A foto acima, sugerindo uma tranquilidade e a beleza natural
de um fim de dia, representa estados de alma desejados, diria até merecidos.
Infelizmente, o habitante da capital do país raramente assim
se reencontra com o universo.
As caminhadas pelo centro da cidade, sobretudo da parte da
tarde, deixam, normalmente, marcas profundas de desgosto e, quiçá, de revolta perante
a degradação, cívica, social e cultural de um espaço de nobreza que merecia
outros voos. Convenhamos que, com esta Câmara dedicada a outras prioridades,
como a mobilidade e o atendimento a senhores de chapéus azuis, continuamos a
milhas de uma convivência civilizada.
Assim, com estes constrangimentos, o reencontro com a
qualidade, não sendo impossível, demora a instalar-se, sem qualquer penalização
para os transgressores e prevaricadores do espaço público.
Adiante ...
Ainda sou do tempo da leitura quase obrigatória da Teoria da Literatura do autor do livro
reproduzido, Vítor Aguiar e Silva. Para além da leitura de outros trabalhos que
o Professor Vítor Aguiar e Silva foi publicando, comprei este seu último livro.
Bendita aquisição, no meio de tanto disparate, fornecendo em
tom ligeiríssimo e falando sobre assuntos sérios, para captar a motivação de
leitores de redes sociais e quejandos, sem reconhecer que a condição de
professor de uma Universidade deveria ser motivo suficiente para não rebaixar,
de forma infame, o estudo da literatura e da língua.
Mas vamos ao essencial, a saber, à qualidade de um espaço,
de um tempo e de uma exigência que continua a proporcionar o pensamento e a
reflexão.
Vítor Aguiar e Silva debruça-se, então, neste seu último
livro, sobre assuntos teóricos e práticos, i.e., de leituras concretas de
autores e obras.
Na primeira parte de «Ensaios de Teoria Literárias»
reencontrei-me nessa elevação do pensar e reflectir sobre o Universo, partindo
de leituras – da Antiguidade Clássica até aos Modernos – com um domínio de
erudição admirável e invejável, por uma capacidade de transmitir fenómenos,
conceitos, escolas e tendências com uma clareza rara, mas obviamente assente
numa sólida formação humanística.
Não vale a pena dizer que, neste momento, o estudante
universitário, se quiser, terá poucos autores para se instruir com maior sabedoria
e proveito.
Das leituras do livro de Vítor Aguiar e Silva apenas se
transcreve uma máxima para finalizar este texto.
Falando de um escritor dinamarquês, Georg Brandes, diz o autor
o seguinte:
“O público em geral, com deficiente educação literária, mal
informado e com limitada capacidade de julgamento, deixa-se seduzir pelo
barulho dos pregoeiros do mercado ou pelos charlatões mais ou menos
carismáticos. (... continuando para
sublinhar) a homogeneização neutralizadora da escrita induzida por um mercado
cujos milhões de clientes-leitores espalhados por todo o mundo consomem uma
literatura estandardizada, sem densidade estética, histórica e social,
desenraizada e falsamente cosmopolita,”
E foi assim, com agrado, o reencontro com a qualidade e no
“Felizmente há Luar”.
Post de HMJ