Voltamos lá, ontem.
O perfil, a 3/4, não fora um pouco de volume a mais, poderia ser o do Engenheiro: o mesmo cabelo fino já rareando, o nariz, levemente arqueado, o tom de pele emaciado e claro, quando a luz batia nas feições. Mas o Engenheiro fora-se em Setembro/Outubro de 84 e nunca poderia ali estar, de novo, com os seus quarenta e poucos anos, sem a Cláudia e o Hugo.
Nessa altura, o Luís, de mangas arregaçadas, grelhava e suava, o Sr. Carlos atendia, solícito e rápido (havia quem lhe chamasse o "Speedy Gonzalez"); o Leonel, que vinha fazer um biscate, ao fim-de-semana, fingia actividade gesticulando muito, por entre as mesas. Enquanto a Dona Filomena, de avental e mãos atrás das costas, inspeccionava o serviço. A irmã solteira, Maria do Amparo, com as lentes garrafais de criança infeliz, compunha os óculos grossos e ia atendendo os copinhos de três, no balcão ao lado. A cunhada Rosa, essa, era a trenga da família, e parecia ter vindo de outro mundo...não fora o avental.
O restaurante, meio ao ar livre, ficava numa esquina das 2 estradas que levavam à praia. Enchia ao fim-de-semana, porque o peixe era sempre fresquíssimo, no Verão, módicos os preços, e as uvas tintavam, sobre as nossas cabeças, na ramada verde que nos trazia sombra amena, quebrando o sol rigoroso. E havia, quase sempre, o par feliz que se sentava na mesa baixa do centro, habitualmente reservada, para eles, pelo Sr. Carlos ou pelo Luís, antes das enchentes. Vinham a pé e eu acompanhava-os, com o olhar, até chegarem.
Entre os empregados do restaurante, recordo-me que lhes chamavam: "o casal". E julgo que eles teriam gostado muito, se o soubessem, deste substantivo comum que os irmanava de afecto. Nos idos de 80...
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