A religião é como os contos. Os contos têm um grande sentido, mas ninguém pergunta se são verdadeiros.
Alain (1868-1951), in Hommages, Le propos sur le religion (1938).
A religião é como os contos. Os contos têm um grande sentido, mas ninguém pergunta se são verdadeiros.
Alain (1868-1951), in Hommages, Le propos sur le religion (1938).
É uma muito jovem editora. Bons escritores, textos de qualidade, grafismo original - promete! Dá pelo nome de SR TESTE Edições, e a colecção: Fulgor Quotidiano. Estou certo que não me vou arrepender da compra dos dois livrinhos...
Do meu amigo C. S. recebi (e agradeço) um conjunto de insólitas curiosidades de que, embora não as tivesse cruzado, a confirmar, escolhi 6 delas, para partilhar por quem cá passasse. Aí vão:
1. O zero é o único número que não pode ser representado por algarismos romanos.
2. Nove em cada 10 seres vivos vivem nos oceanos.
3. A cauda de um cometa aponta sempre para longe do Sol.
4. Quando uma pessoa morre, a audição é o último sentido a desaparecer. O primeiro sentido é a visão.
5. Devido à gravidade da Terra é impossível as montanhas serem mais altas do que 15.000 metros.
6. Tudo pesa um por cento menos no equador.
A propósito do excerto antológico da Historia de los movimientos y separación de Cataluña... (1645), de Francisco Manuel de Melo (1611-1667), diz-nos o filólogo Ramón Menéndez Pidal (1869-1968), na sua Antología de Prosistas Españoles (1940), a propósito do poeta Melodino: Aunque Melo era natural de Lisboa, su linguage es castizo y elegante castellano, modelo en la expresión feliz y acertada. Multitud de portugueses de los siglos XV y XVI miraban como suya propria a nuestra lengua. (pg. 255)
A fazer fé em Pessoa (a minha pátria é a língua portuguesa) ficaríamos confusos, até porque os espanhóis são useiros e vezeiros em se apropriarem de escritores portugueses, chamando-os seus. Gil Vicente, por exemplo, com os seus autos em castelhano. Ou o mesmo acontece, embora mais raramente, com Sá de Miranda e Camões... No entanto, eu atribuo as culpas a D. Manuel I (1469-1521) que casou nada menos que com 3 princesas castelhanas, tornando assim a corte portuguesa retintamente bilingue...
É sempre uma tentação voltar ao Largo, à procura do que sei já estar extinto. Por vezes o instinto é um caminho à parte, ou um atalho estranho que se impõe de nenhures. A praça quase poderia ser o centro de uma aldeia interior, no seu formato irregular e hexagonal. Duas ou três árvores despidas por Janeiro. Com vento, ouvem-se as ondas a bater no cais desmoronado, lá ao fundo. E há tudo o que poderia fazer falta numa vila pequena: farmácia, tabacaria, café, mercearia, o posto de correio... Volto à paisagem e sossego ao ver-te sorridente na fotografia da memória, embora a luz, agora, seja do Sul, limpo, e nem haja vestígios de rio ou mar pelo cenário ermo e vazio. Depois, há sempre a tentativa de atenuar ou expiar a culpa, ainda que ela nem sequer exista. Afinal, que sabemos nós da ficção que, por vezes, nos invade brutalmente a realidade de viver, seja por via da dor, da saudade ou daquilo que é irremediável? Que sirva de exorcismo o que não tem remédio... Fique a rocha bruta a brotar do rio, e as águas à nossa frente, logo pela manhã. Tudo o resto é extático, irremediável, fixo no passado, já sem história à vista.
Todos os desgostos podem ser ultrapassados se os transformarmos em história ou se contarmos uma história a seu propósito.
Hannah Arendt (1906-1975), in Condition de l'homme moderne (1958).
Ao princípio poderia ter sido a marmita operária, que Pomar eternizou, por outras vias, no Almoço do Trolha, nos anos 70/80 com a Comida Pronta e os Come-em-Pé, aburguesou-se; agora os Take-away acabam por ser uma alternativa de levar para casa de restaurantes em que já não podemos amesendar, como dantes, à vontade. Do nosso predilecto já veio Arroz de Pato, Ensopado de Raia e Pataniscas de Bacalhau com arroz de feijão vermelho - deliciosos. O Pernil, parente afastado do germânico Eisbein (bem diferente), creio que só o tínhamos provado uma vez, na sua magnitude. No restaurante do Arco, na medieval rua de Sta. Maria vimaranense, era por um dia pavoroso de chuva, de inícios de Novembro. Bisámos, aqui há dias, e fomos buscá-lo à Trafaria, à Taberna do Zé da Lídia - esplendoroso. Na fotografia, acima, ainda ele está no ninho, aconchegado, ao lado das frésias, amarelinhas, que já tinham dado um ar da sua graça olorosa... O vinho portou-se bem (Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet, alentejano, 14º), mas precisava de mais 2 ou 3 anos para amaciar melhor os taninos. Como dizia Alexandre Dumas, citado por João Paulo Martins: "...o vinho é a parte intelectual da refeição!" E quem sou eu para contradizer tal axioma, de gente tão fina?!
Não fora o gozo caricatural com que é tratado o agente policial Agatino Catarella ( na foto, o último à direita), na série de Andrea Camilleri (1925-2019), eu até esquecia outros pormenores dos episódios de Il Giovane Montalbano, que pecam por não respeitar as regras narrativas que S. S. van Dine (1888-1939) diz serem essenciais para as novelas policiais. Mas Camilleri fez do pobre agente Catarella um disléxico, sempre a bater nas ombreiras das portas e um trangalhadanças com um cérebro de passarinho... é demasiado para o meu gosto. Depois, o vice-comissário Mimi Augelo, supostamente um Don Juan, é um amaneirado, mas isto é pecha antiga porque já o Poirot-Suchet, da série inglesa, era um adamado detective excessivamente pernóstico. Não sei para que efeminam, nestas séries, os investigadores. No conjunto, escapa o tratamento da figura do jovem Giuseppe Fazio. Mas voltando ao Montalbano, acho aqueles namoros com a Livia Burlando excessivamente delicodoces e românticos com as suas vindas de Génova, até à Sicília para os oaristos. Van Dine proibiria terminantemente estas efusões líricas em obras policiais!
Ainda assim, lá irei hoje ver na RTP2 mais um episódio, às 17h31, e no Domingo, às 17h33, outro. Parece que nunca mais aprendo a cingir-me às boas regras das tramas detectivescas!...
Como vai sendo habitual, cá venho dar notícia da saída do número 11 da revista Electra. Cuja temática predominante é dedicada à Fama, sob as suas diversas formas.
Biblioteca Mia
Que a obra a si própria não se sinta,
que não entenda sequer
sua formosura!
Nem mesmo o sol se sente,
e temos dele inveja, o imortal? -
Ah! os livros
assim sozinhos, quando vou p'ra longe
- o sol assim fica, lento e cego, a iluminá-los
e nós que os trazemos no olhar!
Juan Ramón Jiménez, in Poesía (1917-1923).
Numa primeira fase, o suíço Théophile Steilen (1859-1923) dedicou-se a actividades práticas e rentáveis (gráfico, desenhador têxtil, autor de cartazes publicitários que, por vezes, lembravam o traço de Toulouse-Lautrec) e, só posteriormente, intensificaria os seus trabalhos como pintor, vindo a expor, pela primeira vez por volta de 1890.
Colaborou em revistas da época como Le Rire e L'assiette au beurre. Uma das suas marcas de água, e provável seu gosto obsessivo, são as figuras de gatos que povoam a sua obra. As suas telas integram acervos que vão do Hermitage ao Museu Nacional de Washington.
A Justiça, há que dizê-lo, já foi mais cega, na sua rigorosa neutralidade. Em todo o lado, aliás, mesmo em França ou em Portugal, hoje em dia...
Citemos Roland Dumas (1922), Une étrange affaire (pg. 351), Coups et Blessures: L'institution judiciaire est une machine à broyer les êtres, coupables et innocents entassés dans la même charrette vers la guillotine médiatique.
Felizmente, ainda não chegamos ao Brasil, mas já faltou mais...
Passa hoje mais um aniversário (12 de Fevereiro de 1929) sobre o nascimento do escritor Nuno Bragança, falecido prematuramente em 1985. Obra curta, vida cheia, os seus dois últimos livros são já prematuros. A qualidade da sua escrita, e a originalidade da sua prosa grangearam-lhe uma fugaz popularidade entre os leitores, sobretudo, em 1969, aquando da saída de A Noite e o Riso, que é porventura o mais conhecido romance de Nuno Bragança.
Há por aqui alguma coisa que me escapa...
A indefinição acaba por ser terrível, mas os meios não deixam de ser misteriosos. Nem o objectivo.
Lá (França) como cá (Portugal), no Quay d'Orsay, bem como nas Necessidades, os Ministérios de Negócios Estrangeiros são, habitualmente, vespeiros e viveiros activos e reprodutores de gentes de direita. Tirando os embaixadores politicos nomeados do exterior, por governos em funções (estou a lembrar-me de José Cutileiro, Fernandes Fafe e Álvaro Guerra, dos poucos diplomatas que comungavam à esquerda), a regra é à direita. Embora muitos tentem passar (mal) por neutros...
com agradecimentos a H. N..
Por mera coincidência, ao concluir o poste anterior sobre uma citação de Benjamin Disraeli (1804-1881), que foi primeiro ministro da rainha Victoria, lembrei-me de uma afirmação realista de Pierre Mendès France (1907-1982), político socialista de origem judaico-lusa que, em 1965, ao recusar candidatar-se, nas eleições presidenciais francesas, terá dito a Roland Dumas: Enfin, les Français n´éliront jamais un juif à la presidence de la République.
Ora, Disraeli, de ascendência judaica, conseguiu atingir o cargo de primeiro ministro vitoriano cerca de cem anos antes (1868), sem problemas de maior. É certo que os cargos políticos eram diferentes, mas os ADN dos povos também se distinguem. Provavelmente, Mendès France pensava em Dreyfus...
Benjamin Disraeli (1804-1881), in Contarini Fleming (1832).
Peixes de rio, desde tenra idade, nunca fizeram o meu pleno: tinham muitas espinhas insidiosas e traiçoeiras. Ao sável, ainda dei algumas oportunidades, no Abílio, de Queluz, onde o fritavam à maneira, na altura dele, com um rico e verde arroz de grelos malandrinho, para acompanhar, ou então uma açorda muito bem apaladada. O lúcio é que nunca eu tinha experimentado.
Veio à colação e experiência, no Domingo, em duas amplas postas bem cortadas, que o dono da banca, na Trafaria, prometeu terem espinhas leais e fáceis de excluir. Falou verdade e gostámos imenso da nossa vernissage deste peixe de rio, grandão e saboroso, com lascas alvas e largas. O vinho branco, que era também uma novidade, no regional Lisboa, fez-se também notar pela positiva dos seus 13º, com Arinto, Viognier e Sauvignon Blanc. Fique o nome: Pedro Álvares, colheita de 2018. Bem podemos repetir, quer o lúcio, de rio, quer o vinho do Carregado.
Não sei se François Miterrand era, no mais íntimo de si, um homem de esquerda, mas sei que posso afirmar que ele se comportou, na política, como um homem de esquerda. O que é que quer dizer ser um homem de esquerda? Se for ter um cartão do partido comunista ou do partido socialista, isso não basta. Mas o mais importante é a visão do mundo, o seu combate pela melhoria da condição humana: erradicar a pobreza, lutar contra a fome no mundo e para que as crianças sejam todas educadas. Miterrand era um daqueles que pensava que a intervenção do homem era indispensável para rectificar estas grandes injustiças. Ele manteve-se um cristão liberal, um adepto de Ernest Renan e um discípulo de Marc Sangnier e do seu movimento progressista Le Sillon.
Roland Dumas (1922), in Coups et Blessures (pgs. 98/9).
Entre o pivot-clown, o jornalismo obeso e a mesmice, António Guerreiro define bem o miserabilismo mediático, populista e saloio dos nossos dias. Mas ganha-se em ler toda esta crónica ( A mentira no pequeno ecrã) na revista ípsilon do jornal Público de hoje.
Na minha opinião, e de forma ligeira, foi um ar que lhes deu. Escritores neo-realistas, tão populares e lidos, nos anos 50, 60, 70 do século passado estão hoje sepulcralmente esquecidos. Das novas gerações, quem se lembrará (e menos lerá...) de José Loureiro Botas, J. Marmelo e Silva, Faure da Rosa, Leão Penedo, Romeu Correia, Ferro Rodrigues, Fernando Lopes... Escapam Alves Redol, Carlos de Oliveira (que inflectiu a sua obra, e bem) e talvez Fernando Namora, que a Bertrand lá vai reeditando.
Estar na moda e ancorado excessivamente no presente tem os seus custos. Nalguns casos, é uma pena que alguns destes prosadores estejam esquecidos para sempre.
Nota pessoal: chamo a atenção para a qualidade de algumas destas capas. De bons profissionais, claro!
Estou tentado a escrever que é uma edição de luxo da Deutsche Gramophon, este conjunto de três discos sobre a obra lírica de Franz Liszt (1811-1886), com interpretações primorosas de Dietrich Fischer-Dieskau (1925-2012), acompanhado ao piano por Daniel Barenboim (1942). As Lieder foram gravadas entre Novembro de 1979 e Janeiro de 1981, em Berlim e a obra foi posta à venda, pela casa editora, em meados de 1981.
Os 3 CD, guardados num pequeno estojo, vem acompanhados por um cuidado livrinho explicativo, de 78 páginas, incluindo os poemas, que foram musicados por Liszt e que abrangem um grupo de poetas que vão de Petrarca a Goethe, e de H. Heine, Schiller e Victor Hugo, entre outros. Julgo ter comprado esta preciosidade no Saturn, em Colónia. E digo preciosidade porque estas composições não são frequentes.
Há encontros fatais. Alguns, os mais raros, no melhor sentido. Foi o que aconteceu com o fotógrafo norte-americano Robert McCabe (Chicago, 1934), a primeira vez que foi à Grécia, no ano de 1954. Talvez por ser numa idade em que há lugar para deslumbramentos. Mikonos, Santorini, entre outros locais passaram da sua Rolleiflex para memórias pessoais de encantamento.
Os gregos retribuiram este seu afecto, nunca desmentido, nomeando-o recentemente cidadão honorário da Grécia. Foi o que se chama um amor retribuído e feliz...