele não foi uma celebridade de agora, mas um destes cimos sobre os quais o destino do espírito avança de século em século..."

Robert Musil, in Rede zur Rilke-Feier.

A direita caviar


Com as devidas vénias a quem fez e a quem me enviou a imagem piedosa, aqui está mais um nobre exemplo de um corajoso jovem que não emigrou e se prepara para salvar Portugal...

Aditamento: e, para apoio moral, a mãezinha deste jovem parece que pertence ao "staff" de Belém... Mais uma sagrada Família.

com agradecimentos cordiais a AVP.

De um poeta galego


Eu quero oir teu silencio

Como na erva jovem ou à flor da água
quero ouvir teu silêncio, menina.

Um silêncio constelado de sorrisos,
onde os teus olhos sejam dois barcos ancorados.

Eu, único, marinheiro.

Uma funda alegria nas velas brancas, suaves,
- palavras que guardam ainda o ar da flor do linho -
esperando a manhã
em que eu deixe o cais e cego me embarque
capitão dos teus olhos veleiros.


Aquilino Iglesia Alvariño (1909-1961).

Uma fotografia, de vez em quando (22)


Nascido na Ucrânia, Arthur Fellig (1899-1968) foi para os Estados Unidos, com dez anos, e aí viria a adoptar, para efeitos profissionais, o pseudónimo de Weegee. Destacou-se como fotojornalista, especializando-se em instantâneos de cenas de crime, rusgas policiais e criminosos baleados e mortos, em plena rua, na boa tradição americana. Fotografias que, pela sua extrema crueza, evitamos incluir neste poste.
Fique-nos a imagem das crianças na rua, refrescadas pela água, num quente dia de Verão nova-iorquino, e o seu retrato insólito, em pleno exercício da profissão.

Pot-pourri, torres de marfim, ou a temática do dia


Às vezes, a dispersão de espírito tem a sabedoria empírica de convergir, ao começo da noite, naturalmente, para conclusões simples, talvez um pouco rudes que se aproximam do irracional aparente, mas que não deixam de ser verdade e traduzem, liminarmente, a colheita do dia. Sigamo-las:
a) O Primeiro-ministro belga, Elio di Rupo, denunciou publicamente que há emigrantes portugueses, na Bélgica, a trabalhar por 2,06 euros/hora, quase como escravos. O embaixador português, em Bruxelas, questionado, respondeu que não sabia de nada.
b) Juntando-se, fervorosamente, às salvíficas soluções do nosso PR, a ministra Cristas afirmou, há pouco tempo, que um dos nossos futuros é o Mar. O branco ministro Aguiar assinou, ontem ou hoje, a sentença de morte dos estaleiros de Viana do Castelo, entregando-os à Martifer que, depois da construção de 3 estádios portugueses para o Euro 2004 e da Torre Vasco da Gama, soma milhões de euros de prejuízos...
c) Não consegui ainda fortalecer uma opinião robusta sobre o novo Papa. Mas não tenho dúvidas em considerar o pontífice Francisco, até por ter passado incólume pelos anos de chumbo de Videla, um homem esperto. Mas também me sinto capaz de dizer que Bento XVI era um homem inteligente. O diabo não é chamado aqui, para escolher. 

Leis para uns e leis para outros, em 2 andamentos


1. Hoje, um popular, em declarações à SIC, na TV, e a propósito do aumento da idade de reforma, no próximo ano de 2014, para os 66 anos, comentava que, em princípio, todos somos iguais e, por isso, esta legislação deveria também abranger os políticos. Pela minha parte, acho justo. 
2. Se formos suficientemente atentos, poderemos verificar que, o nosso estimado PR, contumaz e flagrantemente, envia para apreciação para o TC, ou veta, toda e qualquer legislação que o afecta directamente, ou que se aplique à sua Família. O resto passa - é pavloviano, e facilmente comprovável...

Idiotismos 25


Sendo um galicismo, a expressão pot-pourri é usada, em Portugal não muito frequentemente, para expressar uma amálgama de coisas, sem muito de comum entre si. Mas a sua utilização, em França, é destinada, normalmente, à linguagem do teatro ou musical, para significar: miscelânea.
Com alguma propriedade, e nesta acepção específica, foi usada por Jorge de Sena (Pot-pourri Final) para título do último poema da obra "Arte de Música" (1968), onde o Poeta fala de Carissimi e Dvorak, compositores, entre outras referências culturais.
O mais curioso, porém, é que este idiotismo francês tem a sua origem na língua castelhana: olla podrida (talvez por corruptela), que dá nome a um prato tradicional espanhol, em que entram legumes, enchidos e carne cozida. Uma espécie de Sopa Rica, e um pouco semelhante ao nosso celebrado Cozido à Portuguesa...

Divagações 59


A música, guardei-a para mais tarde. Porque as palavras negavam-se entre si, recusando a harmonia  luminosa destes curtos dias de Novembro e o pesadume de tudo aquilo que nos rodeia, onde não parece haver entendimento possível. Como as difíceis manhãs de Resende que, apesar de tudo, teimam em florir. Tenho que aprender a lição do Mestre, mas cada vez me parece mais difícil...

Bibliofilia 91

Com ligeiros restauros marginais e uma mancha de humidade, na capa, esta primeira edição (1914) de "A Confissão de Lúcio", de Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), custou-me, no início dos anos 80, Esc. 2.400$00, num alfarrabista da Rua do Alecrim, em Lisboa.
Não é livro que apareça, com frequência, à venda, ou em leilões. Referenciei-o, em Novembro de 1991, num leilão (lote 1054) de José Manuel Rodrigues, tendo sido arrematado por Esc. 21.000$00. Mais tarde, na Feira das Antiguidades, da F. I. L., em Abril de 1998, um exemplar com pequenos defeitos, marcava Esc. 12.000$00. Finalmente, num leilão Silva's, em Março de 1999, tinha uma estimativa de venda entre 8.000$00 e 12.000$00, mas não registei a importância final por que foi vendido.
Lembro que foi a edição fac-similada desta obra de Mário de Sá-Carneiro, que, ontem, se podia adquirir com o jornal Público. Edição feita pelo exemplar da Biblioteca da Universidade de Coimbra.
A quem queira aproveitar...

Citações CLXII


É tudo o que os jovens podem fazer pelos velhos, chocá-los e mantê-los actualizados.

George Bernard Shaw (1856-1950).

terça-feira, 26 de novembro de 2013

De Carlos de Oliveira, um poema


Cantiga do Ódio

O amor de guardar ódios
agrada ao meu coração:
é como um dia sem sol
a raiva na servidão.
Há-de sentir o meu ódio
quem o meu ódio mereça:
ó vida, cega-me os olhos
se não cumprir a promessa!
E venha a morte depois
fria como a luz dos astros:
que nos importa morrer
se não morrermos de rastros?


Carlos de Oliveira (1921-1981), in Mãe Pobre (1945).

Apontamento 31: Coincidências, obviamente ideológicas



Alguns órgãos da chamada “comunicação social” da Alemanha, inclusivamente a televisão pública, primam pelo alinhamento despudorado e pela sua sujeição aos “mercados” no momento em que resolvem transmitir o que eles julgam ser “informação” sobre Portugal. Raramente conseguem disfarçar a sua ignorância para com os países do Sul da Europa quando se pronunciam, designadamente em alturas convenientes para os “mercados”.
Com efeito, a estação pública da ARD, que emite o telejornal diário, mantém erros crassos sobre a cultura portuguesa, optando pela reincidência na ignorância mesmo após o devido reparo. A outra estação, o ZDF, num grau inferior, até se deu ao luxo de incluir Portugal, geograficamente e há uns anos a esta parte, no “Reino de Espanha”. Portanto, estamos conversados sobre os conhecimentos de Geografia, História e Cultura destes “órgãos de comunicação” de referência.
Juntamente com alguns jornais, próximos dos “Crimes” e “Correios da Manha” nacionais, resolveram pronunciar-se hoje. Notícia: a aprovação do OE para 2014 ! Obviamente, “mercado dixit”!
Infelizmente, houve coincidências, ideológicas, que nenhum destes senhores soube interpretar ou relacionar.
Publicou-se, também hoje, um relatório sobre o agravamento da pobreza na Alemanha, matéria que a Senhora Merkel costuma esconder “debaixo do tapete”, nomeadamente durante a campanha eleitoral quando falava de um “país próspero”, mas irreal. De facto, como relatam, ainda, alguns jornais com objectividade, o aumento do emprego fez e faz-se com recurso à precariedade, “empregos mini” [= minijobs] que não dão para o sustento, nem agora e muito menos no futuro.
Como se vê, a receita é desastrosa e, sobretudo, ideológica. Empobrecer a imensa maioria para aumentar os lucros de alguns. No Domingo passado, a Suíça também deu o seu sinal a favor da imensa minoria.
Não restam dúvidas de que o “mundo financeiro”, na sua ignorância da Geografia, da História e da Cultura da Europa, continua a atear uma fogueira.


Post de HMJ

Interlúdio 40


Será talvez um pouco insólito, este Interlúdio, em que Vincent Delerm (1976) canta "Les Filles de 1976", mas também conta umas histórias ligeiras e divertidas do passado. Mas para quem tenha um gosto mais canónico, aconselho a audição de "Fanny Ardant et moi", numa interpretação deste bom cantor francês.

Estrangeiros


A crise económico-financeira tem contribuído grandemente para que o pior dos europeus venha ao de cima e que alguns esqueletos vão saindo do armário. A falta de solidariedade das próprias estruturas governamentais ajuda, ao dar o exemplo. Mas é notório o crescimento do egoísmo do cidadão, da xenofobia e do racismo, de que são gritantes evidências os insultos e tentativas de agressão, recentes, de que foram alvo duas ministras negras: em França, Christine Taubira (Cayenne, 1952), ministra da Justiça, e, na Itália, Cecile Kienge, de origem congolesa, que tutela a pasta da Integração.
Por isso me parece interessante e de saudar esta obra de Pascal Ory e  Marie-Claude Blanc-Chaléard (Dictionaire des étrangers qui ont fait la France), saída recentemente. Creio que não existe nada de semelhante em Portugal, e é pena, para nos lembrar o que alguns estrangeiros fizeram pelo nosso país. Para só referir o século XX, eu distinguiria, à partida, duas figuras ímpares: Carolina Michaelis de Vasconcelos e Michel Giacometti. Mas haverá muitos outros nomes a destacar, seguramente.

Dia da Indignação


Este poste não precisa de imagem para ser mais explícito, porque, de uma forma ou de outra e tirando alguns escolhidos ou vendidos, todos nós sentimos na pele, quotidianamente, a tirania surda deste (des)governo medíocre que nos tem arrastado para o fundo, para a miséria, para o caminho da indignidade humana.
Se os que apoiam este governo fossem desafiados a levantar a mão, todos nós os conheceríamos de nome, certamente. São os Rendeiros (BPP), os Oliveira Costa e seus amigos (BPN), ambos com a cumplicidade de alguns serventuários, provavelmente corruptos, da justiça (?) portuguesa, que têm sido tão meticulosos e morosos a apreciar os seus processos; são os medíocres que subiram à tona da política, pelo seu servilismo e indigência ética; são os barretos suiços, os soares dos santos apátridas, os maduros dos poiares, os lombas ex-bloguistas, os comentadores baratos da Rádio e Tv, os marcelos da conveniência, os proxenetas de vocação, os parasitas amorfos e neutros...
Eu sei que há muitas "tias", cega e automaticamente, a tricotar a sua felicidade, e alguns "tios" paspalhos que não dizem nada, para continuar a receber, ao fim do mês, a sua subvenção compensadora...
Mas, quem não dobrou a espinha à indignidade e ao triste espectáculo, que proteste ou faça qualquer coisa, em nome da dignidade humana nacional.

Doris Lessing, sobre o Além


Quando, aqui há onze dias atrás, soube da morte de Doris Lessing (1919-2013), eu, que já lhe tinha dedicado dois postes no Arpose, na altura, não encontrei nada de novo, para lá da estima intelectual  que lhe tinha, para dizer. Fui ler o seu discurso de recepção do Nobel (2007): texto grande, bem escrito, onde ela aborda, de forma singular, a injustiça no Mundo, a pobreza em África e a sede por leitura das crianças nas escolas africanas, onde normalmente não há livros, e a ecologia, revelando o seu grande amor pela Natureza.
Mas, aqui no Blogue, pensei que não tinha nada de novo para dizer, e calei-me, até porque o ciberespaço estava cheio, nesse dia, como aliás é habitual em casos de morte, de loas, citações, lamentos sobre a desaparição da grande escritora britânica e, por isso, tudo o que eu dissesse seria redundante e circunstancial.
No entanto, hoje, ao ler no último "l'Obs" (nº 2559) uma recolha antológica sobre alguns textos das entrevistas que fizeram a Doris Lessing, achei que merecia a pena, trazê-la aqui, de novo, traduzindo as suas palavras sobre o depois da morte. Que revelam, humanamente, o seu enorme amor à Vida, também. Eis a sua reflexão:
"...Um pouco do nosso espírito deve ir para algures. Um pouco do essencial de nós mesmos, mas não me perguntem o quê. Disso falam todas as religiões. E, por isso, deve haver um fundo de verdade. Em todo o caso, eu sei aquilo que me vai fazer falta: que é toda a intriga da vida. A batalha do bem e do mal. Onde ninguém ganha nunca. E que peça de teatro! Sim, isso faz-me ficar nostálgica. Mas pode acontecer que também se represente esta peça, lá em cima, quem sabe?"

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Mercearias Finas 80


Já os brancos, com o frio e porque se devem beber frescos, se vão reduzindo à sua insignificância arrepiada e passam para a segunda estante da garrafeira, na despensa. A abertura da saison, há dias, foi em tudo modesta, mas bem apaladada: umas iscas de borrego muito bem laminadas, em diagonal, com batatas fritas, que me sugeriram um Grão-Vasco tinto de 2009, que se arredondou na boca, conclusivo, simples, e cumpriu bem a função acompanhante.
Mas, hoje, como tinham sobrado de ontem, três boas postas de pescada em azeite e cebola, com batatinhas no forno, ao invés dum branco ortodoxo, abriu-se, em heresia de propósitos, um monocasta tinto, que também ontem nos tinham oferecido. Já tinha por isso repousado uma noite... Era um Pinot Noir luxemburguês - que o Grão-ducado também faz vinho - da colheita de 2004, com 12,5º, módicos.
Na cor, mais parecia um rosé, de transparente, no seu rubi cansado de anos, mas que não chegara ainda ao castanho da velhice. Mas, de corpo e sabor, estava perfeito. Fazendo jus à sua apregoada longevidade.

Exposição em Londres


Inaugurou a 9 de Outubro e prolongar-se-á até 12 de Janeiro de 2014, na National Gallery (Londres) uma extensa mostra de Pintura, subordinada ao título e tema: Facing the Modern - The Portrait in Vienna 1900.
De Klimt a Kokoschka, de Romako a Schiele, entre muitos outros artistas, a exposição pretende mostrar as raízes da arte moderna que, através do retrato, se iam consubstanciando, por volta da passagem do século, na Arte Europeia.
Em imagem, três retratos de Amalie Zuckerland, pintados por Gustav Klimt, e as duas sobrinhas de Romako, numa obra singular deste Pintor.

domingo, 24 de novembro de 2013

Citações CLXI


As palavras exactas nos lugares certos, são a verdadeira definição de um estilo.

Jonathan Swift (1667-1745).

Para este Domingo de Sol...


...o "Brillant Soleil" (de "Les Indes Galantes"), de Rameau, numa excelente produção da Opéra National de Paris (2003).

Regionalismos transmontanos (15)


1. Bodalhice - porcaria, sujeira. Trabalho mal feito.
2. Boeiro ou boeira - buraco por onde sai o fumo das lareiras antigas. (Conheço como sarjeta)
3. Boizana - Pessoa que tem um vozeirão atroador. Homem nutrido.
4. Bolecra - castanha mal formada. Chocha.
5. Bonachira - mesa farta, regalada.
6. Bondar - bastar, chegar, ser bastante.

Arte


Criado em 1984, para dar conta das novas tendências artísticas, o Tate Turner Prize é um dos mais conceituados certames ingleses da actualidade. O montante do prémio é de 40.000 libras, sendo que o vencedor ganhará 25.000, e os restantes três finalistas, 5.000, cada um deles. A mostra, este ano, decorre em Londonderry (Irlanda do Norte), Cidade Capital Europeia de Cultura 2013, e o vencedor será anunciado em 2 de Dezembro próximo. Os 4 finalistas são: David Shrigley, Laure Prouvost, Lynette Yadom-Boakye e Tino Sehgal. As obras vão desde a fotografia (Shrigley, "I'm Dead") e vídeo (Laure Prouvost), até à escultura, instalação e pintura (Lynette Y.-B., com 3 quadros, em imagem no poste). À entrada, os visitantes são desafiados a desenharem uma estátua-modelo, de Shrigley.
A crítica especializada apoia, entusiasticamente, as escolhas dos seleccionados, este ano. E há quem afirme que, desde 1989 (em que foram seleccionados: Lucian Freud, Richard Long, Paula Rego e Sean Scully), nunca houve finalistas de tão grande qualidade artística.

sábado, 23 de novembro de 2013

Apontamento 30: Olha que dois !



Este apontamento já leva algum tempo de incubação e passo a explicar. À medida que o “nosso Zé Manel” se foi convencendo de que estava a desempenhar bem o “seu” papel de presidente da CE, engrandeceu, sem dúvida, fisicamente. Do seu ar “esgargalado” e pretensamente democrático, ostensivo na sua página pessoal, afastou-se, rapidamente, se é que alguma vez percebeu bem o alcance do nº 1 do artigo 3º, do Tratado da União Europeia que reza assim: “ A União tem por objectivo promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus povos.”
Quem lembra, e bem, esse princípio, é José Pereira da Costa, “antigo funcionário da Comissão Europeia”, num artigo publicado, hoje, no jornal Público. Para alguns incautos, e quiçá presidentes e comissários, tal objectivo deve ter um sabor a “Constituição Socialista ou de Esquerda Revolucionária”.
José Pereira da Costa traça uma caminhada, cronologicamente degradante, do actual presidente da CE, contribuindo, assim, para uma memória futura esclarecida. O perfil desenhado não se afasta muito daquilo que o cidadão europeu foi constatando ao longo dos tempos. Alheio à sua missão de “velar pela aplicação dos tratados”, o presidente e os seus comissários afastaram-se cada vez mais dos cidadãos. Com efeito, não vale a pena corresponder ao apelo do presidente da CE e dos seus comissários, no espaço “contacte-me”, porque eles já não respondem a nenhuma questão em concreto, nem com o convencional “no-reply”, acusando a recepção da mensagem !
À semelhança de um “manequim da Rua dos Fanqueiros” nacional, as sumidades europeias vão pronunciando, em espaços resguardados e próprios de ambientes de “corta-fitas”, umas “verdades” e “estratégias” contraditórias, julgando que o “povo” é estúpido.
Contudo, e como lembra o artigo de José Pereira da Cosa, a História é feita de memória dos factos. Por cá, ainda há muito “bom povo” que se lembra do verdadeiro “pai do monstro” do betão e dos benefícios, pensando em algumas Marias, para a Função Pública.
Convenhamos que aqueles que encheram o país de betão não tiveram cabeça para mais e, neste particular, encontraram-se alguns chamados governantes e os “lumpen” do serviço, ora chamados financeiros. 

Post de HMJ

A par e passo 67


Ao mesmo tempo que estamos cada vez mais ansiosos por saber para onde vamos, interrogando-nos sobre os amanhãs possíveis, vivemos, por outro lado, uma vida terrivelmente quotidiana. Vivemos o dia a dia, como nas épocas mais preocupantes de procura pelas necessidades imediatas, como nos tempos mais difíceis da humanidade. Mas ainda, e como que para acentuar a nossa sensação de incerteza, não nos habituamos a passar das previsões, não estamos ainda organizados para viver no presente e pouco a pouco. Os nossos hábitos profundos, as nossas leis, a nossa língua, os nossos sentimentos, as ambições, são engendrados e aplicados a um tempo que admitia longas durações, que se fundava e reflectia um passado imenso, e visava um futuro medido em gerações.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pg. 235).

O sagrado e o simbólico


Dar um sopapo no Presidente da República ou passar uma rasteira a um Primeiro Ministro, não sendo concretamente proibidos pela nossa Constituição, configuram, no entanto, uma atitude sujeita a penalização judicial.
A própria Igreja Católica atribui um valor simbólico, mas também sagrado, à hóstia abençoada, muito embora - era eu criança - as sobras das obreias fossem vendidas à porta da fábrica. Para quem quisesse dissolvê-las na boca e engoli-las, na sua imaterial leveza diáfana, laica.
Na subida para o Parlamento, há lanços de escadas permitidos a todos. Mas também há lanços de escadas defesos, que nem todos podem subir, sobretudo, aos magotes, ou em períodos de manifestações. E, embora esses lanços vedados não constem da Constituição, essa tradição cívica, não expressa, é normalmente respeitada.
Legislar contra a Constituição será legítimo e legal?
Os últimos tempos, levam-me a grandes dúvidas.
Mas, como diz o povo: "Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti."

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

2 greguerías musicais


1. Quando o violoncelista se prepara para tocar parece que vai fazer cócegas ao mundo pelo Equador.
2. Os anjos da guarda dos músicos deviam passar-lhes as folhas da partitura.

Ramón Gómez de la Serna (1888-1963).

Um quadro para o Outono


Autodidacta e descendente de italianos, François Nardi (1861-1936) pintou esta marinha, intitulada "Molhe de Toulon sob o efeito do Mistral", por volta de 1890. O quadro, que pertence ao acervo do Museu da Marinha de Toulon, ilustra bem, quanto a mim, a atmosfera do Outono, pelo encrespado das águas e a ligeira neblina envolvente da atmosfera. Pese embora o facto de o vento Mistral surgir mais no Inverno e começo da Primavera. Seja como for, acho a tela de Nardi muitíssimo interessante. Por isso, aqui fica.

René Char


Para que uma floresta seja soberba
Há-de ser preciso idade e infinito
Não morram depressa meus amigos
A breve refeição sob o granizo
Abetos que adormecem na cama connosco
Tornai eternos nossos passos sobre a relva.

René Char (1907-1988) in Premières alluvions (1923-1929).

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Troca de olhares



Gostei da troca de olhares destas focas. Falta saber o que "pensam" sobre esta intervenção humana, insólita, na natureza.

Post de HMJ

Comic Relief (79)

Para saúdar o regresso ao activo dos Monty Python, já todos eles septuagenários.

Adagiário CLXIV (gastronómico)


1. Hortelã, pouca panela.
2. O melhor da raia é o molho.
3. Nabiça quer unto, grelo azeite e nabo presunto.
4. Quem aos trinta come lebre assada e cozida a perdiz, não sabe o que faz, nem o que diz.

Apontamento 29: Serviço Público



Decididamente, este Apontamento exige uma declaração inicial de interesse. Assim como este Governo, em particular, não sabe o que é serviço público, e por isso não “no estima” – como Camões dizia da Cultura -, anda por aí “mui gentinha” a viver à custa dele, arrasando-o, quanto pode nas suas conversas, e minando-o, silenciosa e quotidianamente, num caminho perigoso que põe em causa os princípios fundamentais da democracia. Neste, como noutros aspectos, os extremos tocam-se, ou seja, o “lumpen-proletariat” e a “lumpen-burguesia” encontram-se na perfeição.
O estrato social do meio, a chamada média-burguesia, constitui, pela sua defesa de valores e princípios, uma “camada” a abater. Pela dificuldade de subjugar o seu livre pensamento, assente na solidariedade e fraternidade, enfim na paz, assistimos, em todo o espaço europeu e, sobretudo no Sul, ao seu estrangulamento financeiro com o objectivo de o arregimentar, ou seja, “reunindo-o no bando” daqueles que carecem de uma noção mínima de respeito para com a democracia.
No meio deste “turbilhão” a que assistimos, existem alguns pretensos “servidores do Estado” que se põem à jeito, servindo os interesses governamentais da declarada ineficácia do serviço público com uma prestação autoritária, alimentada com pequenos truques de conivência e até pequeno “tráfego de influência” perante os “lumpen” inferiores e superiores. Enfim, fizeram a sua opção de sobrevivência num mundo de descalabro em que vivemos.
Com efeito, aqueles que, ainda, nos idos de 1973 frequentavam os Centros de Saúde, e até os Hospitais, guardarão, certamente, uma memória inesquecível do país. A diferença na evolução dos chamados “cuidados de saúde” é abissal, sem dúvida. Infelizmente, o que se está a recuperar é uma “cortina de fumo” anti-democrática, feita de “funcionários e siguranças [sic]”, que impede e dificulta o acesso ao tratamento.
Como não acredito na ingenuidade da presente política para o SNS, julgo que o estrangulamento se voltou para a parte administrativa do seu acesso, favorecendo esquemas, conivências e influências abjectas.
À semelhança de outro direito, a saber, a livre circulação dentro das cidades, em que a segurança se transferiu para os “arrumadores”, também passamos a ter “siguranças” para o acesso à saúde.
É pena que alguns já se esqueceram desse “longínquo” passado e que não se levantem em peso contra essa nova cortina de fumo que se vai instalando paulatinamente.

 Post de HMJ

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Citações CLX


A imaginação é mais importante do que o saber.

Albert Einstein (1879-1955).

Mais um poema de J. Tolentino Mendonça


Coisas tão felizes

Entre amigo e amigo
jamais se afastam
coisas tão felizes:
os instantâneos silêncios de certas formas
os protestos inocentes à nossa passagem
a natureza fortuita, dizia eu
imortal, dizias tu
do vento?

Paisagem próxima


As três roseiras amanheceram de forma diferente, embora estejam próximas e no mesmo local. Uma delas desafia o Outono, com dois pequenos botões escorreitos, onde o vermelho desponta, ameaçando o frio. Talvez se descubram em Dezembro.
O manjerico parece perdido e mirrado, pela sua decadência gradual, mas a salsa, vizinha, vai-se aguentando no seu verde tenro. Bem como os dois limões da safra exígua deste ano, um dos quais se vai temperando de laivos amarelos, suaves.
As hortênsias teimam ainda, talvez gratas ao Sol de S. Martinho, mas as pequenas folhas que brotam vêm pálidas, quase brancas e anémicas, sem força bastante. Restam o abeto e o pinheiro, habituados ao rigor, sobretudo o primeiro, que é germânico.
O Sol é inteiro e caricioso, o azul, ao alto, mantém-se firme. Só começa a desistir pelas 17h00, e a dar lugar ao frio e ao negro, que vai até às 8h00 do dia seguinte.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O que fica do que passa, ou: o alarido e o silêncio


Entre as 19h00 e as 22h00, a quietude do silêncio predominou por aqui, apenas intervalada por 3 ou 4 alaridos monstruosos.
Amanhã, a primeira página de todos os jornais portugueses virá ocupada com a vitória da selecção portuguesa de futebol, sobre a Suécia.
Remetida a uma página interior, ou a um pequeno destaque, virá a notícia do rompimento de relações entre o Conselho de Reitores e o Governo - um facto absolutamente inédito, na democracia portuguesa.
A selecção portuguesa de futebol irá, assim, ao Brasil disputar o Mundial.
E para onde irá Portugal?

Recomendado : quarenta e quatro


É um livro muito interessante, abundante em números, quase estatísticos, e que nos dá a saber coisas que, normalmente, andam arredias das nossas leituras habituais.
Publicado, já em 1979, pela Guimarães, este "A Indústria Portuguesa - Subsídios para a sua história", de J. M. Esteves Pereira, lê-se com muito agrado e proveito.
Ficamos, por exemplo, a saber que, na população lisboeta (cerca de 90.000 habitantes), em determinada altura do século XVI, da população activa, exerciam, por profissão, o seguinte número de artífices (seleccionei apenas algumas das profissões):
Negociantes vários - 458
Ourives - 430
Chapeleiros - 206
Taberneiros - 200
Barbeiros - 190
Sapateiros - 119
Médicos e Cirurgiões - 107
Impressores e livreiros - 59
Mestres de leitura e gramática - 41
Fabricantes de botões - 20
Fabricantes de lunetas - 6
Negociantes de cristais - 4
Espingardeiros - 3.

Valha-nos a Grécia!...

...apesar da voz cava e enrouquecida de Theodorakis, compensada pela sonoridade lírica de Dalaras. E a presença de Irene Papas, na assistência. Porque os nossos cantautores da Resistência estão (quase) todos mortos, amesendados ou reformados, e internados...

Redundâncias saloias


Um blogue muito frequentado e visto (ao que parece) deu-se ao luxo espaçoso de reproduzir, em imagem, e num único poste, nada menos de 39 capas de livros, foleiras, como vem sendo hábito das nossas editoras, de outros tantos livros de conteúdo medíocre ou literatura dita light, para depois, em 72 linhas bloguísticas, incontinentemente, verberar o facto e dizer banalidades confrangedoras, espraiando-se em considerações fátuas de uma inutilidade atroz.
Este prolixo plumitivo da nossa praça não deve ter mais nada que fazer ou para dizer. E pratica, se calhar com imenso gosto, sempre que pode, "assassinatos por entusiasmo", num ardor imenso de se ouvir, muito infantil e bacoco. Mas, como tem 325 seguidores, é porque há muito português e portuguesa que se delicia e diverte a ler estas baboseiras. Que lhes faça bom proveito!
A publicidade, seja ela positiva ou negativa, funciona sempre a favor da difusão do produto - Fernando Namora, sabiamente, descobriu esse efeito.
Mas porque será que uma boa parte dos portugueses letrados são tão excessivos e verborreicos? Não conseguindo numa síntese sucinta resumir os conceitos e aquilo que querem dizer? Mistérios...

Nota: não!, esta capa, que encima o blogue, não consta das 39 do incontinente plumitivo sulista. Tem algo de neo-gótico, condizente com a época, e quadra bem com este romance de Camilo.

Palavras de hoje


"...Virar o país à esquerda exige uma determinação, uma clareza de opções e uma solidariedade à esquerda muito superior à que é necessária à direita para manter o statu quo."

José Vítor Malheiros, in jornal Público de 19/11/2013.

Leituras e memória


Há leituras que nos ficam associadas para sempre a determinados lugares. Sei que o primeiro contacto que tive com haiku, foi na pequena mas bem escolhida biblioteca da embaixada do Japão, em Lisboa. As obras menos acessíveis de Shakespeare, li-as na Biblioteca de Galveias, ao Campo Pequeno. E os futuristas ou modernistas portugueses (prosa de Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro, principalmente) foi na Biblioteca da Universidade de Coimbra, que primeiro tive contacto com eles, nos anos 60. Porque as obras estavam esgotadas, não havia ainda reedições e eram de difícil acesso, por outras vias.
E, por isso, acho curioso que vá ler, pela segunda vez, o Nome de Guerra, de Almada Negreiros,  por uma cópia fac-similada do original (provavelmente) que li, em Coimbra, há tantos anos atrás. Porque adquiri um exemplar, que vem hoje com o jornal Público, pelo preço habitual e módico de 5,95 euros.
Aqui fica a lembrança para quem o queira também comprar.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Filatelia LXXVIII : marcas pré-adesivas e cartas pré-filatélicas


Para quem está familiarizado com a filatelia, não será novidade o facto de que, até ao advento do selo postal (Inglaterra, 1840), o porte das cartas era pago, normalmente, pelo destinatário e não pelo remetente, como hoje acontece. Em Portugal, até 1853, era também o que acontecia, salvo nos casos em que a correspondência ostentasse o carimbo ou a indicação manuscrita de: Porte pago ou Franca. Nestes últimos casos, o destinatário limitava-se a receber a remessa que já tinha sido paga, anteriormente, pela pessoa ou firma comercial que enviara a carta ou a encomenda. Nos casos normais, a carta tinha a indicação de carimbo, ou manuscrita da importância do porte a pagar. Que dependia da distância percorrida e do peso da carta.
Em imagem, mostram-se três cartas portuguesas expedidas antes do uso do selo postal. Por ordem cronológica, de cima para baixo: a primeira, de Lisboa, datada de 12 de Novembro de 1803, de teor comercial e ajuste de negócios, destinava-se a Amesterdão; a segunda, com taxa de 20 réis, enviada em Setembro de 1829, seguiu de Guimarães para o Porto e, finalmente, a terceira, datada de Lisboa, a 3 de Agosto de 1844, foi remetida para o Porto, onde terá sido pago o porte de correio de 40 réis. Normalmente, os carimbos eram a preto, muito embora também se encontrem a azul e sépia. Menos frequentes, havia-os também a verde e vermelho.

Uma fotografia, de vez em quando (21)


O facto de durante anos e anos se deslocar, todos os dias, de metropolitano, de Aldgate (onde morava) para Charing Cross, onde trabalhava, levou Bob Mazzer (1939?) a fixar com a sua Leica, sobretudo nos anos 70 e 80, toda uma fauna muito específica e londrina, que também utilizava este meio de transporte.
O espólio, que já foi objecto de algumas exposições, constitui um testemunho sociológico importante da vida e costumes de Londres e dos seus habitantes, na segunda metade do século XX.

domingo, 17 de novembro de 2013

Ao tempo que eu não ouvia Brel


E com um envoi aos professores injustiçados, que vão ter que voltar a fazer exames... por causa destes cratos, portas, coelhos, machetes e restante tropa fandanga. Será que não se arranjam por aí uns exames para estes ministros mostrarem o que sabem?

Lembrete 11


Dentro de 5 dias completam-se 2 meses sobre as últimas eleições legislativas alemãs, sem que até agora os partidos se tenham entendido para, através de uma coligação, formar Governo. Mas também não me apercebi da preocupação ou apelo do PR alemão, Joachim Gauck, para que os partidos se entendam. Talvez o facto de ele ser Pastor luterano o ajude a ter fé em Deus.
Não será o caso do nosso inefável PR que, apesar da fé que tem na Virgem de Fátima, anda sempre a resmonear, gaguejando, consensos alargados e, visivelmente, improváveis - é demais! Feitios...

A par e passo 66


É talvez pela ideia que um povo tem do homem que melhor se poderá julgar a sua sensibilidade nacional: legislação, política, literatura, atitudes que são sempre inspiradas por esta ideia não expressa. Os Franceses têm mais fé no homem do que ilusões sobre os homens. Daqui resulta um contraste notável entre os princípios que os seduzem e que exprimem a sua confiança na natureza humana e as observações cruéis, as máximas bem negras que tantos dos grandes escritores franceses fixaram de forma elegante mas severa.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pg. 225).

Pinacoteca Pessoal 63 : Otto Dix


Otto Dix (1891-1969) é, muito justamente, considerado um dos grandes pintores do Expressionismo alemão. A intensidade, quase agressiva, do seu traço, entre o dramático e o satírico, contribuíu para que nos deixasse uma obra impressiva e carregada, que retrata impiedosamente a sociedade alemã entre as duas Grandes Guerras. Combatente da Primeira, a sua obra sequente é um manifesto pacifista e anti-bélico. É ambigua, no entanto, a sua tomada de atitude em relação ao nazismo que, inicialmente, integrou, canonicamente, as suas pinturas na chamada "Arte degenerada". Algumas cedências (só pintar paisagens, por exemplo) permitiram-lhe a sobrevivência financeira, e chegou mesmo a combater no final da II Grande Guerra. Por isso, esteve preso até 1946. A partir daqui, a temática religiosa é predominante, na sua obra.
O "Auto-retrato com cravo", em imagem, pintado por Otto Dix, quando contava apenas 21 anos, pertence ao acervo do Detroit Institute of Arts (U. S. A.). Não posso deixar de associar este quadro, embora não o consiga explicar, ao "Auto-retrato com flor de cardo", de Albrecht Dürer (1471-1528), pintado pelo Artista, aos 23 anos, e aqui reproduzido (Pinacoteca Pessoal 9, de 6/4/11). De comum, talvez, a firmeza do olhar, em ambos os quadros, embora em Dürer seja mais suave. E a flor, na mão...

Um poema traduzido, de Katha Pollitt (1949)


Oferendas para um túmulo

Com ela enterrámos uma tempestade de neve,
um grito que aconteceu na rua,
um travo amargo no fundo de um bule
de chá, lascado, circa 1938.

Com cuidado embrulhámos junto dela
o cheiro de livros de uma velha casa à beira-mar,
um conjunto de cartas que não foram escritas -
talvez que elas se calem, agora, para sempre -

mas também meia dúzia de guerras, prontas a usar,
e alguma raiva ainda em exercício, muito bem
arrumada por entre a sombra de uma raposa
e os solavancos de um comboio nocturno. Aspergimos

por sobre ela uma noite cheia de estrelas e de rádios
e deixámo-la sozinha, fizemos tudo
o que podiamos por ela, face ao outro mundo,
se o mundo que se segue for parecido com este.


Katha Pollit, in The Times Literary Supplement (nº 5771).

Regionalismos transmontanos (14)


1. Berrelho - leitão pequeno.
2. Berundanga - mixórdia. Cozinha mal feita.
3. Bica - pão achatado que termina em bico. Pão ázimo.
4. Biganau - indivíduo forte, sabido ou malandro.
5. Biqueiro - debiqueiro, esquisito, que não gosta de certa comida. Pontapé.
6. Bobó - Tolo, pateta, simplório.