O ex-libris é, muitas vezes, a súmula de um ideal ou um programa de vida feito, normalmente, já a meio dela.
Recordo o de Aquilino Ribeiro, com a imagem de um cavaleiro a galope e a frase: "Alcança quem não cansa". Ou o de uma pessoa (M. R. de S.) de boa memória, para mim, e já falecida. Foi advogado, depois de ser capitão da marinha mercante. O seu pequeno ex-libris tinha a imagem de um barco de velas desfraldadas e a palavra: "Vercalfir". Eram as letras iniciais, explicou-me ele, das palavras: Verdade, Calma, Firmeza.
Apercebi-me, há dias, com maior atenção, do ex-libris de Georges Simenon. Na imagem, tem uma árvore e um homem (Adão?), em primeiro plano, e atrás, ao fundo, do lado direito, um segundo homem. E uma frase: "Comprendre et ne pas juger". Esta frase poderia aplicar-se por inteiro à maneira de ser do Inspector Maigret, que procurava sempre perceber as razões do crime, mas raramente julgava, do ponto de vista moral, a atitude do criminoso. Deixava isso ao livre arbítrio do leitor.
Não conhecia e achei muito interessante a frase.
ResponderEliminarTambém achei a frase muito curiosa, MR.
ResponderEliminarTambém não conhecia, nem imagem, nem frase. O Ex libris não deixa de ser apelativo à imaginação. A parte negra da imagem será para deixar dúvidas se é mulher ou homem? O coração que está na mão veio da bi-(personagem) do fundo ou parte para ela (?). Existe um coração voando e o corpo do fundo tem coração (o que não acontece com a imagem em primeiro plano). Talvez o significado esteja escondido na árvore. O lado jovem (com folhas) e o lado velho (só com troncos)... curiosamente a frase está na idade madura. O mais velho compreende melhor... e julga menos do que o mais novo (?). O mais velho tem mais ternura (ou sabe manifestar essa ternura de uma forma mais evidente) ? Ou julga com mais paixão... São só interrogações?
ResponderEliminarInfelizmente o primeiro texto perdeu-se... estava mais sentido porque era o primeiro impulso.
Achei estimulantes, JAD, as interrogações do seu comentário, que agradeço.
ResponderEliminarConcordo, inteiramente, com a sua interpretação da árvore com folhas (juventude/Primavera) e seca, na velhice, com os troncos já despidos.
Mas vejo também os dois homens e a árvore como a expulsão do Paraíso e a árvore da Sabedoria, de conotação bíblica. Não me parece ou, do meu ponto de vista não acho que haja ambiguidade de género, nas figuras: em apoio, as ancas (figura do 1º plano) são de contorno e recorte nitidamente masculino e o sexo é, relativamente, definido. Lado negro e lado branco nas Figuras, vejo-os mais como: claridade (exterior) e a escuridão (interior), e aqui, sim, julgo haver ambivalência do ser.