quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Filosofias



Pese embora ser polémico afirmá-lo, tenho para mim que a filosofia portuguesa é uma sub-espécie europeia, residual, para não dizer: inexistente. Romance de ideias também é coisa que mal existe, ou existiu entre nós. Tivemos, na verdade, alguns artistas que pensaram, literariamente: Sá de Miranda, Francisco Manuel de Melo, Herculano, Antero, Pessoa, Sena - mas fizeram-no, sobretudo, através da poesia que escreveram. Em prosa, pouco mais temos, decerto, além de Francisco Sanches, D. Duarte, Matias Aires, Leonardo Coimbra, Vergílio Ferreira e Eduardo Lourenço, no ensaio. Só com enorme benevolência acrescentaríamos Teixeira de Pascoaes e António Sérgio, cujas obras não me parece terem consistência e densidade filosófica suficiente.
Veio isto à colação por me ter posto a ler (ou reler?) a obra "Escrever", de Vergílio Ferreira (1916-1996) livro póstumo, saído em 2001. Dele deixo, aqui, algumas citações avulsas que me mereceram alguma atenção e sublinhado:
" 72. A cultura, como a religiosidade, tem os seus verdadeiros crentes e os seus devotos festeiros. Os crentes comungam nela o sagrado. Os devotos tocam-lhe charangas e deitam-lhe foguetes."
" 82. ...E o problema obscuro que se insere no caso e explica a generalizada fascinação (pelos dinossauros) é esta simples pergunta que se ignora e ninguém faz: que significa haver Deus no tempo dos dinossauros em que o homem não existia e se ele não viesse a existir? Mais nada."
" 107. Que vocábulos estão morrendo no nosso tempo? Porque em todas as idades foram morrendo alguns. Uns porque morreram os motivos deles e outros sem razão ou a só razão da sua decrepitude. ..."

4 comentários:

  1. Gostei especialmente da frase sobre a cultura.

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  2. Das 3 citações também me parece amais objectiva.
    E, se ainda for a tempo (?), boas férias, Margarida.

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  3. Também me parece que a "filosofia portuguesa" é inexistente. E é mesmo bom que seja porque o calibre dos "pensadores" que andam por aí auto-proclamando-se como tal é fresco.

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  4. Não vou citar nomes...mas concordo inteiramente consigo, em relação ao presente.

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