Princípios e Valores
Uma cópia, do ponto de vista linguístico ou da História do Livro, representa uma imitação de um texto anterior, frequentemente, sem consentimento do autor original. Portanto, primeira infracção a um princípio básico, i.e., o respeito pelo autor do texto. No entanto, o roubo da propriedade intelectual alheia, ou seja, a cópia abusiva, não parece motivo para penalizações. A iniciação ao "copianço" - eufemismo encontrado para amenizar o delito - começa cedo e, com complacências várias ao longo da vida, pode chegar ao título académico supremo como têm demonstrado alguns casos recentes.
O "copy-paste" tornou-se um expediente normal. Passaram à categora de "inflexíveis, autoritários e quejandos" todos aqueles que defendem o mesmo estatuto para a propriedade intelectual como para a propriedade material, ou seja, o respeito pelo bem alheio. A citação, ou seja, uma cópia de um pensamento alheio, até tem um recurso simples, o uso das aspas. Sucede, contudo, que o rigor no cumprimento de princípios éticos, mesmo nos considerados pormenores, se tornou obsoleto, motivo de troça e incompreensão.
O passo seguinte será, numa escala de grau, a cópia fraudulenta, em benefício próprio, de um pensamento alheio ou do aproveitamento de estudo/trabalho/esforço alheio. A infracção ao princípio ético é, no entanto, idêntico, à falta de respeito pelo bem alheio, agravada pelo grau de instrução, idade e responsabilidade cívica do infractor.
Ora, uma sociedade que assenta a sua educação no princípio de "o Estado não pode(r) atribuir-se o direito de programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas" - (cf. Lei de Bases do Sistema Educativo) - tem, forçosamente, de confundir tudo. Uma tal sociedade, sem princípios nem directrizes, pretende, certamente, formar "gente", ao contrário de uma cidadania que implica, no minimo, o respeito por deveres e o gozo de direitos inerentes.
Esse mesmo Estado tem sido incapaz de orientar a educação para o essencial, i.e., o pensar e em todas as áreas do saber, científico e humanístico. Permanece a velha tradição de "encornar" para depois "despejar" nos exames, prática com uma directriz filosófica, estética, política e ideológica muito precisa, i.e., amputar, à nascença, o pensamento próprio. Ora tal prática encontrou um expediente óptimo. "Os testes à americana!" São recursos excelentes para reduzir, ao mínimo, o trabalho e a responsabilidade do professor. Numa ânsia perversa de orientar a avaliação por uma objectividade sem limites, as "cruzinhas" apõem-se a coordenadas pré-pensadas - tipo exame de condução em que a escolha ínvia e ilógica substitui o próprio raciocínio - terreno fértil para o "copianço", sobretudo quando os professores não sabem fazer "espelhos da sala" para fiscalizar, posteriormente, passagens ilícitas de marcação de respostas.
Os professores vigilantes do CEJ não devem conhecer esses "pequenos truques".
Sabem, ao que parece, responsabilizar falhas aos docentes em níveis de ensino precedentes.
Com efeito, o que está em causa é a completa ausência de princípios básicos em todo o sistema de Educação do país, assumido em plenitude na sua Lei de Bases. Daí decorre a indigência na prestação - nas provas e na vida - de toda uma sociedade, com especial destaque para aqueles que se arrogam o direito de falar em justiça.
Entre outros bens, não haverá justiça num país em que o princípio básico da educação não é o pensamento próprio. Mais do que o "copianço" de futuros adminstradores de justiça, o país deverá preocupar-se com "gente certificada" e carente do bem humano essencial mais estimável: o pensamento.
Post de HMJ