Um bom catálogo de leilões, feito com profissionalismo e sabedoria, pode sempre ensinar-nos muita coisa sobre livros. Daí, alguns deles terem muita procura. Dos quatro que irei referir, o primeiro e o terceiro saem um pouco caros, normalmente; o segundo e o quarto constavam do último boletim bibliográfico de José Vicente (livreiro-alfarrabista, recente e infelizmente, desaparecido), ao preço de 30 euros, cada um.
É minha convicção profunda, não destituída de lógica, que os livros muito raros acabarão, com o tempo, por vir a integrar os acervos das bibliotecas nacionais ou públicas, deixando de pertencer a bibliófilos ou a bibliotecas particulares. Ficarão assim ao dispor de qualquer leitor, para que os possa consultar e ler, o que não deixa de ser extremamente positivo.
Acontece, no entanto e algumas vezes, que esses livros raros não ficam no país de origem. Foi o que se verificou com a riquíssima biblioteca de Fernando Palha, que foi comprada, na íntegra, pela Universidade de Harvard. Restou-nos o catálogo (1896), cuja capa encima este poste. Por ele podemos consultar algumas descrições pormenorizadas e competentes, de alguns exemplares portugueses e únicos.
Em 18 de Julho de 1897, foi também dispersa, em leilão, a magnífica biblioteca do arquitecto José Maria Nepomuceno, sendo que alguns livros raros teriam sido adquiridos, na altura, pela BN de Lisboa. Outros, objecto de litígio, terão sido apreendidos, embora o catálogo, em meu poder, não refira o seu destino final, nem as razões dos diferendos.
Dos Condes de Azevedo e Samodães, os inúmeros e preciosos livros foram também objecto de uma almoeda (1921-22) que concitou grandes expectativas e emoções, porque incluia livros raríssimos, alguns dos quais eram considerados como únicos, incluindo alguns incunábulos de grande valor.
Para quem tenha franqueado, mesmo que ao de leve, os portões venerandos da bibliofilia, creio que não será, totalmente, estranho o nome de Victor M. d'Avila Perez e o conhecimento da sua paixão por livros antigos.
Julgo que terá sido o último grande leilão de livros do século XX (1939-1940), em Portugal, organizado por Arnaldo Henriques de Oliveira, livreiro-alfarrabista que ainda conheci. Como eu vim mais tarde, e embora tenha assistido a algumas almoedas bem ricas e preciosas de livros nacionais, creio que a melhor matéria prima impressa tem vindo a diminuir, no que a leilões diz respeito. Desde que os possamos consultar, tranquilamente, nas bibliotecas públicas portuguesas, tudo bem. É porque ficaram em casa e estão à nossa mão...